Em 7 maio de 2020, o então embaixador do Brasil em Israel, Paulo Cesar Meira de Vasconcelos, enviou um telegrama ao Itamaraty afirmando que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu via um “risco real” do presidente brasileiro Jair Bolsonaro ser investigado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia por “genocidio de povos indígenas” e estaria disposto a trocar apoio. O documento foi obtido pela TV Globo, no sábado (12) e está entre os ofícios enviados à CPI da pandemia.
No documento, revelado pelos repórteres Yasmim Perna e Alexandro Martello da Globo, Vasconcelos fala de uma reunião de dezembro de 2019, entre uma autoridade política brasileira e Netanyahu, em que o primeiro-ministro pede o apoio do Brasil em processos do tribunal de Haia, já que “quando todo mundo estava contra o Brasil durante incêndios da Amazônia, Israel apoiou o Brasil”. Ele também diz que o apoio seria mútuo, já que “há risco real de que o presidente Bolsonaro venha a ser investigado naquele Tribunal por genocídio de povos indígenas”.
Ele fala que Bolsonaro poderia ser responsabilizado internacionalmente por “omissão na proteção da Amazônia” e por “crimes internacionais no que se refere à proteção de povos indígenas”.
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Em novembro de 2019, o Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos e a Comissão Arns entregaram ao TPI uma denúncia contra o presidente Bolsonaro por crimes contra a humanidade e atos que levam ao genocídio de comunidades indigenas. No último dia 21 de dezembro, outra denúncia foi feita contra Bolsonaro, pelo chefe da tribo Kayapó, Raoni Metuktire, o líder dos Paiter-Suruí, Almir Suruí, e a associação Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). O tribunal de Aia admitiu a denúncia de perseguição e extermínio de Bolsonaro contra os povos indígenas para investigação da procuradoria.
Na última quarta-feira, o britânico Karim Asad Ahmad Khan QC, assumiu a Procuradoria-Geral do Tribunal de Haia, e ele terá de decidir se abrirá ou não uma investigação preliminar contra Jair Bolsonaro e seu governo.