O Papa Francisco visitará o Chipre nesta semana, a fim de conceder solidariedade à pequena ilha dividida no Mar Mediterrâneo, considerada agora a nova linha de frente na rota dos refugiados em direção à Europa, segundo informações da agência Reuters.
No centro de Nicósia, a Igreja da Santa Cruz é o local mais expressivo no que se refere à recente onda migratória que tomou o país. Todas as manhãs, os refugiados formam fila para obter assistência da paróquia. Voluntários permanecem sobrecarregados, segundo relatos.
O Papa Francisco — que tornou a defesa dos refugiados um dos alicerces de seu pontificado — conseguiu organizar a viagem de 50 imigrantes à Itália, onde serão realocados.
O líder da Igreja Católica planeja realizar ainda uma oração ecumênica junto dos refugiados na Igreja de Santa Cruz, na próxima sexta-feira (3), após uma missa a céu aberto no estádio da capital cipriota, no período da manhã.
LEIA: Papa urge que refugiados não sejam devolvidos a áreas de risco, como a Líbia
“Penso naqueles que, nos últimos anos e ainda hoje, fogem da guerra e da miséria, que aportam nas praias do continente e além, e não encontram hospitalidade; mas sim, hostilidade e mesmo exploração”, comentou o sacerdote em vídeo. “São nossos irmãos e irmãs”.
Even during these days so many migrants are exposed to very serious dangers, and so many lose their lives at our borders!
— Pope Francis (@Pontifex) November 28, 2021
“Mesmo hoje, muitos imigrantes continuam expostos a graves perigos; muitos perdem suas vidas em nossas fronteiras”, declarou o Papa Francisco em suas redes sociais
Além da proximidade com o Oriente Médio, o Chipre possui um complexo tecido geopolítico.
Dividida entre greco-cipriotas e turco-cipriotas, a ilha mantém uma fronteira interna de 180 km de leste a oeste, deixada pelo cessar-fogo, mas que serve ainda de porta dos fundos a contrabandistas, que levam pessoas desesperadas ao território europeu.
Somente neste ano, mais de 90% dos refugiados que adentraram na porção sul do país recorreram a essa perigosa jornada.
“Neste momento, estamos sobrecarregados com o número de refugiados, imigrantes e requerentes de asilo que chegam ao Chipre”, declarou Elizabeth Kassinis, diretora regional da Caritas Internationalis, rede de entidades católicas de assistência humanitária.
Segundo Kassinis, sua organização — que ajuda os refugiados desde refeições e roupas até burocracia — recentemente passou a socorrer até 400 pessoas por dia, consideravelmente acima do índice habitual de 150 a 200 atendimentos.
Muitos refugiados e voluntários projetam esperanças de dias melhores na visita de Francisco.
“O papa pode mudar muitas coisas porque o papa representa Jesus Cristo”, comentou Antoinette Ndjikeu, de 50 anos, cidadã de Camarões.
O chefe católico, todavia, deverá passar a noite em terra de ninguém. O monastério franciscano que o receberá, adjacente à Igreja da Santa Cruz, repousa sobre a zona neutra instaurada no coração da cidade medieval, entre outros edifícios abandonados há anos.
LEIA: Papa descreve o Mediterrâneo como ‘maior cemitério da Europa’