Estados Unidos e Catar concordaram que o estado árabe representará os interesses diplomáticos da Casa Branca no Afeganistão, reportou um oficial americano à agência Reuters.
Trata-se de um importante sinal de engajamento direto entre Washington e Cabul no futuro próximo, após duas décadas de guerra e ocupação no país centro-asiático.
O Catar deve subscrever o arranjo nesta sexta-feira (12) e assumir o papel de “potência protetora” na relação entre as partes, a fim de facilitar comunicações formais com o novo governo do Talibã — não reconhecido, até então, pelos Estados Unidos.
A aproximação ocorre em um momento no qual potências ocidentais buscam formas de engajar-se com o movimento islâmico, após sua súbita ressurgência no Afeganistão, em agosto, em meio à retirada de tropas da coalizão americana do país.
Estados Unidos e Europa, entre outros, relutam em reconhecer o Talibã. Críticos observam que a demora dificulta a inclusão de minorias e mulheres na vida política afegã.
Contudo, conforme se aproxima o inverno, muitos governos concluíram que precisam engajar-se mais com Cabul para impedir que a população empobrecida mergulhe em outra catástrofe humanitária, de modo a instigar uma nova onda de refugiados.
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Conforme o acordo, a partir de 31 de dezembro, o Catar dedicará uma equipe de sua embaixada afegã ao “Setor de Interesses dos Estados Unidos”, sob coordenação do Departamento de Estado em Washington e da missão americana em Doha.
Segundo as informações, a Casa Branca manterá contato indireto com o Talibã através da capital catariana, onde o grupo islâmico mantém um escritório político há anos.
“Como potência protetora, o Catar ajudará os Estados Unidos ao fornecer serviços consulares limitados a nossos cidadãos e ao defender nossos interesses no Afeganistão”, reafirmou o oficial americano à imprensa, em condição de anonimato.
A assistência diplomática deve incluir solicitações de passaporte, serviços de tabelião e cartório, informações e providências emergenciais, observou a fonte.
O Setor de Interesses dos Estados Unidos funcionará em certas instalações da antiga embaixada americana em Cabul, cujas atividades foram suspensas após a ascensão do Talibã. O Catar deverá monitorar então o complexo e conduzir patrulhas de segurança.
Enquanto isso, milhões de afegãos enfrentam fome, seca e carestia, ao passo que a economia nacional declina em queda livre, sob sanções, escassez de reservas e cortes da assistência financeira e humanitária concedida ao país.
A tomada do poder pelo Talibã, em agosto, resultou no desligamento de bilhões de dólares em ajuda internacional, que mantinham viva a economia. Além disso, mais de US$9 bilhões pertencentes ao Banco Central foram congelados no exterior.
Em acordo distinto, o Catar comprometeu-se em abrigar provisoriamente oito mil afegãos em situação de risco, que solicitaram vistos especiais de imigração. “Requerentes serão alojados no campo de as-Sayliyah e na base aérea de al-Udeid”, comentou o oficial.
As duas décadas de ocupação no Afeganistão culminaram na saída apressada das tropas americanas, na qual mais de 124 mil civis — incluindo americanos, afegãos e outros — foram evacuados, enquanto se consolidava o poder do movimento Talibã.
Porém, milhares de ex-funcionários do regime instituído pelas forças ocidentais — considerados colaboracionistas — foram deixados para trás, sob grave ameaça de perseguição.