Mais de cem pessoas morreram ou foram feridas por um ataque aéreo executado nesta sexta-feira (21) contra um centro de detenção no território iemenita, após bombardeios noturnos que ratificaram a recente escalada no país.
As informações foram divulgadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
“Há mais de cem mortos e feridos … os números continuam a subir”, destacou Basheer Omar, porta-voz da entidade no país assolado pela guerra.
Um vídeo divulgado pelo movimento houthi registrou o trabalho de resgate para retirar corpos dos escombros, então empilhados na via pública.
Saada, no noroeste do Iêmen, é um dos principais redutos dos rebeldes iemenitas.
A coalizão saudita intensificou seus bombardeios contra alvos supostamente houthis, após o grupo iemenita conduzir um ataque sem precedentes contra os Emirados Árabes Unidos, na segunda-feira (17), além de disparos transfronteiriços contra cidades sauditas.
O incidente foi descrito como o pior ataque estrangeiro desde 8 de outubro de 2016, quando a coalizão saudita bombardeou um funeral comunitário na região de Sanaa.
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Segundo um correspondente da Reuters, muitos dos mortos eram refugiados africanos.
Mais ao sul, em Hodeidah, outro vídeo registrou corpos soterrados e sobreviventes atordoados, após um bombardeio saudita contra a infraestrutura local de telecomunicações. O Iêmen ficou então sem sinal de internet, segundo observadores externos.
A ong Save the Children confirmou em nota que três crianças e mais de 60 adultos faleceram devido aos ataques aéreos desta sexta-feira; contudo, sem maiores detalhes.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) constatou que os hospitais de Saada receberam cerca de 200 feridos devido à ofensiva contra o centro de detenção. “Estão todos tão sobrecarregados que não podem receber nenhum paciente”, reiterou o comunicado.
“Ainda há muitos corpos no local do ataque e muitos desaparecidos”, declarou Ahmed Mahat, chefe do MSF no território iemenita. “É impossível sabermos quantas pessoas foram mortas; certamente parece um ato hediondo de violência”, acrescentou.
Alertas de represália
A Arábia Saudita lidera uma coalizão militar com apoio das potências ocidentais, incumbida de intervir no Iêmen desde 2015, para restabelecer o governo aliado de Abd Rabbuh Mansour Hadi, destituído no ano anterior por rebeldes houthis — por sua vez, alinhados a Teerã.
Anwar Gargash, porta-voz emiradense, reafirmou o direito de “autodefesa” de seu país.
“Os Emirados têm o direito legal e moral de proteger suas terras, sua população e sua soberania e exercerá seu direito à autodefesa para impedir atentados terroristas do grupo houthi”, insistiu Gargash a Hans Grundberg, enviado especial dos Estados Unidos.
A guerra no Iêmen representa uma catástrofe para milhões de pessoas, expulsas de suas casas e à margem da fome. A Organização das Nações Unidas (ONU) descreve a situação no país como a pior crise humanitária do mundo.
São estimadas 377 mil mortes desde o início do conflito até 2021, tanto direta quanto indiretamente — isto é, por ação das armas ou mesmo da fome e de doenças.
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Publicado originalmente em Middle East Eye