Em entrevista ao jornal Financial Times, Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), alertou que o Irã está enriquecendo urânio a níveis “alcançados apenas por países que fabricam bombas”.
Segundo o chefe da entidade das Nações Unidas para monitoramento das atividades nucleares, a situação é “bastante preocupante”, pois o programa atômico iraniano tornou-se mais sofisticado do que dois anos atrás.
“O enriquecimento a 60% é quase nível militar”, esclareceu o especialista. “O enriquecimento para fins comerciais é de apenas 2.3%”.
Grossi reconheceu o “direito soberano” do Irã de desenvolver sua pesquisa, mas reiterou que a porcentagem atual de enriquecimento de urânio requer vigilância.
A maioria das medidas tomadas por Teerã pode ser revertida com razoável facilidade, destacou; porém, o nível de desenvolvimento em curso é um problema.
“Não é possível voltar atrás, uma vez que haja conhecimento; a única solução é monitorar”, observou. “O programa iraniano cresceu e tornou-se sofisticado, então um retorno linear a 2015 não é mais possível. O que podemos fazer é manter as atividades abaixo dos parâmetros”.
Os comentários do diretor-geral da AIEA devem causar preocupação aos Estados Unidos e Europa, que buscam reparar os danos causados pelo ex-presidente americano Donald Trump.
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Em 2018, o republicano revogou unilateralmente o Plano de Ação Conjunto Global — conhecido como acordo nuclear iraniano —, promovido por seu predecessor Barack Obama.
O atual presidente Joe Biden corre contra o tempo para renegociar o acordo.
Na terça-feira (25), Ali Rabiei, porta-voz do governo iraniano, expressou otimismo sobre um eventual consenso com as potências globais, a fim de restaurar em breve o acordo nuclear de 2015, embora prevaleçam ainda “sérias questões”.