O Egito parece ter adiado a execução de prisioneiros políticos em meio a pressão interna cada vez maior, diante do gradativo colapso socioeconômico.
Segundo a rede de notícias Al-Araby Al-Jadeed, as consequências da invasão russa na Ucrânia sobre a economia egípcia representam um dos principais desafios ao regime militar de Abdel Fattah el-Sisi, que busca limpar sua imagem em âmbito doméstico e internacional.
Oitenta porcento das importações de trigo do Egito são oriundas dos países em questão, o que elevou drasticamente o preço dos alimentos no estado norte-africano, cujo custo de vida já se acumula sob sucessivas medidas de austeridade impostas pelo governo.
Segundo relatos, neste contexto, Sisi apelou à oposição para conduzir um diálogo nacional durante o mês islâmico do Ramadã, ao protelar a execução das penas de morte.
Analistas creem que a pausa nas sentenças pode servir de preparativo para a visita de Joe Biden à Palestina, na qual deve reunir-se com líderes regionais. No início do ano, a Casa Branca alegou revogar o envio de US$130 milhões em ajuda militar ao Egito, devido à falta de progresso sobre a pauta de direitos humanos.
No entanto, a quantia equivale a somente 10% das remessas anuais dos Estados Unidos ao Cairo. Na ocasião do anúncio, ativistas reivindicaram de Biden que suspendesse uma maior proporção do valor.
Em março, Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, expressou “profunda preocupação” por rumores da execução de sete prisioneiros no Egito, após julgamentos que não cumpriram padrões processuais.
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A ONU reivindicou do governo egípcio que introduzisse uma moratória sobre a adoção da pena capital, ao ressoar apelos de longa data de ativistas de direitos humanos.
A execução dos sete homens, acusados de filiação a um grupo clandestino, elevou o número de prisioneiros mortos pelo regime de Sisi a 105 pessoas. O presidente e general chegou ao poder em 2014, após um violento golpe de estado.
No último ano, o Egito conquistou o terceiro lugar entre os algozes internacionais, somente após China e Irã, conforme relatório da Anistia Internacional.
Entre 2019 e 2020, o número de execuções triplicou.
Há atualmente cerca de 60 mil prisioneiros políticos no país, sob tortura sistemática e amontoados em celas pequenas com pouco ou nenhum acesso à luz solar.