Uma pesquisa de opinião conduzida pelo Serviço de Análise Zogby (ZRS) revelou que 81% dos tunisianos temem pelo futuro da democracia em seu país, após o presidente Kais Saied restringir liberdades sob pretexto de “emergência”, a partir de 25 de julho.
Desde então, Saied congelou o parlamento, destituiu o premiê Hichem Mechichi, revogou a imunidade de ministros, aboliu o órgão que monitorava a constitucionalidade, indicou um promotor público de sua confiança e legislou por decreto.
A pesquisa recente demonstrou que 51% dos tunisianos opõem-se ao que consideram “golpe contra a constituição”, isto é, as medidas presidenciais supracitadas.
Apenas 24% dos entrevistados acreditam que a situação no país melhorou nos últimos cinco anos; a maioria expressou insatisfação com a atual conjuntura.
A fundação ZRS conduziu sua pesquisa entre 15 de agosto e 5 de setembro, com amostra de 1.551 cidadãos adultos. O objetivo era desvelar os sentimentos da população tunisiana sobre as condições de vida, assim como suas expectativas sobre o futuro do país.
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Somente 30% dos entrevistados manifestaram esperanças de que suas vidas efetivamente melhorem nos próximos cinco anos, enquanto 33% esperam piora e outros 37% acreditam que a situação continuará mais ou menos a mesma.
Segundo a pesquisa, o maior indicador da insatisfação na Tunísia é o fato de que 71% dos entrevistados alegaram que suas vidas eram mais promissoras antes da revolução de 2011, que destituiu o longevo ditador Zine el-Abidine Ben Ali.
Não obstante, 51% dos entrevistados expressaram repúdio sobre as “medidas excepcionais” de Saied. Ao menos 50% demonstraram grave apreensão sobre as condições democráticas no contexto atual; 31% afirmaram estar “pouco preocupados”.
Segundo 29% dos tunisianos, o presidente Kais Saied é o maior responsável pelas crises em curso no país; outros 45% culpabilizam Rached Ghannouchi, presidente do parlamento e líder do movimento Ennahda, maior partido pós-revolução.
A maioria das forças políticas no país, incluindo o Ennahda, rechaçou as medidas de Saied, ao descrevê-las como golpe de estado. Outros grupos declararam apoio, ao adotar a tese de “correção de curso” para a revolução tunisiana.
A Tunísia permanece, no entanto, assolada pela crise política, econômica e sanitária — esta última ainda concentrada no aumento de casos de covid-19.
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