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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

‘Sonho com o momento de abraçá-lo’, diz mãe de Ahmed al-Manasra

Maysoon, mão do prisioneiro palestino Ahmed al-Manasra, fala a jornalistas após audiência de seu filho na cidade israelense de Be’er Sheva, em 13 de abril de 2022 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Imagina saber que seu filho está em confinamento solitário, sem luz, comida ou água, há mais de cinco meses? Você suportaria ver seu filho algemado na cadeia, sabendo de sua inocência?

Os pais dos prisioneiros palestinos conhecem bem este sentimento porque é precisamente a política adotada pela ocupação israelense. O estado colonial encarcerou mais de doze mil menores palestinos desde 2000; atualmente cerca de 200 prisioneiros, entre crianças e adolescentes, são mantidos em custódia – incluindo Ahmed al-Manasra. Ahmed tinha apenas 13 anos quando um tribunal israelense o indiciou por “terrorismo”. Aos 21 anos, Ahmed continua atrás das grades, detido ilegalmente há sete anos. O jovem tomou as manchetes locais e internacionais recentemente após apelos por sua soltura, diante de violência física e psicológica vivenciada diariamente nas mãos dos guardas israelenses.

Ahmed não está sozinho. “Há sete anos, vivo em um estado de medo e ansiedade”, destacou Maysoon, mãe de Ahmed. “Não consigo comer, dormir ou seguir com a minha vida. Estou sempre preocupada com meu filho, em como ele é capaz de suportar tudo isso”.

Ahmed al-Manasra nasceu em 2002, no distrito de Beit Hanina, em Jerusalém ocupada. Tudo que ele conhece é ocupação, checkpoints, soldados e colonos que ameaçam sua família.

“Meu filho é como uma brisa de ar fresco”, comentou sua mãe. “É um menino gentil e generoso; jamais machucou uma mosca. Eles levaram meu filho de mim quando ele tinha apenas 13 anos de idade, quando sua personalidade estava prestes a se desenvolver e florescer. Agora será moldado absolutamente pelos muros da prisão e pelos carcereiros”.

Ahmed foi preso pelas tropas israelenses em 2015, acusado de envolvimento em um ataque a faca executado por seu primo Hasan al-Manasra, de então 15 anos, em Jerusalém Oriental. Hasan foi baleado e morto pela polícia; Ahmed foi duramente agredido e sofreu traumatismo craniano e hemorragia interna. A legislação israelense não prevê o encarceramento de menores de 14 anos; para contorná-la, as autoridades da ocupação esperaram um ano para condenar Ahmad a doze anos em regime fechado, mais tarde reduzido a nove anos e meio.

Maysoon al-Manasra teve a chance de rever seu filho pela primeira vez durante uma audiência judicial em 13 de abril. “Meu filho, estou aqui”, declamou a mãe de Ahmed, aos prantos. “Quero abraçá-lo demais”. No entanto, não pôde aproximar-se dele.

O menino foi espancado, torturado e violentamente interrogado pelas forças de segurança de Israel. Após tamanha violência física e psicológica, sua saúde mental se deteriorou substancialmente. Ahmed permanece em isolamento desde novembro, sob alegação de proteger outros detentos de um suposto comportamento agressivo.

“Sempre que vejo meu filho, vejo marcas de tortura e sofrimento em seu corpo”, destacou Maysoon. Algumas vezes, o telefone pelo qual se comunicam na sala de visitas da penitenciária não funciona. Com o vidro grosso que os separa, restam a ambos recorrer a sinais.

Antes de sua mais recente aparição judicial, na qual o recurso pela soltura de Ahmed seria analisado, milhares de pessoas participaram de uma campanha nas redes sociais em seu nome. A hashtag #FreeAhmadManasra foi difundida por especialistas em direito, ativistas pelos direitos das crianças e personalidades solidárias aos prisioneiros palestinos, a fim de conscientizar o público de seu sofrimento e pressionar o estado colonial por sua libertação.

O tribunal abandonou então a acusação de “terrorismo” e encaminhou Ahmad a um conselho consultivo de liberdade condicional. Seus advogados então solicitaram sua soltura imediata, dado que serviu dois terços da sentença. “Meu filho precisa de mim e sei que não poder encontrá-lo frente a frente está o machucando severamente”, recordou Maysoon. “Sonho com o momento em que poderei abraçá-lo”.

Durante a última audiência, segundo relatos, Ahmed perguntou a seu advogado se suicídio é pecado. Aparentemente, o apoio online venceu tais pensamentos. Maysoon manifestou gratidão à campanha de solidariedade destinada a seu filho, além de esperanças de que este apoio não desapareça. “Ahmed está otimista e renovou seu amor à vida por causa da campanha; por favor, não se esqueçam dele”.

Segundo a Associação de Direitos Humanos e Apoio aos Prisioneiros Addameer: “A maioria das crianças palestinas encarceradas por Israel desde 2000 foram acusadas de atirar pedras, cuja punição chega a duas décadas de prisão sob a legislação marcial da ocupação”.

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É verdade – as crianças e jovens palestinos nas terras ocupadas de Jerusalém e Cisjordânia estão sujeitas a cortes militares e não são julgadas como civis. Menores judeus, mesmo aqueles residentes nos assentamentos ilegais, são tratados de maneira distinta. Trata-se de um exemplo notório do crime de apartheid perpetrado por Israel.

Ahmed al-Manasra é um menor palestino que cresceu na prisão. Sua mãe tem esperanças de que seu sofrimento não se prolongará por muito mais tempo. “Até que seja libertado, entretanto, peço a seus apoiadores que mantenham sua campanha”, concluiu Maysoon. Considerando sua situação aterradora, tenho certeza de que continuarão a apoiá-lo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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