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Marrocos move ação judicial contra jornalista espanhol que denunciou o uso do software espião Pegasus

Uma mulher visita o site do spyware Pegasus feito por Israel em um escritório na capital cipriota Nicósia em 21 de julho de 2021 [Mario Godman/AFP via Getty Images]

O governo do Marrocos entrou com um processo contra um jornalista espanhol por sua reportagem sobre o governo marroquino e os serviços de inteligência utilizando o software espião israelense Pegasus contra ele e outros.

De acordo com a agência de notícias AFP, ontem, Marrocos submeteu o processo a um tribunal na capital espanhola, Madri, contra o jornalista Ignacio Cembrero, acusando-o de “calúnia” por informar que as autoridades marroquinas haviam invadido seu telefone com o spyware da Pegasus em 2019.

O spyware da Pegasus – desenvolvido e de propriedade do Grupo israelense NSO – ganhou fama nos últimos anos como resultado de seus escândalos de hacking, particularmente em julho do ano passado, quando o Observatório da Internet da Universidade de Toronto, Citizen Lab, expôs o mau uso do spyware por parte de seus clientes através do hacking de cerca de 50.000 telefones e dispositivos pertencentes a jornalistas, ativistas de direitos humanos e críticos políticos em todo o mundo.

A arma global do spyware Pegasus de Israel é usada para silenciar os críticos? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Os telefones e dispositivos atingidos pelo spyware da Pegasus ficam totalmente comprometidos, com os dados, imagens, mensagens e localização dos usuários sendo tornados acessíveis aos governos e agências que os visam. Mesmo as câmeras e microfones em seus dispositivos podem ser ativados sem o conhecimento dos usuários. A invasão dos dispositivos pode ser alcançada através de um clique do usuário ou da abertura de uma mensagem ou link, ou mesmo sem nenhuma interação através do mais recente malware ‘zero-click’.

Entre os inúmeros governos e agências de inteligência que foram revelados como tendo usado o spyware estavam Emirados Árabes Unidos,, Arábia Saudita, Cazaquistão, Bahrein e Marrocos.

O advogado de Rabat negou o uso deste software pelo país norte-africano; contudo, insistiu no processo que “a realidade é que o Reino de Marrocos não é responsável pela espionagem de Ignacio Cembrero, nem de nenhum outro cidadão. O Reino de Marrocos não tem o programa Pegasus”.

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Respondendo à ação judicial do Marrocos contra ele, Cembrero – um especialista em relações entre a Espanha e o Marrocos no jornal espanhol El Confidentiel – chamou-o de “um julgamento político para restringir a liberdade de expressão dos jornalistas”, Rabat exige, no processo, que ele retire suas acusações e reembolse os custos do julgamento.

O jornalista há muito tempo incita a raiva do governo marroquino ao longo dos anos de sua reportagem na região como correspondente, e esta não é a primeira vez que ele tenta tomar medidas legais contra ele.

Em 2013, o primeiro-ministro marroquino apresentou uma denúncia criminal contra ele na Espanha, alegando que ele estava “incitando o terrorismo” ao incluir um link para um vídeo da Al-Qaeda em um post de blog. Outra denúncia foi apresentada por Ahmed Charai, o editor e proprietário da mídia marroquina, um homem que Cembrero alegou estar ligado aos serviços de inteligência do país. Ambos os processos, no entanto, foram arquivados pelos tribunais espanhóis.

Além do próprio Cembrero ter sido hackeado pelas autoridades marroquinas, muitos outros espanhóis – e outros estrangeiros – teriam sido vigiados pelos serviços de inteligência do país através do uso do software de espionagem Pegasus.

Vários telefones de autoridades espanholas foram invadidos pela inteligência marroquina, incluindo o do Primeiro Ministro Pedro Sánchez e o da Ministra da Defesa Margarita Robles no ano passado. Até mesmo figuras como o próprio rei marroquino Mohammed VI e o presidente francês Emmanuel Macron foram considerados alvos.

De acordo com o jornal espanhol El Correo, há alguns meses, os serviços de inteligência da Espanha estão investigando o Marrocos sobre as denúncias relacionadas com o spyware. Tal investigação e suspeita da parte de Madri pode potencialmente impactar o processo atual de Rabat contra Cembrero.

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