“Diante da violência do inimigo, a resposta sionista sempre foi assentamento, segurança e imigração”, proclamou na última terça-feira (17) o Primeiro-Ministro de Israel Naftali Bennett durante uma visita ao assentamento ilegal de Elkana, na Cisjordânia ocupada. Dias antes, a organização israelense Peace Now confirmou que o governo em Tel Aviv autorizou a construção de 4.427 novas unidades coloniais nos territórios palestinos, a maior expansão dos assentamentos desde a posse do Presidente dos Estados Unidos Joe Biden, em 2021.
A gestão Biden costuma demonstrar oposição ao avanço dos assentamentos; não obstante, trata-se de uma contestação retórica sem qualquer ação correspondente. De forma semelhante, a comunidade internacional trata a expansão dos assentamentos como mera manchete, ao invés de flagrante violação da lei internacional e crime de guerra, que demanda responsabilidade política e penal.
“O programa israelense de expandir os assentamentos prejudica profundamente os prospectos para uma solução de dois estados”, corroborou Jalina Porter, porta-voz adjunta do Departamento de Estado dos Estados Unidos, durante coletiva de imprensa. Israel, no entanto, já contava com essa frívola oposição da Casa Branca. Segundo a imprensa israelense, autoridades de Tel Aviv afirmaram a seus homólogos em Washington que uma maior expansão dos assentamentos seria necessária para impedir o colapso da coalizão de governo. A princípio, o total de unidades planejada chegava a 5.800 casas destinadas a colonos ilegais.
Tor Wennesland, coordenador especial da ONU para o “processo de paz” no Oriente Médio, condenou a medida orquestrada pelo Ministério da Defesa de Israel, possivelmente responsável pelo aval para ampliar o assentamento ilegal de Elkana. “A expansão colonial contínua aprofunda ainda mais a ocupação, expropria terras e recursos naturais palestinos e suprime o livre movimento das comunidades”, destacou Wennesland. Como sempre, a resposta internacional enuncia o óbvio, como se tentasse explicar um mero erro de interpretação. Na prática, confere a Israel impunidade adicional para seus abusos reiterados.
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Enquanto a comunidade internacional agarra-se a sua própria hipótese de concessão de dois estados, Israel dorme tranquilo pois não há verdadeira oposição a suas ações. O mesmo paradigma de dois estados jaz defunto e a insistência diplomática sobre este preceito somente amortiza as chances de o povo palestino reaver sequer uma parcela de suas terras, muito menos conquistar um “estado independente e viável”.
Em franco contraste, a declaração de Bennett supracitada fede a uma agressão que a comunidade internacional se recusa a confrontar. “Violência do inimigo” é uma matéria na qual os palestinos são bastante versados, porque suas terras são expropriadas e colonizadas há décadas. São eles que enfrentam uma ameaça existencial desde o ascenso hediondo do projeto sionista. O suposto vínculo entre segurança nacional e assentamentos nada mais é que uma violência grosseira contra a população nativa e prova adicional — como se precisasse — de que o povo palestino tem razão em descrever a Nakba como catástrofe ainda em curso.
A comunidade internacional, no entanto, há muito se esqueceu da Nakba e dos procedimentos deliberados de colonização, limpeza étnica e terrorismo promovidos pelo projeto sionista, mesmo embora Bennett nos recorde dos crimes de guerra israelense, seja indireta ou diretamente. Enquanto Israel procede com sua própria narrativa de colonização, a comunidade internacional insiste em negar quaisquer precedentes que levaram os palestinos à perda de seus territórios. Ao mencionar a violação das leis internacionais e fracassar em agir adequadamente, a comunidade internacional demonstra fraqueza, sobretudo enquanto Israel mantém tais abusos, dissocia-se da evidente violência de seus atos e enquadra o avanço colonial em sua narrativa de “autodefesa”. Neste entremeio, a expansão dos assentamentos ilegais estende ainda mais violência estabelecida desde a Nakba.
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