As relações entre Reino Unido e Arábia Saudita tornaram-se alvo de duras críticas após rumores indicarem que o premiê britânico Boris Johnson pretende viajar a Riad para convencer o regime a aumentar sua produção de petróleo.
Os supostos planos de Johnson ignoram apelos de direitos humanos nacionais e internacionais, sobretudo após a execução de 81 pessoas em apenas um dia pela monarquia islâmica.
A Arábia Saudita rejeitou demandas dos Estados Unidos para atenuar a pressão aos mercados de energia, ao expandir sua oferta. Como maior exportador global de petróleo cru, o reino é o crucial para estabilizar os preços de combustíveis, após a invasão russa na Ucrânia.
Aliados tradicionais, Washington e Riad mantêm certo distanciamento desde a posse de Joe Biden. Oficiais sauditas, porém, negam vincular sua postura sobre a produção de petróleo às disputas com a Casa Branca e insistem tratar-se de uma questão de mercado.
A monarquia alega que não há escassez de petróleo no mercado global e que aumentar a produção pode não afetar os preços, mas sim reduzir sua capacidade excedente.
Apesar de Londres manifestar “choque” sobre a execução em massa do último sábado (12), Johnson deve viajar ao reino para convencer a dinastia al-Saud a colaborar com o mercado ocidental. Segundo seu gabinete, a agenda incluirá matérias além de energia.
O governo britânico não confirmou se a viagem de Johnson ocorrerá nesta semana.
Os planos do primeiro-ministro incitaram um debate acalorado no parlamento, logo após a execução em massa perpetrada pela monarquia. O congressista conservador Crispin Blunt, solicitou uma sessão urgente nesta segunda-feira (14) para debater a questão.
Trata-se da maior execução em massa de prisioneiros por Riad na memória recente.
Blunt, ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns, expressou “profunda apreensão” e descreveu as execuções como “nova violação sem precedentes dos direitos humanos e da justiça penal no país, somente uma semana após o príncipe herdeiro (Mohammed bin Salman) prometer modernizar o judiciário nacional”.
Blunt e outros parlamentares alertaram Johnson para cancelar a viagem. “Ações falam mais do que palavras”, apontou o liberal-democrata Alistair Carmichael. “Se o premiê viajar ao país nos próximos dias, sua mensagem é que nada do que diz realmente importa e que tais abusos não nos incomodam”.
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Conforme relatos, o primeiro-ministro planejava visitar Riad mais cedo, neste ano, mas teve de cancelar seus planos devido às tensões russo-ucranianas. A despeito de seu provável pedido de socorro à monarquia, Liz Truss, Secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, insistiu que o Ocidente tem de acabar com “a dependência estratégica de autocracias”.
O premiê britânico, entretanto, não está sozinho nas intenções para reaproximar-se de Riad. No início de março, surgiram rumores de que o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden planejava realizar a mesma viagem — potencial reviravolta em sua política externa.
Durante a campanha eleitoral de 2020, o então candidato democrata à Casa Branca descreveu a Arábia Saudita como “estado pária”. No início do mandato, Biden autorizou a divulgação de um relatório que implicou Bin Salman à morte do jornalista Jamal Khashoggi.