Meninos afegãos retornarão às aulas a partir de sábado, declarou o Talibã nesta sexta-feira (17); contudo, sem mencionar o ensino destinado às meninas, reportou o jornal The Guardian.
“Todos os estudantes e professores do sexo masculino devem comparecer às suas instituições de ensino”, declarou o comunicado do grupo fundamentalista islâmico, que retomou o poder no fim de agosto, após a apressada retirada de tropas dos Estados Unidos no país.
Afegãos conversaram com a rede BBC, após o banimento efetivo de estudantes do sexo feminino nos colégios de educação secundária — isto é, entre 12 e 18 anos.
Uma estudante afegã, que sonhava tornar-se advogada, relatou: “Tudo parece muito triste. Todo dia, acordo e pergunto: por que estou viva? Devo ficar em casa e esperar que alguém bata na porta e me peça em casamento? Esta é a razão de ser mulher?”
Uma jovem de 16 anos de Cabul enfatizou: “Queria me tornar médica! E esse sonho já desapareceu! Não acho que vão nos deixar voltar à escola. Mesmo que abram os colégios novamente, não querem que as mulheres sejam educadas”.
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Apesar das alegações do Talibã de que suas leis seguem um código rigoroso do Islã, o Alcorão de fato encoraja a educação das mulheres, ao descrever a busca por conhecimento como “dever islâmico” e retratar com orgulho pensadoras islâmicas ao longo dos séculos.
A esposa do Profeta Mohammed, Aisha, é representada como uma célebre estudiosa muçulmana e reverenciada pela religião como educadora.
Kate Clark, codiretora da Rede de Análise do Afeganistão, reiterou ao The Guardian: “A educação e a alfabetização são tão valorizadas no Islã que o Talibã não pode proibir meninas de estudar sob pretextos islâmicos, então sempre diz que está aberto a fazê-lo quando melhorar a segurança. Jamais melhorou, jamais abriram as escolas”.
Embora o Talibã tenha “permitido” o retorno de mulheres às universidades, a intransigência em segregar os gêneros deve efetivamente prejudicar o ensino, dado que as instituições afegãs carecem de recursos para fornecer salas separadas.
Caso as meninas não possam completar seu ensino secundário, logo não serão capazes de entrar nas universidades.
A medida, não obstante, ocorre após uma forte ofensiva de relações públicas por parte do Talibã para projetar um verniz de legitimidade a seu novo governo. O grupo prometeu honrar os direitos das mulheres “conforme a lei islâmica” — isto é, sua interpretação.
Recentemente, o regime instituído do Talibã proibiu as mulheres de praticar esportes, ao alegar que “não é necessário” que participem das competições. A seleção feminina de futebol do Afeganistão então fugiu ao vizinho Paquistão.
Apesar das promessas do grupo, há relatos de mulheres impedidas de retornar ao trabalho, a despeito das condições asseguradas a seus colegas homens.
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