No primeiro evento presencial do MEMO britânico em quase dois anos, devido à pandemia de covid-19, um painel de notáveis reuniu-se para debater o futuro da Palestina histórica a partir de uma perspectiva de base.
Após apresentação dos integrantes, o professor Ilan Pappé deu início à conversa. O conhecido historiador israelense afirmou que sua nova obra supera o retrato presente da perseguição do povo palestino para concentrar-se em uma visão ampla sobre o futuro da causa.
Ao observar que o livro compreende relatos de resistência e coragem, Pappé expressou fé no fim da ocupação sionista, após quase um século de colonização, perseguição e limpeza étnica impostas ao povo palestino.
Ramzy Baroud – jornalista palestino-americano e editor do Palestine Chronicle – ecoou a crença de seu coautor e comoveu-se ao relembrar sua juventude em um campo de refugiados na Faixa de Gaza, onde testemunhou em primeira mão os crimes de guerra perpetrados por Israel.
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Baroud mencionou o envolvimento de seu pai no movimento socialista da Palestina e recordou como taxistas de Gaza costumavam propagar rumores de exércitos inteiros que viriam salvar o território costeiro, na esperança de que suas histórias se tornassem realidade. “Há entusiasmo e solidariedade, mas não há combatentes a caminho”, destacou Baroud.
Baroud observou também que muitos líderes do movimento de resistência Hamas foram seus colegas durante seus anos de formação e que cabe aos palestinos – jamais a forças externas – escolher seus representantes. Baroud argumentou ainda que o escrutínio posto aos grupos de resistência e suas ideologias são matérias acadêmicas, que não parecem alcançar os palestinos em campo. A resistência antecede em muito o advento do Hamas, do Fatah e de suas divisões faccionárias, reafirmou o articulista do MEMO.
Baroud concluiu ao denunciar a pressão ocidental por domar a narrativa palestina, em nome de um “processo de paz” em lugar da resistência – legítima em todas as suas modalidades sob a lei internacional. “Os palestinos foram removidos da conversa e seu destino foi cedido a um grupo de homens absolutamente corruptos”, acrescentou.
Jan Chalmers – enfermeira da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) na Faixa de Gaza, em 1969 e 1970; responsável por fundar o Projeto de Tapeçaria Histórica da Palestina, em 2011 – relembrou sua juventude e sua aproximação à causa palestina.
Jehan Alfarra – jornalista do MEMO e copresidente executiva do Projeto de Tapeçaria Histórica da Palestina – abordou seus primeiros anos em Gaza e sua emigração aos Estados Unidos, para concluir seus estudos. Alfarra reiterou que a ocupação sionista busca impor uma fragmentação da população nativa. Além disso, recordou sua experiência sob bloqueio militar – sobretudo no que concerne o acesso a água e bens essenciais.
Segundo Alfarra, os palestinos da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da diáspora enfrentam as mais diversas tribulações, mas compartilham da mesma luta.
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