O Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan confirmou neste sábado (23) ter incumbido sua chancelaria a expulsar os embaixadores dos Estados Unidos e outros nove países, por reivindicar a soltura do filantropo Osman Kavala, segundo informações da agência Reuters.
Sete dos embaixadores representam aliados turcos sob a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). As expulsões, caso efetivadas, devem abrir a mais profunda fissura entre as potências ocidentais e Erdogan, em seus 19 anos de poder.
Kavala, investidor em diversos grupos da sociedade civil, foi preso quatro anos atrás, acusado de financiar protestos globais, em 2013, e envolver-se com uma tentativa de golpe, em 2016.
O empresário continua preso ao passo que avança seu julgamento; porém, nega as alegações.
Em nota conjunta divulgada em 18 de outubro, os embaixadores dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Dinamarca, França, Holanda, Noruega, Suécia, Finlândia e Nova Zelândia exortaram a “libertação urgente” do proeminente filantropo turco.
Em seguida, todos os embaixadores em questão foram convocados à chancelaria para esclarecimentos. O ministério descreveu o comunicado como “irresponsável”.
“Dei a ordem necessária a nosso chanceler, disse o que fazer — esses dez embaixadores devem ser declarados persona non grata de imediato”, insistiu Erdogan. “Devem conhecer e compreender a Turquia. O dia que não o fizerem, deixarão o país”.
No último ano, Kavala foi absolvido de acusações relacionadas aos protestos de 2013; a decisão, no entanto, foi revogada posteriormente e agregada a tentativa de golpe. Ancara acusa o empresário de filiação com a rede antigoverno Gulen.
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As embaixadas da França e Estados Unidos não comentaram os alertas de Erdogan, até então. Um porta-voz do Departamento de Estado observou, contudo, que seus oficiais buscam esclarecimentos do Ministério de Relações Exteriores da Turquia.
Erdogan afirmou previamente que planeja encontrar-se com o presidente americano Joe Biden durante a cúpula do G20, realizada em Roma, na próxima semana.
Uma fonte diplomática sugeriu que é possível atenuar tensões, devido ao caráter ainda vago da retórica de Ancara, além de uma eventual reaproximação às vésperas do G20 e da cúpula ambiental da ONU, em Glasgow, Escócia, no início de novembro.
“Nenhuma instrução foi dada às embaixadas”, destacou a fonte; entretanto, a decisão pode ser tomada durante a reunião do gabinete turco, nesta segunda-feira (25).
A Noruega alegou também não ter recebido qualquer notificação da Turquia.
“Nosso embaixador não fez nada que mereça expulsão”, reiterou Trude Maaseide, porta-voz da chancelaria em Oslo, ao reiterar que a Turquia tem ciência da perspectiva de seu país.
“Continuaremos a urgir a Turquia a cumprir padrões de democracia e estado de direito, aos quais comprometeu-se sob a Convenção de Direitos Humanos da Europa”, acrescentou.
A chancelaria neozelandesa indicou neste domingo (24) que não comentará o caso até obter informações dos “canais oficiais”, ao enfatizar por e-mail: “A Nova Zelândia valoriza seu relacionamento com a Turquia”.