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Repugnantes e criminosos, seguranças de Bolsonaro agridem fisicamente jornalistas brasileiros em Roma

Bolsonaro visita a Piazza del Colosseo, em Roma, Itália, 31 de outubro de 2021 [Alan Santos/PR]

O crepúsculo de um domingo de tempestades assustadoras já chegava ao Rio de Janeiro quando recebi as primeiras informações de um amigo jornalista romano, por quem tenho grande afeto desde que morei e trabalhei por seis anos em Roma, sobre os jornalistas brasileiros agredidos fisicamente pelos seguranças de Bolsonaro em frente à embaixada brasileira, na Piazza Navona, um dos lugares que mais amo na Cidade Eterna.

Meu coração foi imediatamente despertado por uma profunda indignação, uma imensa vergonha pelo que o Brasil se tornou diante do mundo, e por uma imensa solidariedade por meus colegas jornalistas, sobretudo por Jamil Chade, do UOL, por quem tenho um grande carinho e admiração.

Chade, também escritor e de origem sírio-libanesa como eu, explicaria minutos depois como tudo aconteceu. “ Depois de sair pelo balcão da embaixada no melhor estilo de Evita Peron para acenar aos apoiadores, Bolsonaro desceu para falar com os brasileiros. Fez um discurso que repetia seus principais motes na pandemia e fez fotos com os apoiadores, sempre sem máscara. Mas a violência começou antes de sua aparição. Num certo momento, quando a repórter da Folha de S. Paulo, Ana Stella Pinto deu um passo na direção de onde o presidente sairia, um policial a empurrou com força. Antes, uma produtora da Rede Globo foi intimidada por supostos populares. Depois de um breve discurso, Bolsonaro indicou que sairia para caminhar. E, neste momento, diversos jornalistas passaram a ser agredidos pelos seguranças que o acompanhavam”.

As cenas que chegaram até mim poucos minutos depois eram de causar náuseas até mesmo ao mais fleumático dos jornalistas. Leonardo Monteiro, correspondente da Globonews na Europa, foi agredido com um soco no estômago por um dos seguranças, enquanto outro dos capangas de um presidente violento e medíocre, que já afirmou que sua “ única especialidade é matar”, empurrava um outro jornalista contra o capô de um carro. Mas quando Jamil Chade decidiu registrar a imensa e criminosa violência contra os jornalistas da Globonews e tentar identificar o policial que cometeu a agressão, um “ segurança” inacreditavelmente agarrou seu braço até torcê-lo e levou seu celular, que foi jogado na rua pouco tempo depois. Ao questionar Bolsonaro por que ele não participaria da Cúpula do Clima em Glagow, Chade ouviu como resposta algo inaceitável para qualquer presidente de uma nação, alguém que ocupa o mais alto cargo, usa o dinheiro público durante suas viagens internacionais, representa todo um país, e está, sob escrutínio público. Bolsonaro respondeu, mais uma vez, mostrando que não tem a menor dimensão do cargo que ocupa: – Não lhe devo satisfação.

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As agressões criminosas aos jornalistas, a pelo menos quatro equipes de reportagem incluindo também a BBC,  agressões típicas de capangas de um ditador de uma república bananeira, suscitaram palavras de perplexidade e indignação de alguns dos maiores jornais do mundo e das instituições democráticas da sociedade civil no Brasil. Na Inglaterra, o The Guardian afirmou que “os ataques contra repórteres brasileiros (…) culminaram em um fim de semana sombrio para o presidente de direita. O jornal ainda descreveu Bolsonaro como “uma figura isolada, que não fez parte da foto tirada na Fontana di Trevi, um dos lugares mais mágicos de Roma, com os líderes mundiais.  O Instituto Internacional de Imprensa (IPI) disse condenar veemente a violência contra os jornalistas brasileiros e pediu às autoridades italianas que investiguem os incidentes. No Brasil, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Comissão de Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenaram a agressão a jornalistas feita por seguranças de Jair Bolsonaro. Para a ABI, o comportamento avesso à democracia e ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas por parte de Bolsonaro acabam estimulando agressões como essa. A OAB também frisou que o episódio reflete postura de “frequente desrespeito” de Jair Bolsonaro ao trabalho da imprensa. A OAB também publicou uma nota repudiando os jornalistas brasileiros em Roma.

