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‘Cúmplice com apartheid’: Trabalhadores do Google denunciam acordo com Israel

Ariel Koren e Gabriel Schubiner conversaram com o MEMO antes de deixarem o Google e denunciaram as ‘práticas antiéticas’ da gigante de tecnologia sobre contratos com Israel

Ariel Koren conversou com o MEMO antes de demitir-se do Google no final de agosto. Ariel trabalhou como gerente de marketing para a Alphabet – empresa matriz da gigante de tecnologia – por sete anos. Há mais de um ano, Ariel busca mobilizar colegas para denunciar o chamado projeto Nimbus – um contrato de US$1.2 bilhão entre as corporações Google e Amazon, por um lado, e o governo e exército de Israel, por outro. Em represália à campanha, os chefes de Koren efetivamente coagiram sua demissão.

Após um período de licença, Ariel voltou ao trabalho e se deparou com uma escolha impossível: mudar-se de San Francisco para São Paulo dentro de 17 dias ou perder o emprego. Ariel preferiu demitir-se.

“No tempo em que trabalhei para a empresa, vi um enorme aumento nos esforços para sufocar qualquer iniciativa de organização dos trabalhadores”, comentou Ariel. “O Google buscou retaliar severamente contra trabalhadores que queriam ser ouvidos; muitos foram demitidos”.

“No começo, me disseram que o Google tinha um compromisso profundo com o acesso à informação e que teríamos acesso a todo tipo de informação sobre a empresa. Agora, entretanto, o Google preferiu criar todas as barreiras possíveis para que seus trabalhadores tenham conhecimento de suas atividades e penso que uma das principais razões para escolher este caminho é precisamente a busca agressiva da empresa em firmar contratos militares”.

Gabriel Schubiner – pesquisador do Google e membro do Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet – colaborou com Ariel para reivindicar de trabalhadores e dos executivos da companhia a revogação do projeto Nimbus. Gabriel reafirma que o lucrativo acordo fornecerá ao exército israelense poderosas ferramentas de inteligência artificial com objetivo de promover a expansão de assentamentos ilegais e a vigilância e repressão brutal da população palestina nos territórios ocupados.

Documentos vazados ao Intercept mostram que a Autoridade de Terras de Israel, responsável por facilitar a expansão dos assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, será a maior beneficiária do projeto Nimbus. Transcrições dos exercícios de treinamento concedidos pelo Google a agentes israelenses deram a Ariel e Gabriel o primeiro vislumbre sobre qual o verdadeiro serviço providenciado por seus empregadores ao estado do apartheid.

“Um dos oficiais israelenses perguntou se poderíamos criar um detector de mentira com a ferramenta de inteligência artificial. Seria possível, teoricamente, treinar um modelo que emule um detector de mentiras, mas especialistas concordam que a ideia é basicamente ficção científica e que a ferramenta seria incapaz de detectar mentiras com qualquer credibilidade”, advertiu Gabriel. “Mas o funcionário do Google que ministrava a sessão não explicou tais limitações, de modo que a tecnologia poderia ser usada como pretexto para ações conduzidas contra os palestinos e para justificar a opressão”.

LEIA: Trabalhadores do Google e Amazon protestam contra acordo bilionário com Israel

Um esforço anterior de trabalhadores do Google conseguiu pressionar a empresa a revogar seu contrato com o Pentágono para desenvolver ferramentas de tecnologia artificial com o propósito de aprimorar a capacidade de seus drones de guerra. Porém, quando os trabalhadores começaram a se mobilizar contra o projeto Nimbus, segundo Ariel, executivos do Google rapidamente investiram para censurá-los, sob acusações espúrias de antissemitismo. Tanto Ariel quanto Gabriel são judeus.

“Uma minoria eloquente na empresa, sobretudo executivos, são cúmplices do uso opressivo de falsas narrativas de antissemitismo para desviar das críticas de que a corporação é efetivamente cúmplice do apartheid israelense”, reiterou Ariel. “Ao longo da última semana, houve uma mobilização em massa no Google para normalizar a solidariedade aos direitos palestinos e para que a corporação aceite a ideia de que seus empregados palestinos possam expressar sua identidade no ambiente de trabalho”.

Para os trabalhadores palestinos do Google, ser parte da empresa que cria tamanha tecnologia a favor da ocupação israelense representa um fardo. Um funcionário anônimo comentou: “Sinto como se minha subsistência emanasse da opressão de minha própria família”.

Ariel e Gabriel coletaram testemunhos de trabalhadores palestinos em condição de anonimato e confirmaram casos de assédio do departamento de recursos humanos contra vestes tradicionais palestinas ou indagações sobre o projeto Nimbus. Ariel, no entanto, escolheu expressar seu repúdio publicamente – sobretudo em nome de colegas em posições de menor privilégio ou hierarquia.

Gabriel e eu decidimos exercer o imenso privilégio de sermos trabalhadores judeus contratados pela empresa. Decidimos denunciar as práticas porque a companhia nega a nossos colegas palestinos o direito básico de se sentirem seguros para expressar sua identidade e suas reivindicações.

Cinco colegas se juntaram a ambos o ex-trabalhadores do Google. Juntos, organizaram a campanha “No Tech for Israeli Apartheid” – que culminou em manifestações públicas na região de San Francisco, Seattle e Nova York, nas quais centenas de outros trabalhadores de tecnologia exibiram bandeiras palestinas e entoaram: “Google, Google, não é possível esconder seu lado do apartheid”. Ariel tem esperanças de que suas ações encorajem outros colegas a denunciarem as ações e levem o Google a “fazer a coisa certa e abandonar o Nimbus”.

“Pedimos ao Google para fazer a coisa certa”, concluiu Ariel. “Vocês receberam nossos e-mails. Vocês leram nossas petições. Vocês nos devem uma resposta; devem ao público geral uma resposta; devem a seus trabalhadores palestinos uma resposta. Todos merecemos uma postura melhor por parte da empresa”.

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