A Síria deve racionar suas reservas de trigo e outros bens essenciais diante de uma série de medidas para conter o impacto no abastecimento e nas importações decorrente da invasão russa na Ucrânia.
O Conselho de Ministros da Síria anunciou a proposta na quinta-feira (25), logo após o Kremlin ordenar uma “operação especial” no país vizinho. Outros produtos afetados são açúcar e óleo de cozinha. Os ministros também pretendem limitar os gastos públicos, dado que o preço das commodities deve aumentar em todo o mundo.
Em resposta à invasão, países ocidentais impuseram uma série de sanções contra Moscou. Exportações de milho e cevada também devem ser afetadas.
O trigo, em particular, é matéria de preocupação, dado que Rússia e Ucrânia — por vezes, conhecida como “cesta de pães da Europa” — fornecem 30% das exportações de trigo em âmbito global.
A escassez de trigo deve agravar uma já existente crise mundial de alimentos, cujo maior impacto projeta-se justamente sobre estados em guerra, como a Síria de Bashar al-Assad.
LEIA: Invasão russa à Ucrânia ‘defende a humanidade’, afirma Assad
O novo racionamento soma-se a restrições previamente instituídas por Damasco. Nos últimos anos, a Síria passou a recorrer cada vez mais às importações russas, após sua própria colheita de trigo ser reduzida a níveis sem precedentes devido à seca e outras questões.
Como resultado, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a colheita de trigo no território sírio atingiu seu nível mais baixo em meio século, no último ano, com menos da metade de seu rendimento em 2020.
A crise climática agrega-se ao fato de que a maior parte do trigo produzido na Síria é oriundo do nordeste do país, ainda sob controle de forças oposicionistas. Em 2021, o governo importou 1.5 toneladas de trigo, sobretudo da Rússia — seu principal aliado na guerra civil.
A eventual escassez de trigo, em virtude do conflito no Leste Europeu, deve também prejudicar outros estados do Oriente Médio, com destaque para o Egito, que importa 70% de seu trigo de ambos os países diretamente envolvidos na guerra.
LEIA: A crise na Ucrânia e suas implicações sobre os países árabes