O Marrocos representa um “dilema civilizacional” para a Espanha, declarou nesta quinta-feira (15) Habib el-Malki, presidente do parlamento da monarquia norte-africana.
Segundo el-Malki, a Espanha sofre “um dilema civilizacional frente ao Reino do Marrocos e jamais foi capaz de lidar com isso”.
O parlamentar marroquino argumentou que diversas cidades históricas no sul do país europeu “se aproveitam de heranças culturais árabes e islâmicas via turismo”.
“Lamento, mas a Espanha ainda vive na era dos Cruzados, não no século XXI”, prosseguiu.
Os comentários de el-Malki ocorrem em meio a tensões diplomáticas entre a antiga metrópole colonial e a monarquia norte-africana.
O presidente do parlamento descreveu a presença recente de Brahim Ghali, líder do grupo separatista saharaui Frente Polisário, em Madri como “provocação”, em detrimento de esforços para solucionar a crise e restaurar a tranquilidade entre as partes.
Em abril, o governo espanhol recebeu Ghali sob suposta identidade falsa, para ser tratado contra o coronavírus.
Em meados de maio, cerca de oito mil refugiados, incluindo menores, viajaram do Marrocos ao enclave espanhol de Ceuta, incidente descrito pela Europa como tentativa da monarquia de pressionar o governo espanhol a expulsar Ghali do país.
No início de junho, o líder saharaui prosseguiu à Argélia, após a Suprema Corte da Espanha rejeitar um pedido de prisão.
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Marrocos e movimentos separatistas disputam a região do Saara Ocidental desde 1975, quando encerrou-se a ocupação colonial espanhola. O confronto armado foi suspenso em 1991, através da assinatura de um acordo de cessar-fogo.
Rabat insiste em seu direito de governar o território, ao propor relativa autonomia saharaui sob soberania marroquina. No entanto, a Frente Polisário reivindica um referendo popular, com apoio da Argélia, que abriga refugiados da região de fronteira.
Não obstante, o cessar-fogo de quase três décadas chegou ao fim no último ano, após o exército marroquino retomar operações na travessia de Guerguerat, zona neutra reivindicada pela coroa e pela autoproclamada República Árabe Saharaui Democrática.
Ao avançar militarmente, o Marrocos “prejudicou gravemente não apenas o cessar-fogo e tratados relacionados como também qualquer chance de uma solução pacífica e duradoura à descolonização do Saara Ocidental”, declarou Ghali em carta à ONU.
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