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Copa do Mundo coroa Messi entre os maiores da história, Palestina é campeã do torneio

Lionel Messi, craque da Argentina, levanta o troféu de campeão mundial, após a final contra a França na Copa do Mundo FIFA de 2022, no Estádio Lusail, no Catar, em 18 de dezembro de 2022 [FIFA]
Lionel Messi, craque da Argentina, levanta o troféu de campeão mundial, após a final contra a França na Copa do Mundo FIFA de 2022, no Estádio Lusail, no Catar, em 18 de dezembro de 2022 [FIFA]

Fecharam-se as cortinas da Copa do Mundo FIFA de 2022, sediada no Catar, torneio organizado pela primeira vez por um estado árabe e islâmico do Oriente Médio. A edição marcou história e é vista por muitos entusiastas do futebol como a melhor Copa do Mundo de todos os tempos. Apesar de críticas reiteradas por países e jornalistas ocidentais – por vezes, recaindo ao racismo e à islamofobia –, o Catar obteve êxito em sediar tamanho evento global e superar estereótipos e concepções equivocadas sobre a região, seus costumes e suas tradições. O maior triunfo, não obstante, foi a presença em campo e nas arquibancadas daquela que é a causa mais importante no coração dos povos árabes: a causa palestina. A Copa do Mundo de 2022 tornou-se um ponto de inflexão para levar a voz resiliente do povo palestino a todos os cantos do planeta.

Futebol árabe em desenvolvimento

A presença das equipes árabes na recente edição da Copa do Mundo não se restringiu a apenas participar do torneio, como costuma ocorrer. Desta vez, foi diferente, salvo os anfitriões, o time do Catar, que confirmou uma performance bastante fraca logo na fase de grupos. Os jogadores catarianos, infelizmente, pareceram confusos em campo e incapazes de suplantar a pressão de disputar o torneio mais popular do planeta em sua própria casa.

A seleção da Arábia Saudita, por outro lado, jogou bem e surpreendeu a todos ao virar contra a Argentina na partida inaugural da fase de grupos. Contudo, a equipe árabe perdeu os dois jogos seguintes e foi eliminada na primeira etapa da Copa do Mundo.

Apesar das limitações, a seleção da Tunísia mostrou garra: empatou a primeira partida contra a Dinamarca, mas perdeu da Austrália na rodada seguinte; porém, não desistiu e conquistou uma vitória histórica contra a França – campeã da Copa do Mundo de 2018, na Rússia; vice-campeã na edição do Catar – ao despedir-se do torneio. A vitória encantou a nação árabe e muito além, em meio a uma conotação geopolítica de ver povos oprimidos superando seus colonizadores.

A equipe do Marrocos foi a gloriosa exceção: a majestosa zebra desta Copa do Mundo.

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Conquista histórica do Marrocos

A seleção marroquina conseguiu alcançar um feito sem precedentes, ao obter o quarto lugar na Copa do Mundo FIFA de 2022. Até então, nenhuma equipe árabe ou africana conseguira chegar às semifinais do torneio. As sucessivas vitórias deixaram árabes e africanos cheios de orgulho e mostraram que é possível alcançar o impossível. O Marrocos armou-se do apoio de todos – não apenas entre os árabes, mas de todo o planeta, como o grande conto de superação desta Copa do Mundo. Os Leões de Atlas chegaram a tocar a ponta dos dedos no maior troféu do futebol e, assim, uniram toda a nação árabe em sua torcida.

Todos sabiam que a seleção marroquina possuía jogadores do mais alto calibre; contudo, nem o mais otimista dos torcedores esperava tamanha conquista, a começar pela classificação na fase de grupos, em primeiro lugar da chave, contra seleções favoritas como a Croácia – vice-campeã na Rússia – e a Bélgica – então primeiro lugar no ranking da FIFA. Nas eliminatórias, o Marrocos atropelou ainda Espanha e Portugal, grandes potências no futebol mundial.

Tudo isso graças à raça da equipe marroquina – incluindo jogadores, comissão técnica e equipe administrativa. O que o Marrocos representou na Copa do Mundo estará para sempre gravado na memória e na consciência de torcedores árabes e muito além. Um dia, contaremos a nossos filhos e netos sobre as batalhas épicas travadas no campo de futebol. Diremos que vimos heróis de verdade, capazes de unir a nação árabe e fazer-nos sonhar. Jamais nos esqueceremos de sua comemoração simples junto de suas mães e das cores da bandeira palestina nas arquibancadas e nos campos de uma Copa do Mundo.

