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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

‘Povo das cavernas’ – Palestinos levam sua luta por justiça até as montanhas

Cidadão palestino Ahmed Amarneh em sua residência esculpida na caverna, na aldeia de Farasin, Cisjordânia ocupada, 11 de agosto de 2020 [Shadi Jarar’ah/Apaimages]
Cidadão palestino Ahmed Amarneh em sua residência esculpida na caverna, na aldeia de Farasin, Cisjordânia ocupada, 11 de agosto de 2020 [Shadi Jarar’ah/Apaimages]

Os palestinos não vão a lugar algum. Esta é a essência de sete décadas da luta palestina contra o colonialismo sionista. A prova? A história de Ahmed Amarneh.

Amarneh, de 30 anos, engenheiro civil da aldeia de Farasin, norte da Cisjordânia, vive com sua família em uma caverna. Por muitos anos, a família Amarneh tentou construir uma casa mais adequada, mas seus pedidos foram negados reiteradamente pela ocupação militar israelense.

De muitas formas, a luta dos Amarnehs representa um microcosmo da luta coletiva de Farasin; de fato, da grande maioria dos palestinos.

Aqueles desafortunados o bastante para não residirem nas áreas da Cisjordânia designadas pelos Acordos de Oslo, em 1995, como Área C, foram abandonados em um eterno limbo.

A Área C abrange quase 60% do território total da Cisjordânia. É uma região rica em recursos naturais – terras aráveis, água e minerais diversos. Ainda sim, relativamente pouco povoada. não surpreende que a direita e extrema-direita israelense, representadas pelo premiê Benjamin Netanyahu, desejam anexar toda a região. Mais terras, menos palestinos – esta é a diretriz fundamental do colonialismo sionista desde o princípio.

Verdade, o plano de anexação de Netanyahu, ao menos seu elemento de jure, foi postergado, por ora. Na prática, contudo, a anexação de fato ocorre há muitos e muitos anos e, ultimamente, acelerou. Em junho, por exemplo, Israel demoliu trinta casas palestinas na Cisjordânia ocupada – a maioria, na Área C –, desabrigando mais de cem cidadãos palestinos.

Além disso, segundo o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), tratores do exército israelense destruíram 33 estruturas não-residenciais na Cisjordânia. Trata-se “do mesmo número [de casas] demolidas ao longo dos cinco primeiros meses de 2020”, reportou a agência da ONU.

LEIA: Israel força família palestina a demolir sua própria casa, sob ameaça de duras multas

Infelizmente, Farasin – como diversas outras aldeias e comunidades palestinas por toda a Área C – foi escolhida para destruição completa. Uma pequena população de aproximadamente 200 pessoas foi submetida a abusos por parte do exército israelense, por anos e anos. Israel de fato deseja e planeja impor cada vez mais comunidades exclusivamente judaicas no coração da Cisjordânia ocupada. Contudo, paralelamente, busca obstruir qualquer chance de crescimento natural das comunidades palestinas, que representam o povo nativo da Área C ocupada.

Em 29 de julho, forças israelenses invadiram Farasin, aterrorizaram residentes e submeteram ao menos 36 ordens de demolição, segundo o chefe do conselho da aldeia. O processo representa as fundações da limpeza étnica de toda a população local, por Israel.

Residência esculpida na caverna pelo cidadão palestino Ahmed Amarneh, na aldeia de Farasin, Cisjordânia ocupada, 11 de agosto de 2020 [Shadi Jarar’ah/Apaimages]

Residência esculpida na caverna pelo cidadão palestino Ahmed Amarneh, na aldeia de Farasin, Cisjordânia ocupada, 11 de agosto de 2020 [Shadi Jarar’ah/Apaimages]

Ahmed Amarneh e sua família também receberam uma ordem de demolição, embora sequer habitem em uma construção de concreto, mas sim em uma caverna natural nas montanhas. “Eu não fiz a caverna. Ela existe desde a antiguidade”, relatou a repórteres. “Não compreendo como podem me impedir de viver em uma caverna. Animais vivem em cavernas e não são expulsos. Então que me tratem como um animal e deixem-me viver!”

A denúncia emocionada de Amarneh é bastante precisa. Em relatório recente, a organização de direitos humanos israelense B’tselem listou alguns dos métodos falaciosos da ocupação israelense para remover palestinos de suas casas, na Área C, ou para bloquear qualquer forma de desenvolvimento das comunidades palestinas.

“Israel impede o desenvolvimento palestino ao designar grandes porções da terra como propriedade estatal, área de pesquisa, zonas de disparo, reservas naturais e parques nacionais”, reporta a B’tselem. A julgar pela destruição sistemática dos ecossistemas palestinos na Cisjordânia ocupada, Israel dificilmente está interessado na preservação ambiental, sequer de seus animais. O objetivo final é alocação de “terras para assentamentos e seus conselhos regionais”, argumenta a B’tselem.

Portanto, não deve surpreender que, por exemplo, em novembro de 2017, apenas dezesseis das 180 comunidades na Área C tivessem algum projeto de desenvolvimento aprovado pelas autoridades de Israel. O restante está estritamente proibido de se desenvolver.

Entre 2016 e 2018, das 1.485 solicitações palestinas por construção e desenvolvimento nestas áreas, apenas 21 alvarás foram aprovados.

Tais medidas insustentáveis e draconianas deixam famílias palestinas sem qualquer alternativa senão construir sem permissão, sob risco eventual de tornarem-se alvos dos tratores do exército israelense.

LEIA: Israel demoliu 313 casas palestinas na Cisjordânia e Jerusalém em 2020

Centenas de famílias, como de Ahmed Amarneh, optaram por outras soluções. Sem conseguir obter a autorização e cientes da iminente demolição, caso construíssem uma casa para si, decidiram simplesmente mudar-se às montanhas.

O fenômeno se manifesta, em particular, nas regiões de Hebron (Al-Khalil) e Nablus.

No sertão montanhoso localizado nos arredores de Nablus, as ruínas de casas abandonadas – algumas demolidas, outras não terminadas – é testemunho de uma guerra em curso entre o exército israelense, por um lado, e o povo palestino, por outro. Uma vez perdida a batalha, sem qualquer alternativa, muitas famílias palestinas deixam para trás seus pertences e fogem em direção às cavernas, em busca de um lar.

Com frequência, a luta não acaba ali. Comunidades palestinas, especialmente nas colinas de Hebron, voltam a enfrentar sucessivas ordens de despejo. A guerra pela sobrevivência palestina assim continua.

O caso de Ahmed Amarneh, contudo, é particularmente único, pois raro ou sem precedentes: Israel não costuma emitir ordens militares para demolir cavernas naturais. Quando a caverna for demolida, para onde poderá ir a família Amarneh?

Este dilema, sintoma do amplo sofrimento palestino, nos recorda o poema seminal de Mahmoud Darwish, “A terra se fecha sobre nós”:

Onde deveremos ir após as últimas fronteiras?

Onde voarão os pássaros após o último céu?

Onde dormirão as plantas após o último sopro de ar?

Por mais deprimente que seja a realidade, a metáfora é indubitavelmente poderosa. O colonialismo selvagem não conhece limites e a resistência palestina (sumoud) nos parece perpétua.

Frequentemente soterrada por detalhes técnicos da opressão – Área C, demolição de casas, limpeza étnica, assim por diante –, de fato, é a tenacidade do espírito humano, a mesma da família Amarneh e de centenas de famílias palestinas, que transformou cavernas em lares calorosos. É a perseverança sem igual que torna possível a luta por justiça na Palestina ocupada, apesar dos incontáveis obstáculos.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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