No início de abril, o chanceler israelense Yair Lapid reivindicou “apoio internacional para reaver a calma a Jerusalém”, ao comentar no Twitter sobre um relatório entregue ao Secretário de Estado dos Estados Unidos Antony Blinken sobre a cidade ocupada. Obviamente, Lapid retratou Israel como responsável por “esforços comedidos” para manter a narrativa colonial de segurança estabelecida na arena internacional. Nenhuma menção foi feita à violência israelense contra civis palestinos, tampouco às estatísticas recentes que demonstram uma escalada sionista nos assassinatos de cidadãos nativos, desde o início do ano, quando comparado a 2021.
Lamentar-se sob proteção internacional — algo que Israel não precisa, dado que promove sua “autodefesa” com armamentos de última geração — é uma tática também adotada regularmente pelo Presidente da Autoridade Palestina (AP) Mahmoud Abbas. As súplicas de Lapid beiram o ridículo: desde quando Israel não possui “apoio internacional”?
Abbas, no entanto, renovou seus próprios apelos por intervenção externa durante um encontro com Yael Lambert, assessor em exercício da Secretaria de Estado dos EUA para o Oriente Próximo, e Hadi Amr, assessor adjunto da pasta para assuntos israelo-palestinos. Dessa vez, Abbas advertiu debilmente sobre eventuais consequências, ao implorar novas ações conduzidas por Washington: “Diante da falta de um horizonte político e do fracasso israelense em interromper seus atos unilaterais e cumprir os acordos assinados, a liderança palestina terá de implementar em breve as decisões do Conselho Central da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)”. Não há dúvida: essa ameaça não significa nada.
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Abbas não está em posição de emitir alertas. Mesmo que pudesse, a expansão colonial israelense angariou um apoio material muito maior do que a luta legítima do povo palestino, desde a Nakba ou “catástrofe” em 1948. Rescindir o reconhecimento do estado sionista e interromper sua coordenação de segurança são ameaças vazias que Abbas não pode implementar, dado que a Autoridade Palestina depende absolutamente da concessão de dois estados para que possa existir. Como Abbas manterá sua plataforma política caso escolha revogar o reconhecimento de Israel? E como Israel seria efetivamente afetado por essa decisão, dado que seu apoio conferido pela comunidade internacional subjuga em enorme escala o reconhecimento dos direitos palestinos por um estado próprio?
Além disso, à medida que Abbas perde cada vez mais espaço entre os palestinos, mais sua coordenação de segurança torna-se prioridade política. Isso ficou evidente durante os encontros da liderança palestina com o Ministro da Defesa de Israel Benny Gantz, com intuito de alienar politicamente o movimento Hamas. Como se não bastasse, a própria polícia de Abbas é responsável por reprimir protestos unificados contra a gestão palestina, ao empregar violência extrema sem qualquer responsabilidade jurídica, de maneira muito similar aos mecanismos de repressão utilizados pela cartilha israelense.
Implorar por socorro internacional jamais trouxe resultados — Abbas sabe muito bem disso. Ao contrário, no entanto, expõe a falta de visão política e integridade de sua liderança. Sabendo que os Estados Unidos priorizam os interesses de Israel, como Abbas pode esperar que o presidente Joe Biden mude sua política externa? Dado que o próprio presidente palestino insiste que as iniciativas da comunidade internacional superam em importância as demandas do povo palestino, que diferença faz seus apelos débeis por proteção internacional?
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