O governo britânico terá de dialogar com Rússia e China para que exerçam uma “influência moderadora” sobre o Talibã, apesar da desconfiança entre Londres e tais regimes, advertiu o Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido Dominic Raab.
As informações são da agência Reuters.
“Teremos de nos engajar com países que detém influência potencialmente moderadora, como Rússia e China, por mais desconfortável que seja”, afirmou Raab ao Sunday Telegraph.
Na última semana, o Talibã capturou a cidade de Cabul, capital do Afeganistão, após uma rápida retirada das tropas dos Estados Unidos, incitando a fuga de milhares de pessoas sob receios de um retorno ao regime fundamentalista de duas décadas atrás.
As relações entre Reino Unido e China permanecem conturbadas sobre diversas questões, incluindo Hong Kong e abusos de direitos humanos contra a minoria uigur.
Por outro lado, laços entre Londres e Moscou estão paralisados desde 2018, quando o ex-espião Sergei Skripal, a serviço do serviço de inteligência britânico MI6, foi envenenado com um agente neurológico de origem soviética, conhecido como Novichok.
A crise diplomática russo-britânica deteriorou-se ainda mais após o regime de Vladimir Putin ordenar a saída de um correspondente da rede BBC em Moscou.
O Reino Unido evacuou 3.821 pessoas de Cabul desde 13 de agosto, segundo o Ministério da Defesa — 1.323 pessoas foram transportadas ao país, incluindo funcionários da embaixada, cidadãos britânicos e refugiados elegíveis à Política de Assistência e Relocação Afegã (ARAP).
Blair condena ‘abandono’ do Afeganistão
Na noite de sábado (21), o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair descreveu o “abandono” do Afeganistão como “trágico, perigoso, desnecessário e não correspondente aos interesses afegãos, muito menos aos nossos”.
Blair — responsável pelo envio de tropas de seu país à guerra afegã, em 2001 — alegou que a decisão de conduzir a retirada tem natureza política e não estratégica.
O ex-premiê insistiu que o Reino Unido tem de refletir bastante após a “pouca ou nenhuma consulta” dos Estados Unidos sobre a política de retirada do Afeganistão.
“Nós britânicos estamos em risco de sermos demovidos à segunda divisão das potências globais”, alertou Blair em artigo publicado ontem. “Talvez não nos importe; ao menos, contudo, deveríamos deliberar antes de tomar tamanha decisão”.
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