Na década de 60, a agência central de inteligência dos Estados Unidos (CIA) planejou dois esquemas para matar os líderes cubanos Fidel e Raúl Castro, segundo documentos desclassificados pela ONG americana National Security Archive (Arquivo de Segurança Nacional). Os esquemas foram divulgados na sexta-feira (16), dia em que Raúl Castro anunciou oficialmente a sua aposentadoria do cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista.
A primeira tentativa conhecida de assassinato da CIA contra líderes da revolução cubana foi contra o irmão mais novo de Fidel em 1960, quando um agente da CIA ofereceu $10 mil ao piloto cubano de um avião civil que transportava Raúl Castro de Praga a Havana, para “orquestrar um acidente”.
O piloto, José Raul Martinez, que já havia sido recrutado pela CIA antes como um ativo de inteligência em Cuba, informou seu dirigente da CIA em Havana, William J. Murray, que pilotaria um avião fretado da Cubana Airlines a Praga para buscar Raul Castro e outros líderes cubanos de alto escalão, em 21 de julho de 1960. Murray informou seus superiores na sede da CIA, que, segundo ele, responderam estar “considerando a possibilidade de um acidente fatal” e “se o piloto estaria interessado”. Eles ofereceram $10 mil ou “uma demanda razoável superior a isso”, e garantiram facilidades de resgate do piloto após o “acidente” ter ocorrido.
A proposta foi discutida em um carro, enquanto Martinez dirigia para o aeroporto de Havana para voar até Praga. O piloto pediu a garantia que, em caso de sua própria morte, os EUA garantiriam educação universitária a seus dois filhos. A garantia foi dada por Murray, ele reportou a sede após o encontro que o piloto estava “disposto a assumir riscos calculados, mas limitado as seguintes possibilidades que poderiam passar como acidentais: queima do motor na decolagem para atrasar ou impedir a viagem e vaga possibilidade de vazamento de água a aproximadamente três horas de Cuba”. Ele relatou que o piloto excluiu “falha do motor em voo devido ao perigo iminente de incêndio e falta de oportunidade para salvar qualquer passageiro ou tripulação” e tinha dúvidas sobre “a capacidade de realizar um acidente real sem colocar em perigo a vida de todos a bordo”.
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Depois de iniciada a viagem, a CIA tentou cancelar o plano, mas não havia mais como comunicar ao piloto. Entretanto, quando voltou, Martinez informou que “não teve a oportunidade de organizar um acidente” como o discutido.
Essa “trama do acidente” contra Raúl Castro foi descrita em um relatório do comitê do Senado que abordou supostas conspirações para assassinar líderes estrangeiros, publicado em 1976. O relatório afirmou ser “a primeira ação contra a vida de um líder cubano patrocinada pela CIA de que o Comitê tem conhecimento”, mas não revelou que envolvia um avião civil e que o possível assassino seria o piloto.
Algumas semanas após o complô contra Raúl, a cia autorizou outra tentativa de assassinato, dessa vez contra o líder Fidel Castro. Em agosto de 1960, o diretor de operações secretas da CIA, Richard Bissell, principal funcionário da CIA encarregado da operação da Baía dos Porcos, autorizou uma missão para a “liquidação de Fidel Castro”, descrita como uma “uma missão sensível que requer uma ação do tipo gangster”. A intenção era “aumentar as chances de sucesso para o programa contra-revolucionário da CIA de derrubar seu regime”.
A agência desenvolveu seis unidades de uma pílula, que seriam misturadas a algum alimento ou bebida de Fidel, com “alto conteúdo letal e pouca ou nenhuma rastreabilidade”. Foi solicitado o desvio de mais de US$150 mil para pagar uma máfia que organizaria o assassinato de Castro usando as pílulas envenenadas. O plano foi cancelado logo depois da derrota na Baía dos Porcos, quando tropas revolucionárias derrotaram um grupo anticastrista, financiado e treinado pela CIA, que tentava invadir Cuba e derrubar o governo de Fidel Castro.
A ONG publicou os documentos por ocasião do 8º Congresso do Partido Comunista de Cuba no 60º aniversário da invasão da Baía dos Porcos, quando a “era Castro em Cuba chega a um fim formal” com a aposentadoria de Raúl Castro. Peter Kornbluh, diretor do projeto Cuba da National Security Archive, disse que “assim como a derrota dos invasores liderados pela CIA na Baía dos Porcos marcou uma virada histórica para a jovem revolução, o início oficial da era pós-castrista marca uma grande virada para o futuro de Cuba”.
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