A Rússia exigiu garantias por escrito dos Estados Unidos de que as recentes sanções impostas devido à guerra na Ucrânia não afetarão seu comércio com o Irã, em detrimento de um novo acordo nuclear com a república islâmica, a ser assinado em breve.
Após a invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro, Washingtou e outros governos ocidentais — além da União Europeia — impuseram duras sanções contra Vladimir Putin e indivíduos associados, a fim de persuadir o regime russo a interromper suas operações militares.
Analistas estimam que a Rússia deve sofrer um colapso financeiro nas próximas semanas, devido às sanções, ao passo que o rublo se desvaloriza a índices sem precedentes.
Em contrapartida, produtos essenciais, incluindo alimentos, podem deixar as prateleiras dos mercados e padarias no decorrer deste ano, dado que Ucrânia e Rússia equivalem a 30% das exportações de trigo em âmbito global.
No sábado (5), o chanceler russo Sergei Lavrov exigiu da Casa Branca um compromisso por escrito de que as medidas não afetarão o comércio entre Moscou e Teerã.
Segundo a agência de notícias Interfax, Lavrov justificou o pedido para garantir“nosso direito ao livre comércio, em termos de cooperação econômica e militar junto da república islâmica [pois] a avalanche agressiva de sanções do Ocidente demanda maior compreensão”.
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A insistência do Kremlin em preservar seus laços com Teerã coincide com esforços para restaurar o acordo nuclear iraniano, após meses de negociações entre os signatários do documento original, firmado em 2015 — incluindo a Rússia.
No fim da última semana, partes interessadas confirmaram que as negociações estão quase concluídas, concentradas agora em detalhes finais, como a suspensão das sanções contra o regime iraniano e uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos.
As declarações da Rússia, no entanto, parecem prorrogar ainda mais a restauração do acordo, para anexar uma garantia por escrito ao documento. No entanto, as partes ocidentais temem que ceder às reivindicações possa criar uma brecha nas sanções devido à guerra.
Em entrevista à CBS News, o Secretário de Estado dos Estados Unidos Antony Blinken descartou as exigência do Kremlin como “irrelevantes”, ao insistir que as sanções impostas após a invasão na Ucrânia “nada têm a ver com o acordo nuclear”.
Segundo Blinken, ambas as questões “não estão vinculadas de maneira alguma”.
O chanceler americano destacou, porém, o compromisso de Washington em recuperar o acordo nuclear — “independente de nosso relacionamento com a Rússia”. Então asseverou: “Penso que estamos perto de um acordo, mas há ainda algumas questões bastante controversas”.
“Veremos onde vamos chegar nos próximos dias”, acrescentou Blinken. “Mas tudo parece resumir-se às chances de solucionarmos algumas questões. Caso sejamos bem-sucedidos, voltaremos ao acordo. Caso contrário, evidentemente não”.
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