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“Desde 1948, todas as notícias sobre a Palestina foram tristes”, diz Omar Aziz em live com MEMO e Juventude Sanaúd

O senador Omar Aziz, presidente da CPI da Pandemia e filho de palestino

Fora do Amazonas, onde foi governador e elegeu-se para o Senado, após uma extensa carreira política no interior do Estado,  poucas pessoas sabem da origem palestina do hoje presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz, embora identifiquem sua procedência árabe.

O senador falou sobre isso na live com  MEMO e  Juventude Sanaúd, realizada no dia 16 de agosto.  Entrevistado por uma dupla de articulistas do MEMO, a coordenadora da Juventude Sanaúd, Maynara Nafe e o cientista político Bruno Beaklini, Aziz lembrou as perambulações de sua família após sua chegada ao Brasil a partir da década de 50, até fixar-se em Manaus, duas décadas depois. Seu pai, palestino de Al-Mazraa Al-Sharqiya, pequeno sub-distrito de Ramallah, chegou ao Brasil pela  Bahia, tornou-se mascate, mudou-se para São Paulo e casou-se em 1957 onde Omar nasceu, em 1958, na cidade de Garças. Depois a família seguiu para o Rio Grande do Sul, onde nasceu seu irmão e, de lá, para Brasília. Em 1964, quando houve o golpe que depôs o presidente João Goulart, os Aziz partiram ao Peru, onde viveram durante seis anos, até o grande terremoto de 31 de maio de 1970, na cidade de Chimbote, região de Ancash, tremor de 7.9 seguido de tsunami e desmoronamento de parte da montanha, matando 70 mil pessoas. “Meu pai perdeu tudo”, lembra ele.

A família voltou a São Paulo, mas o pai não teve permissão para entrar no Brasil e precisou fazê-lo pela Venezuela, chegando a Manaus, onde já havia uma comunidade palestina. Na época, por conta dos passaportes emitidos pela Turquia para sírios e libaneses, os árabes eram todos chamados de turcos. Sua família também, embora o passaporte de seu pai, como de outros palestinos à época, fosse jordaniano. Em 1971, a família reuniu-se novamente em Manaus. Treze anos depois, Omar Aziz iniciava sua carreira política pelo PC do B, vindo de um movimento estudantil – na formação em engenharia – que lutava contra a ditadura, por eleições “diretas já”  e tinha a luta palestina e da OLP entre suas bandeiras .

O senador recorda o pai, que perdeu pai, mãe, irmãos,  ouvindo um rádio de oito bandas para ter notícias de fora e resume  os sentimentos desde então: “Desde 1948, todas as notícias sobre a Palestina foram tristes”. De algumas ele recorda bem, como Sabra e Chatila. Mas o drama do povo palestino persiste até hoje.

A questão da identidade árabe-palestina que foi usada pejorativamente no  apelido “O palestino” atriuido ao ativista Omar Aziz pelos arquivos secretos do Serviço Nacional de Informações (SNI), durante as perseguições do regime militar, não ficou apenas no passado. “Desde o 11 de Setembro, ficou muito difícil para um árabe entrar em qualquer lugar do mundo”. Mesmo com passaporte diplomático, Aziz é barrado nos aeroportos para averiguações.  Ele atribui o fato à mistura que se faz entre a luta palestina e o extremismo religioso, que alimenta a discriminação desde a queda das torres gêmeas.

Hoje ocupando um papel de destaque na centralidade dos acontecimentos políticos do país, Aziz acredita que o Congresso precisa se apropriar de mais informações sobre as questões internacionais que envolvem as posições e acordos do Brasil, e tudo que é “feito às escondidas”.

A CPI da Pandemia trouxe revelações que ninguém esperava, ele recorda. Começou buscando esclarecer o atraso do governo na aquisição das vacinas e acabou chegando em negociatas de negacionistas tentando tirar vantagem na compra de vacinas. “O governo tentou desqualificar a CPI mas não conseguiu”, lembra ele. E a CPI mostrou coisas que a sociedade desconhecia. A Comissão de Relações Exteriores, do Congresso, tem o dever de fazer o mesmo nas questões internacionais e trazer tudo à luz.

Aziz criticou as relações de Jair Bolsonaro com os EUA na gestão Trump e com Israel, que não trouxeram, na sua visão, nenhum benefício para o Brasil e, pelo contrário, prejudicaram relações comerciais com o mundo árabe e a China. “Se hoje não estivéssemos vivendo uma pandemia, o Brasil estaria sendo boicotado por muitos países do mundo”, acredita. Ele também não vê benefícios nos acordos militares e está convencido de que Israel não entrega nem vai passar  nenhuma tecnologia de ponta para o Brasil. Nem de vigilância, assnto do momento, considerando que não existe política de segurança no Brasil, com as fronteiras abertas ao narcotráfico e milícias controlando cidades.

Para o senador, não adianta querer resolver tudo com força militar e armas, porque tudo é político. “Alguem tem mais armas que os Estados Unidos? E lá não entra droga o tempo todo? – questiona.

Um grande exemplo, segundo ele, está no Afeganistão: “Os EUA passaram vinte anos e, em dias, (os insurgentes) tomaram tudo.” O que acontece hoje, com a volta do Talibã, deve ter desdobramentos e desencadear novos eventos no Oriente Médio.

 

ASSISTA: MEMO conversa com Milton Temer

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