Uma eventual contração do abastecimento de trigo, em âmbito global, após a invasão russa à Ucrânia incita temores de que a crise de fome no Iêmen, também assolado pela guerra, possa piorar. Muitos iemenitas correram aos mercados para comprar farinha.
As informações são da agência Reuters.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) observou que a crise vigente deve resultar no aumento dos preços de combustíveis e bens alimentares, com destaque para o Iêmen, que depende de importações, onde o custo das refeições mais do que dobrou nos últimos anos.
Rússia e Ucrânia representam em torno de 29% das exportações globais de trigo e uma interrupção no fluxo desta commodity pode levar a uma carestia generalizada. Em solo iemenita, o conflito e a inflação levaram milhões de pessoas à margem da fome.
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“As pessoas correm para fazer suas compras, as pessoas estão em alerta, elas antecipam uma crise”, reiterou o atacadista Mohammed Al-Nimri, radicado em Sanaa, capital do Iêmen. “Elas estão levando dez, vinte sacos de farinha!”
Mahran al-Qadi, que trabalha na importação do produto, confirmou que há estoques, mas que as pessoas entraram em pânico. “Alguns comerciantes até mesmo aumentaram os preços após ver tamanho aumento na demanda”, acrescentou.
Sete anos de conflito dividiram o Iêmen entre o governo reconhecido internacionalmente, na porção sul do país, radicado em Aden, e o movimento houthi, ligado a Teerã, na capital Sanaa.
O governo em Aden, na última terça-feira (1°), realizou uma reunião sobre o abastecimento de bens alimentares e afirmou possuir estoque de trigo e outras commodities para quatro meses.
Muhammad al-Hashemi, vice-ministro da indústria em Sanaa, declarou à Reuters que seu governo possui meses de estoque de trigo; contudo, sem detalhes. Ainda assim, segundo al-Hashemi, ofertas distintas devem chegar ao Iêmen de países terceiros.
As preocupações sobre o fornecimento no Iêmen agregam-se à deterioração da miséria e da fome no país, além de uma queda substancial nos envios assistenciais. Desde janeiro, o PAM cortou o número de beneficiários de 13 milhões a 5 milhões de pessoas por mês.
“Não temos escolha senão tirar daqueles que têm fome para alimentar aqueles que estão morrendo”, reiterou David Beasley, diretor-executivo do programa da Nações Unidas.
Em 16 de março, Suécia e Suíça receberão uma conferência de doadores ao Plano de Resposta Humanitária das Nações Unidas de 2022. No último ano, apenas 58% dos recursos necessários foram angariados.
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