O Rei da Jordânia Abdullah II está entre os 336 políticos e agentes públicos de alto escalão identificados até então no último escândalo financeiro de contas offshore e uso indiscriminado de paraísos fiscais, nos quais acumulou enorme fortuna pessoal.
Segundo as informações, o monarca de 59 anos gastou mais de US$100 milhões na compra de alguns dos mais disputados bens imobiliários dos Estados Unidos e Grã Bretanha, enquanto seu país permanecia mergulhado em desemprego e austeridade.
Detalhes da fortuna secreta de Abdullah foram revelados neste domingo (3), em meio a um dos maiores vazamentos de dados sobre contas offshore e paraísos fiscais da história.
Denominado Pandora Papers, o trabalho de jornalismo investigativo inclui 11.9 milhões de documentos de empresas contratadas por clientes abastados para criar redes offshore e trustes em paraísos fiscais, como Panamá, Dubai, Mônaco, Suíça e Ilhas Caimã.
A denúncia envolve ao menos 35 líderes globais, incluindo atuais e antigos presidentes, primeiros-ministros e chefes de estado. Também envolve mais de 300 agentes públicos, como ministros, juízes, prefeitos e generais do exército, em mais de 90 países.
Entre os nomes citados, estão o Ministro da Economia do Brasil Paulo Guedes e o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, que mantiveram contas offshore após assumir os respectivos cargos — em violação da lei vigente sobre conflito de interesses.
LEIA: Pegasus e a ciber espionagem israelense no México
Os arquivos foram vazados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), com sede em Washington, que compartilhou acesso aos dados a parceiros da imprensa. Mais detalhes devem ser divulgados nos próximos dias e semanas.
Abdullah é o primeiro chefe de estado do Oriente Médio a ter seu império secreto exposto pelos papéis de Pandora. Foram revelados bens no exterior equivalentes a US$100 milhões, com destaque para propriedades em Malibu, Washington e Londres.
Uma das compras mais controversas envolve três mansões à beira-mar em Malibu, por meio de três empresas offshore, ao custo de US$68 milhões, justamente no momento em que jordanianos tomavam as ruas na Primavera Árabe, contra a corrupção e por democracia.
Embora não haja alegação de atividades ilegais por parte do monarca, o vazamento incitou indignação, em particular dada a crise econômica em curso em seu país.
“A Jordânia não tem tanto dinheiro quanto outras monarquias da região, como Arábia Saudita, para permitir que seu monarca ostente riquezas”, observou a pesquisadora Annelle Sheline. “Caso o rei jordaniano decidisse exibir sua fortuna mais publicamente, não apenas tripudiaria seu povo, como irritaria doadores ocidentais que lhe dão dinheiro”.
Além disso, 565 israelenses foram identificados nos Pandora Papers, entre eles: o ex-Ministro da Justiça Haim Ramon; o parlamentar do Likud, Nir Barkat; e o magnata de diamantes Beny Steinmetz, condenado por propina em um corte de Genebra.
Um acordo entre Tony Blair e uma pessoa não-identificada do Bahrein, que poupou ao ex-premiê britânico cerca de US$423 em impostos, incitou repúdio generalizado.
Chefes de estado e figuras de alto escalão do Oriente Médio foram comprometidas em um escândalo similar cinco anos atrás, no que ficou conhecido como Panama Papers.
Líderes da Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e Iraque foram expostos em um vazamento de 11.5 milhões de documentos tributários, referentes à firma de advocacia Mossack Fonseca, que administrava bens offshore a partir do Panamá.