Durante telefonema realizado no último sábado (20), o Secretário de Estado dos Estados Unidos Antony Blinken prometeu ao presidente tunisiano Kais Saied ampliar seu apoio ao país norte-africano “quando firmado um cronograma de reformas”.
A conversa foi confirmada por um comunicado da presidência em Túnis.
Desde 25 de julho, a Tunísia vivencia uma crise política sem precedentes.
Saied recorreu a “medidas excepcionais” para congelar o parlamento, revogar a imunidade de ministros, abolir o órgão constitucional, nomear um promotor público favorável, destituir o premiê, governar por decreto e assumir poderes executivos quase absolutos.
Em setembro, o presidente nomeou Najla Bouden como primeira-ministra, após emitir uma série de ordens para fortalecer os poderes constitucionais de sua presidência.
Segundo o comunicado, Blinken expressou os anseios de Washington “para que tais reformas encontrem uma maneira de materializar-se o mais breve possível”.
Nesta mesma conjuntura, partidos e sindicatos tunisianos insistem que o presidente anuncie um cronograma para o fim da crise, ao advertir que prorrogá-la poderá levar a maior deterioração da situação política e econômica do país.
“Saied destacou … a necessidade de nossos parceiros de compreenderem que as condições socioeconômicas são o principal problema enfrentado na Tunísia, agravados pela fabricação de crises e mentiras, além da corrupção”, alegou a presidência em comunicado.
Saied voltou a afirmar que sua investida repousa sobre “o âmbito de suas responsabilidades, após o parlamento transformar-se em uma arena de sangue e confrontos, de modo que seu trabalho foi prejudicado mais de uma vez por violência física e verbal”.
A maioria dos partidos condena as medidas de Saied como golpe contra a constituição e as conquistas da revolução de 2011, que depôs o longevo ditador Zine el Abidine Ben Ali. Apoiadores argumentam tratar-se de uma “correção de curso” no processo democrático
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Saied, não obstante, prosseguiu: “A corrupção generalizada espalhou-se no estado e no parlamento e, quando foi revogada a imunidade de nossos congressistas, alguns de fato foram indiciados, incluindo aqueles condenados desde 2018”.
“Muitas imprecisões propagadas no exterior são verdadeiramente infundadas e nada tem a ver com a realidade”, argumentou seu gabinete.
“[Saied] enfatizou também que preparativos estão em curso para os próximos estágios e que a vontade é sair da situação excepcional a um contexto normal”, acrescentou.
Enquanto isso, Túnis e outras regiões vivem protestos regulares, com a participação de milhares de pessoas, em repúdio às medidas de Saied — eleito a cinco anos de mandato, em 2019.