A Assembleia Geral do Uruguai – composta pela Câmara dos Senadores e dos Representantes – realizou uma sessão extraordinária para manifestar solidariedade ao povo palestino, diante das agressões ainda em curso conduzidas pela ocupação militar de Israel. O encontro foi convocado por diversos deputados solidários à luta palestina, em parceria com o Comitê Interparlamentar Uruguai-Palestina, estabelecido em dezembro de 2021.
A sessão bilateral contou com a presença de deputados e senadores de todos os partidos, com intuito de mobilizar apoio popular e oficial no Uruguai e em toda a América Latina, em favor do povo palestino onde quer que esteja – seja nos territórios ocupados ou na diáspora. O plenário contou ainda com a presença de Nadya Rasheed, embaixadora da Autoridade Palestina (AP) no Uruguai, dentre outros emissários, diplomatas e políticos de países latino-americanos, árabes e islâmicos, incluindo Arábia Saudita, Líbano, Turquia, Egito e Catar.
“Os palestinos são ainda vetados de exercer direitos básicos e inalienáveis a autodeterminação, independência, soberania, retorno e construção de seu presente e futuro em paz”, comentou o deputado uruguaio Ubaldo Aita durante a sessão. Aita fez um apelo a seus concidadãos e além para que ajam em favor da causa palestina. “Solidariedade não se resume a palavras”, reiterou. “Ações práticas são necessárias para dar fim a este drama. É preciso denunciar e condenar toda a situação imposta ao povo palestino. Israel é responsável direto pela situação”.
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Deputados de oposição não esconderam sua repulsa diante da sessão de solidariedade. Alguns se recusaram a discursar, outros berraram palavras de ordem em defesa de Israel e seus crimes de guerra e lesa-humanidade contra os palestinos. O parlamentar Gustavo Zubía, por exemplo, insistiu que não há qualquer razão para que o Uruguai rompa laços com o estado de apartheid de Israel. Seu colega, Felipe Schipani, alegou surpresa de um “ataque [do Congresso] contra um estado que o Uruguai reconhece desde sua criação”, em 1948, mediante limpeza étnica, evento conhecido em árabe como Nakba ou “catástrofe”.
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A senadora Sandra Lazo, no entanto, argumentou em entrevista que tais sessões são essenciais para tornar pública a vulnerabilidade do povo palestino e outras comunidades oprimidas, além de expressar apoio legítimo à autodeterminação.
“Declaramos nossas apreensões porque alguns setores do atual governo não mostram firmeza em denunciar a situação daqueles que sofrem com exílio, despossessão e morte, postura alheia àquela adotada historicamente pelo Estado uruguaio, em termos de diplomacia e resolução de conflitos”, iterou Lazo. “Na América Latina, governos mais voltados à esquerda mantiveram sua postura de solidariedade com o povo palestino. Organizamos diversas atividades no último ano e pedimos aos embaixadores para preparar uma agenda de ações conjuntas conforme o quadro de planejamento para 2023, incluindo sessão aberta no parlamento nacional”.
Lazo relatou ter contribuído pessoalmente com algumas ideias para difundir informações sobre a cultura rica da Palestina histórica, por meio de palestras, exibições de arte e visitas de campo aos territórios ocupados. “O povo uruguaio, não apenas seus representantes, merece conhecer os artistas, poetas e atletas da Palestina”.
O Uruguai foi o último país da América Latina a reconhecer o Estado da Palestina, em 2011, sem explicitar ou condicionar suas fronteiras. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores, na ocasião, ao abdicar das especificações, o país buscou evitar ingerência em um eventual acordo entre as partes. Israel condenou a medida, ao alegar que o reconhecimento do Estado palestino “era altamente prejudicial e intrusivo ao ser enunciado por partes que jamais fizeram parte do processo de paz no Oriente Médio”.
Cerca de cinco mil cidadãos uruguaios têm raízes palestinas, muitos radicados em Chuí, próximo à fronteira com o Brasil. A cidade é foco de protestos contra as reiteradas ofensivas militares de Israel aos territórios palestinos e sua população civil.
“O Uruguai não mudou sua posição histórica em defesa da lei internacional e não dá quaisquer sinais opostos ao que deve ser um compromisso claro e rigoroso em favor da justiça e da paz”, concluiu a senadora Lazo.
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