Cineastas de destaque internacional recorreram ao Festival Doc Edge na Nova Zelândia para banir Israel de sua programação e revogar sua parceria com a embaixada sionista, devido às violações de direitos humanos cometidas contra o povo palestino.
“Como cineastas e participantes do Festival Doc Edge, ficamos profundamente receosos com o financiamento e apoio oficial do evento pela embaixada israelense”, declararam os produtores culturais em carta remetida à diretoria do festival. “Trata-se de filiação ultrajante e inaceitável que não apoiamos”.
“Diversos grupos de direitos humanos concluem que as políticas, práticas e violações sistêmicas de Israel equivalem à definição legal de apartheid”, acrescentou a mensagem.
Entre os signatários: Cole Yeoman, diretor e produtor de Milford Road; Gabriel Shipton, diretor do documentário Ithaka, irmão de Julian Assange; e Haidy Kancler, diretora de Melting Dreams.
A carta mencionou ações perpetradas pela ocupação sionista no último mês: “Israel anunciou a limpeza étnica de mais de mil palestinos, deferiu planos para construir quase 4.500 residências em assentamentos ilegais e assassinou a sangue frio Shireen Abu Akleh, repórter da Al Jazeera, antes de atacar seu funeral”.
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Ao coligar-se a Israel, segundo os signatários, o Festival Doc Edge legitima o regime racista de apartheid que persegue contadores de história que o evento afirma apoiar. “Trata-se de uma chocante contradição ao espírito de um festival”.
A carta também expressou repúdio à alegação da diretoria de que o evento é “apolítico” e pretende “facilitar o diálogo”, ao observar que os organizadores “escolheram ativamente” aceitar recursos do governo israelense e evitaram o contato dos críticos desde 2018.
“A filiação resoluta a um regime de apartheid desmoraliza qualquer caráter apolítico”, destacou a carta. “Não se trata de ‘censura’ ou ‘grupos de pressão’, mas sim do uso israelense da cultura e da arte como propaganda, ao projetar uma imagem de sofisticação e filantropia para encobrir crimes deploráveis e justificar seu apartheid”.
Segundo os signatários, a principal apreensão não se refere à influência israelense na curadoria, mas sim a credibilidade que a ocupação obtém ao recorrer a plataformas culturais.
“Nosso chamado não é por ‘assumir lados’ ou ‘censurar histórias’, mas reconhecer a pauta de direitos humanos e manter os espaços culturais livres de qualquer normalização do racismo e da colonização”, reafirmaram os cineastas.
A carta foi inspirada pelo movimento internacional de boicote que culminou no colapso do regime de apartheid na África do Sul.
“É fundamental mobilizar meios pacíficos para que Israel dê fim a sua política de apartheid, perseguição e ocupação ilegal contra os palestinos, ao tornar o status quo inconveniente o bastante para que Israel se preocupe com a mudança”, conclui o documento.
“Trata-se de solidariedade ao povo palestino e reconhecimento global da demanda de direitos humanos, de modo que instamos o Festival Doc Edge a encerrar sua filiação com a embaixada do apartheid e desinvestir de um relacionamento que normaliza a perseguição racista do povo palestino”.