A emissora de televisão Mekameleen, administrada pela oposição egípcia, anunciou neste sábado (30) o fechamento de seu escritório na Turquia, à medida que o governo de Recep Tayyip Erdogan se aproxima do Cairo para restabelecer laços diplomáticos.
Em comunicado, o canal egípcio confirmou a decisão de deixar o país “devido a circunstâncias conhecidas a todos, sob o desejo da emissora de manter sua missão de transmitir a verdade”.
An Urgent Statement from Mekameleen Satellite Channel pic.twitter.com/x8qyCm7aQ3
— قناة مكملين الفضائية (@mekameleentv) April 29, 2022
Embora sem conceder detalhes, tais circunstâncias parecem referir-se ao processo de normalização entre Turquia e Egito, deflagrado a partir do último ano.
A tendência é desfavorável a redes de imprensa da oposição radicadas no território turco, que possuem laços com o movimento egípcio de Irmandade Islâmica, criminalizado pelo regime militar de Abdel Fattah el-Sisi, após o golpe de estado de 2013, que depôs Mohammed Morsi, primeiro presidente democraticamente eleito do país norte-africano.
Ancara negou-se a reconhecer o governo de Sisi após o massacre de mais de mil manifestantes na capital egípcia, o que incitou nove anos de tensões diplomáticas. Ambos os países disputam ainda influência regional, ao apoiar lados opostos na Líbia e na Síria.
Recentemente, porém, esforços de reconciliação se aceleraram. Em abril, a Turquia reportou o retorno de um embaixador ao Egito. Erdogan também removeu seu veto à parceria egípcia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), após duas rodadas de conversa, em 2021.
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O estado turco também fez um apelo aberto à emissoras de oposição no país que baixassem o tom contra o regime de Sisi, em favor da reaproximação. Desde então, as condições tornaram mais difícil às redes de imprensa que manifestassem seu ponto de vista sobre a matéria.
Em nota, a Mekameleen insistiu manter sua missão “a partir de diferentes capitais globais nos próximos anos”; contudo, sem conceder uma localidade específica. Há rumores de jornalistas egípcios relocados em Londres, onde administram canais próprios e redes sociais.
Apesar de sua saída do país, a emissora egípcia manifestou sua “profunda gratidão à Turquia, seu povo e sua liderança, pela generosa hospitalidade ao longo dos anos”.
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