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Autoridade Palestina condena Balfour mas mantém o comprometimento de dois estados

Palestinos protestam no 100° aniversário da Declaração Balfour, que determinou o compromisso britânico à criação de um estado sionista, em Nablus, Cisjordânia ocupada, 2 de novembro de 2017 [Jaafar Ahtiyeh/AFP/Getty Images]
Palestinos protestam no 100° aniversário da Declaração Balfour, que determinou o compromisso britânico à criação de um estado sionista, em Nablus, Cisjordânia ocupada, 2 de novembro de 2017 [Jaafar Ahtiyeh/AFP/Getty Images]

Os surtos anuais da Autoridade Palestina contra a Declaração Balfour não condizem com suas políticas. O documento que normalizou a colonização da Palestina foi publicado em 2 de novembro de 1917. Os palestinos muito corretamente enxergam o comunicado britânico como uma das causas de seu sofrimento hoje. A Autoridade Palestina, contudo, não parece ser capaz de ligar os pontos entre a história e a política contemporânea. Se Balfour concede ímpeto vital às perdas de terras e ao deslocamento do povo palestino, o chamado consenso de dois estado reafirma sua política inerente. Porque então a Autoridade Palestina, todo novembro, condena um aspecto – a Declaração Balfour – enquanto reitera o outro – a “solução” de dois estados? Caso o primeiro seja digno de repúdio, a lógica diz que também é preciso rejeitar o outro.

Diante do chamado “acordo do século” dos Estados Unidos, tais contradições da Autoridade Palestina mostram-se ainda mais prejudiciais ao povo palestino, que preserva uma compreensão da importância de um processo político capaz de considerar essencialmente a história e a memória da Palestina ocupada. Por outro lado, a liderança ainda desvaloriza a história, ao reciclá-la para sua rememoração anual da declaração britânica e continuar a falhar perante qualquer resposta contundente às violações contínuas de direitos humanos pelo estado sionista, parte do longo processo colonial do qual Balfour é elemento importante.

Se a Declaração Balfour introduz aprovação formal ao projeto colonial sionista, o mesmo ocorre com o comprometimento de dois estado e o “acordo do século”. Hanan Ashrawi, membro de destaque da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), acusou o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump de ressuscitar a “mentalidade contestável da Declaração Balfour ao impôr-se à política dos Estados Unidos e à lei internacional sobre a Palestina”. Balfour, dois estados, acordo do século estão todos conectados, e devem enfrentar resistência como tal.

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Trump de fato mostrou-se mais explícito, mas pode ser algo relativo, dado que a Autoridade Palestina normalizou o paradigma de dois estados e sua aceitação da colonização israelense, embora repudie o “acordo do século”. Não há ainda qualquer discussão cujos palestinos são protagonistas sobre como as perdas de território adicional são resultado direto da construção e refinamento do projeto de expansão colonial israelense. O Reino Unido defende a solução de dois estados, mas jamais emitiu uma desculpa formal por seu papel na colonização da Palestina pelo estado sionista. A Autoridade Palestina pode até perceber isso como contradição, ao manter-se claro que a postura perseverante britânica ainda retrata a própria Declaração Balfour. O mesmo vale à comunidade internacional.

A ONU declara: “O papel pivotal da Declaração Balfour em virtualmente todos os estágios da questão palestina são pode ser subestimado”. Dado que Balfour omitiu deliberadamente qualquer referência direta ao povo palestino, é claro ainda que os sionistas que pressionaram pelo comprometimento do governo britânico pretendiam erradicar a identidade palestina e a própria presença da população nativa de suas próprias terras. Trata-se de uma tendência que resistiu à prova do tempo e foi assimilada pela comunidade internacional.

Caso a Autoridade Palestina visse a imposição de dois estados como de fato é – um plano para impedir os palestinos de construir um estado palestino; sobretudo, para obstruir sua libertação –, suas críticas a Balfour poderiam ser levadas mais a sério. Em seu discurso virtual ao Conselho de Segurança da ONU, em outubro, o Ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina Riyad Al-Maliki afirmou: “É hora de abandonar as receitas que falharam no passado”. Contudo, a Autoridade Palestina efetivamente recorre a alguns erros do passado para insistir em seu fracasso diante da Palestina e do povo palestino, sem sequer reconhecer seu próprio papel na manutenção da colonização. Seja como for, é preciso denunciar as violações inscritas na Declaração Balfour; porém, é antes urgente responsabilizar a Autoridade Palestina por facilitar a colonização em curso da Palestina pelas mãos de Israel.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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