O Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu conduz seus últimos esforços para tentar impedir que o líder da oposição Yair Lapid componha um novo governo no país. A proposta do premiê ao líder do partido Nova Esperança, Gideon Sa’ar, para formar um governo tripartite, no qual ambos alternariam o cargo máximo de governo com o líder do partido Yamina, Naftali Bennett, foi sumariamente rejeitada.
Netanyahu é o premiê israelense há mais tempo no cargo. Agora enfrenta um desafio real que não apenas ameaça seu futuro político como o deixa exposto a seu julgamento e sua eventual prisão por corrupção. Seu futuro como líder do partido Likud também está em risco. Caso condenado, seguirá os passos de outro ex-premiê israelense, Ehud Olmert.
Negociações para compor um governo de coalizão — nenhum partido possui a maioria necessária no Knesset (parlamento) para assumir uma gestão unipartidária — permanecem em curso. Após as eleições inconclusivas de março, Netanyahu não foi capaz de reunir uma coligação. O Presidente de Israel Reuven Rivlin então incumbiu Yair Lapid de fazê-lo, em 5 de maio. Menos de uma semana depois, Netanyahu mexeu com os ânimos regionais ao lançar mais outra ofensiva majoritária contra os palestinos em Gaza, na tentativa de convencer a todos que ele e apenas ele representa o homem forte que Israel tanto precisa.
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Contudo, continuou incapaz de convencer outros partidos de extrema-direita a juntar-se ao seu governo, apesar de controlarem coletivamente 72 assentos no Knesset. Tornou-se claro, portanto, que mesmo o campo da extrema-direita israelense está dividido. Não apenas Sa’ar rejeitou a aproximação de Netanyahu, mas também o fez seu antigo adversário e aliado Avigdor Lieberman, líder do partido Yisrael Beiteinu, assim como o caprichoso Bennett, do Yamina. Além das acusações de corrupção contra Netanyahu, há divergências de natureza político-ideológica bastante específicas, relacionadas à posição do Yisrael Beiteinu sobre os judeus ultraortodoxos em Israel.
O então premiê precisava somente de dois outros assentos para obter a maioria necessária de 61 parlamentares, de modo que Bennett parecia incapaz de resistir à tentação. Porém, Netanyahu fracassou ao preservar o trunfo da Lista Árabe, com o qual contava, pois coligar-se aos cidadãos palestinos de Israel seria inaceitável ao bloco do Sionismo Religioso. A aliança de parlamentares árabes tenta há tempos vincular-se sobretudo a grupos de esquerda, a fim de refletir a força dos cidadãos palestinos nos territórios ocupados em 1948 — isto é, durante a Nakba ou “catástrofe”, via limpeza étnica. Seus membros no Knesset conquistaram pouco a pouco uma influência razoável no governo, principalmente devido às diferenças no campo de direita. Não obstante, são partidos próximos a alianças com o sionismo de esquerda e centro, devido à escassez de alternativas dentro do ambiente de direita e extrema-direita que prevalece na política israelense.
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No momento, o cenário mais provável é um “governo de mudança” com Bennett e Lapid alternando a cadeira de primeiro-ministro, mas ainda demanda o consentimento do próprio Knesset. Seria um golpe severo a Netanyahu, tanto pessoal quanto politicamente. Todavia, analistas da política israelense alertam que a questão está longe de estar consolidada e ainda é cedo demais para comemorar a queda de Netanyahu. Mesmo que um novo governo seja anunciado, a estrada à frente é longa e árdua.
“Um navio tão estranho não chegará a um porto seguro mesmo após outros acordos de coalizão serem assinados”, escreveu Yossi Verter ao jornal israelense Haaretz. “Apenas no dia de posse do governo, após o último parlamentar registrar seu voto, saberemos se Israel tem uma nova gestão. Isso não acontecerá antes da próxima segunda-feira”.
Vale notar que a maioria disponível até então para conceder apoio a um governo Bennett-Lapid é de apenas 57 membros do Knesset, que podem aprovar a coalizão desde que os parlamentares árabes se abstenham do voto. Caso quatro legisladores da Lista Árabe Unida votem a favor da nova administração, somente assim, haverá a maioria definitiva de 61 assentos. A Lista Árabe Conjunta (seis parlamentares) não divulgou nenhuma posição e a União Nacional Democrática (um parlamentar) recusou-se a apoiar a proposta. Se dois legisladores desertarem de último minuto, não importa o partido, em favor de Netanyahu, será o bastante para reverter a conjuntura e o premiê teria assim os 61 assentos tão cobiçados.
Netanyahu tenta assim bloquear de toda forma a concepção de um “governo de mudança”, ao utilizar cada truque ainda ao seu dispor. É preciso cautela, à medida que a possibilidade de uma quinta eleição em pouco mais de dois anos continua presente. De fato, seria a alternativa escolhida por Netanyahu, ao invés de um governo Bennett-Lapid.
Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Addustour, 2 de junho de 2021
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