Justiça seja feita ao melhor jogador da história

O capitão da seleção da Argentina, Lionel Messi, escreveu o capítulo mais extraordinário de sua carreira fantástica nos campos de futebol, após quatro tentativas sem êxito de vencer o prêmio máximo do esporte. Messi chegou a ser acusado de não jogar bem na equipe nacional; todavia, superou a pressão e a angústia característica de um tango argentino para fazer com que a sorte enfim lhe sorrisse. Messi conquistou seu sonho e o sonho de mais de 45 milhões de argentinos que festejaram como nunca em Buenos Aires e em todo o país.

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Quando criança, Messi sofreu de uma rara doença que restringia seu crescimento. Aos 35 anos, deixou seu nome gravado em letras douradas na história do esporte, ao vencer todos os títulos individuais e coletivos pelas equipes que representou. A única coisa que lhe faltava era a Copa do Mundo – a cereja do bolo, cuja ausência deixaria um retrogosto em seu final de carreira. No entanto, após vencê-la, não resta dúvida de sua majestade no futebol mundial. Messi chegou ao panteão dos melhores do mundo – quiçá, ao menos por ora, no topo da montanha.

A Argentina conquistou seu tricampeonato após 36 anos de árdua espera, quando celebrou o título da Copa do Mundo do México, em 1986, pelas mãos e pés do gênio do esporte Diego Armando Maradona. Desta vez, no Catar, uma história repleta de reviravoltas enfim consagrou Rei Lionel, responsável por inscrever a muito aguardada terceira estrela na camisa alviceleste.

Palestina, campeã de honra da Copa do Mundo

A Copa do Mundo do Catar provou que a Palestina e sua causa continuam vivas no coração dos povos árabes e de cidadãos solidários em todo o globo. O caminho da normalização, traçado na origem por Anwar Sadat, Yasser Arafat e Rei Hussein, leva apenas a decepção e fracasso; ampla maior parte dos árabes rejeitam suas promessas vazias e exigem a libertação da Palestina do rio ao mar. Vimos bandeiras palestinas esvoaçantes em todos os jogos da Copa do Mundo, indício veemente de que os árabes repudiam ainda a entidade colonial que usurpou terras originárias na Palestina histórica. Vimos a reação de massa dos povos árabes e torcedores ocidentais, seu canto eloquente em solidariedade à Palestina e sua firme recusa em conversar com repórteres do estado sionista – como se fosse normal que uma força ocupante comparecesse às fileiras do esporte mais popular do planeta. O mundo inteiro sabe agora que Israel permanece pária, tanto em âmbito regional quanto internacional, e que sua existência como ente colonial não deve ser normalizada. A ocupação israelense e seu regime de apartheid têm de ser tratados como ilegais e boicotados em todos os campos – político, econômico, esportivo e cultural.

Reafirmo: a Palestina e sua causa é o verdadeiro teste diante de nossa humanidade. Como seria possível deixar de simpatizar com sua causa, ao vermos todos os tipos de injustiça, assassinato, perseguição e deslocamento contra sua população? Um povo cujas terras foram roubadas aos olhos do mundo, cujos filhos e netos se tornaram refugiados dispersos no planeta, cujos direitos básicos de cidadania e subsistência são negados cotidianamente.

Conto aqui um relato pessoal, que ocorreu comigo no centro da cidade de São Paulo, enquanto cobria a partida entre Brasil e Coreia do Sul, pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Estava eu na área designada à imprensa, perto da torcida – uma multidão de verde-amarelo estimada em 35 mil pessoas. Um grupo de fãs viu que eu estava com uma pulseira com as cores da bandeira palestina e começou a gritar “Viva Palestina!”. Fiquei naturalmente emocionado e reencontrei a certeza de que a causa palestina persiste em todos os cantos do planeta.

No fim, a Copa do Mundo FIFA de 2022, realizada no Catar, foi excepcional em todos os níveis, seja na capacidade técnica das equipes, no poderio organizacional do país-sede, na torcida em uníssono dos povos árabes e nas demonstrações de solidariedade à Palestina ocupada. Para o mundo árabe, podemos imaginar que uma Olimpíada não está distante, uma nova oportunidade para que a causa palestina ressurgisse nos televisores de todos os continentes.

Agradeço a todos que contribuíram para o sucesso deste torneio histórico. Obrigado a todos os artistas, políticos, atletas, ativistas ou torcedores comuns que ergueram a bandeira palestina e cantaram seu nome a plenos pulmões. A solidariedade com os povos oprimidos é uma prova de grandeza. Tenham certeza de que o povo palestino jamais se esquecerá disso.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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