As agressões de Bolsonaro e seus capangas e funcionários aos jornalistas não são apenas imorais, são também recorrentes desde 2019. Em agosto deste ano, Wassef, advogado da família Bolsonaro, chegou a sugerir o que poderia ocorrer com profissionais que buscassem apurar informações relacionadas a autoridades em determinadas localidades: “Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”.

Há poucos meses, durante sua estadia em Guaratinguetá, São Paulo, Bolsonaro chegou a ameaçar de agressão física uma jornalista da TV Vanguarda, a Rede Globo no Vale do Paraíba, causando o imenso repúdio de profissionais de toda a América Latina.

Recentemente, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) entrou com uma ação contra o presidente por danos morais coletivos causados à categoria por frequentes agressões a todos nós, jornalistas.

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Além de uma indenização de R$ 100 mil, a entidade pede a concessão de liminar proibindo Bolsonaro de continuar a cometer os ataques continuados contra veículos de imprensa e seus profissionais e que ele seja proibido de divulgar, nas suas redes sociais, nomes e dados pessoais de profissionais que fizeram matérias críticas ao seu governo, como já fez inúmeras vezes.

Caso a Justiça decida a favor da ação movida pelo sindicato, a indenização será doada ao Instituto Vladimir Herzog, que atua em defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos no país.

Como jornalista, já estive em mais de 80 países, testemunhei a imensa dor dos refugiados, testemunhei em 2001 a implosão da ex Iugoslávia pelo ódio religioso e pela interferência norte-americana,  e cobri alguns dos conflitos mais violentos e tristes da história recente, como a Guerra da Síria.

Mas até mesmo em zonas de conflito bélico, testemunhei, por parte de alguns líderes, mais respeito ao trabalho de jornalistas e correspondentes, do que tenho visto por parte de Bolsonaro e seus vassalos no Brasil.

O trabalho de todos nós, jornalistas do Brasil, que já vinha enfrentando inúmeras dificuldades com o fim de grandes revistas semanais impressas e de jornais históricos com mais de 200 anos de existência, com a ascensão de Bolsonaro ao poder, tornou-se um risco à nossa integridade física, um desafio diário, e uma profissão extremamente perigosa.

Bolsonaro não tem a menor noção da dimensão do cargo que ocupa e nem sequer da importância de uma imprensa livre, cujo papel fundamental é dar voz aos anseios das pessoas mais vulneráveis, e das minorias de um país.

A ação civil pública movida nesse momento contra Jair Bolsonaro tem como base o relatório “Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, realizado anualmente pela Federação Nacional dos Jornalistas. Somente no ano de 2020, Bolsonaro proferiu 175 ataques a jornalistas, sendo 26 ocorrências de agressões diretas, 149 tentativas de descredibilização da imprensa e duas agressões diretas contra a própria Fenaj.

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São ações perversas, que estimulam a violência imoral e abjeta contra todos nós e estimulam as pessoas que o apoiam a seguirem o seu exemplo agredindo jornalistas no mundo real ou no mundo virtual, com a mesma desumanidade e com profundo sadismo.

O mais emblemático é que, assim como eu fui atacada covardemente por seis dias pelo guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, por dar voz aos refugiados muçulmanos no Brasil e lutar contra a intolerância religiosa, outras mulheres jornalistas têm sido os alvos preferenciais de Bolsonaro.

Patrícia Campos Mello, por exemplo, jornalista da Folha de S.Paulo, onde eu também trabalhei como correspondente em Roma, fez  uma série de reportagens sobre o esquema ilegal  de disparo de mensagens por WhatsApp nas eleições de 2018, o que teria claramente favorecido a vitória do presidente.

Ao comentar o trabalho de Patrícia e sua relação com um entrevistado, um homem que trabalhava em uma das agências contratadas pela equipe do candidato de extrema direita, Bolsonaro afirmou que Patrícia “queria dar o furo”, fazendo um trocadilho patético, indecente e de cunho sexual com o jargão da atividade jornalística. Outras jornalistas, como Bianca Santana, Juliana dal Piva, e Thais Oyama também foram vítimas dos crimes de Bolsonaro e seus seguidores.  Até quando o Brasil, os jornalistas, as minorias religiosas, os indígenas, as mulheres e os negros  continuarão  a ser agredidos pelo sujeito que sequestrou a cadeira presidencial de um dos países mais fantásticos do planeta?

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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