Os Jogos Olímpicos de Tóquio, realizados neste ano, tiveram uma natureza política, apesar das reiteradas negativas do comitê organizador. As histórias dos atletas palestinos que competiram na capital japonesa são alguns dos melhores exemplos de como apenas participar das competições tem enorme significado.
Dania Nour, nadadora olímpica palestina, é um dos exemplos mais incontornáveis de como algumas pessoas não podem escapar da esfera política, puramente em virtude de sua origem. Dania, não obstante, abraça a situação para inspirar outros não apenas a praticar esportes, mas também a resgatar seu orgulho nacional.
“Carregar a bandeira palestina durante a abertura dos jogos foi um sentimento tão maravilhoso que jamais me esquecerei. Isso me deu ainda mais determinação para continuar a minha jornada e conquistar meus objetivos, apesar das dificuldades”, declarou Dania, questionada sobre como se sentiu ao representar a Palestina nas últimas Olimpíadas.
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Com apenas 17 anos de idade, nascida em Belém, Dania treina na Cisjordânia ocupada com seus técnicos Mohammad Halman e Mousa Nawawreh. Dania é forçada a treinar em uma piscina de somente 25 metros, sem acesso a uma tradicional piscina de 50 metros, como prevê os parâmetros olímpicos. “Não temos piscinas de 50 metros para praticar e não temos especialistas à disposição ou mesmo blocos de partida para natação. Foi a primeira vez que treinei em uma piscina de 50 metros, na véspera dos jogos”.
Contudo, mesmo nadar em uma piscina menor cobre apenas parte do ano na Palestina ocupada, reiterou Dania:
Todo inverno, as piscinas de 25 metros são fechadas, então temos dificuldades em encontrar outra piscina e sequer realizar meu treinamento. Tenho de ir a Ramallah, o que leva três horas de carro, ou atravessar os postos de controle militar nas primeiras horas da manhã, para chegar a Jerusalém. Jerusalém fica mais perto, mas nós — como palestinos — temos dificuldades de obter permissão de passagem nos postos de controle, assim como de viajar ao exterior.
A pandemia criou transtornos ainda maiores ao seu treinamento e, portanto, à sua capacidade esportiva. “Durante a era do coronavírus, tive de parar de nadar por quase um ano, o que reduziu bastante os meus índices. Graças a Deus, conseguimos arranjar um mês de treinamento em Berlim, antes dos Jogos Olímpicos”, relatou Dania.
Alguns dos obstáculos enfrentados por atletas palestinos são “falta de instalações, capacidades, piscinas e equipes técnicas”, além de “não poder viajar livremente dentro e fora do país, o que torna mais e mais difícil a qualquer palestino manter a carreira de atleta”, explicou Dania em nossa entrevista.
“Um nadador palestino precisa de muito mais”, acrescentou. “Sempre vejo as coisas que preciso para me preparar quando viajo para fora do país durante as competições e fico muito triste, porque sei o quão esforçada eu sou, mas não sei sequer se poderei continuar”.
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“Sei que não será fácil para uma menina palestina como eu alcançar meus sonhos, mas decidi jamais desistir, sempre pensar positivo, trabalhar duro e não deixar morrer minha paixão”.
“É muito importante mostrar a cultura palestina em uma arena global e era o que eu queria dessa vez, nas Olimpíadas”, prosseguiu a atleta. “Eu sabia que não estava pronta para vencer e sabia que não tinha treinado o bastante, mas a melhor parte foi carregar a bandeira bem alto e fazer parte desse enorme evento como uma jovem palestina”.
Apesar dos desafios, Dania sabe que sua presença em Tóquio é motivo de orgulho. “Participar das Olimpíadas tornou-se parte da minha vida. Quero agradecer a todos que me apoiaram, minha família, meus amigos e todos nas redes sociais … Minha jornada foi um sucesso por causa do seu apoio e tenho muito orgulho de ser uma inspiração aos jovens do meu país”.
Dania não conquistou o ouro, mas venceu as restrições impostas pela ocupação militar israelense para viajar ao Japão, carregar a bandeira palestina e demonstrar sua resistência e determinação. Não há medalhas eminentes o bastante para os atletas que superam tais dificuldades.