É significativo que o período de prosperidade e o surgimento dos golpes militares árabes tenha coincidido com a Guerra Fria, período de polarização do mundo que se estendeu aos programas de governo. A democracia tornou-se o método propagandeado pelo Ocidente contra o domínio da ditadura no Oriente.
Em 1949, após os golpes no Iraque e no Iêmen, o líder Husni al-Zaim, que havia enfrentado o exército israelense na Guerra Arabe-Israel, em que os árabes saíram derrotados, teve sucesso ao desferir um golpe de Estado e tomar o poder no país que vivia um período de descrença em sua abalada democracia parlamentar. O fato desencadeou uma série de novos golpes árabes. Os militares passaram a se apresentar ao seu povo como movimentos revolucionários que visavam a libertação e o desenvolvimento.
Outro golpe levou Saddam Hussein ao poder em 1978 e ele continuou até ser morto, em 2006. Depois que invadiu o Kuwait na Guerra do Golfo, o Iraque foi alvo dos países coloniais americanos, britânicos e franceses que o colocaram sob um cerco sufocante.
Os Estados do Golfo e os países do Norte da África seguiram o mesmo caminho. A Jordânia tinha seu próprio ditador, e a Palestina, que ainda não havia sido libertada, sofreu com décadas de ditadura.
A causa palestina também foi usada como pretexto para a existência e continuação desses regimes militares, e até mesmo para substituí-los por outros regimes militares sem qualquer vislumbre de que esse caminho de exceção devesse ser revertido. Os golpes militares passaram assim a fazer parte de uma política protecionista reacionária e duradoura.
O militar Gamal Abdel Nasser manteve-se no poder até sua morte, sucedido por Anwar Sadat. O fato é que nenhuma região árabe estava sendo poupada do regime ditatorial. O sucessor de Sadat, Hosni Mubarak governou o Egito por 30 anos, até ser derrubado por uma revolução massiva em 2011, logo depois da derrubada de Zine Ben Ali, que por 26 anos governou a Tunísia.
Depois de uma época em que os golpes se apresentaram como revoluções associadas à promessa de libertação da Palestina roubada, e do período de esperança representado pela derrubada regimes no norte da África, os golpes se reproduziram e a própria Palestina foi se tornando alvo dos regimes militares e ditaduras do mundo árabe, com suas negociações veladas e seus acordos abertos de normalização com Israel.
Os povos árabes tentaram se livrar dessas ditaduras nos levantes que começaram em 2011 na Tunísia pelo Egito, Líbia, Síria, Iêmen, Bahrein e com intensidade mais branda em outros países.
Em troca de petróleo, o Ocidente apoiou golpes e ditaduras por décadas, do Arábia Saudita a Omã, do Egito. Resistências cresceram, mas as vias democráticas não foram respeitadas quando deram vitória a lideranças políticas islâmicas, como foi o cancelamento das eleições argelinas no início dos anos 90; o rechaço à vitória do Hamas na Palestina em 2006, e o golpe do general Al-Sissi para derrubar o presidente eleito no Egito em 2011, Mohamed Morsi.
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