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Ambições nucleares da Turquia são uma ameaça à segurança regional?

Usina nuclear de Akkuyu em Mersin, Turquia, 27 de abril 2023 [Serkan Avci/Agência Anadolu]
Usina nuclear de Akkuyu em Mersin, Turquia, 27 de abril 2023 [Serkan Avci/Agência Anadolu]

Todos que assistiram ao filme de suspense americano Síndrome da China (The China Syndrome, 1979), dirigido por James Bridges, lembram que os eventos que causaram o “acidente” ficcional na Califórnia são baseados em ocorrências verdadeiras em instalações atômicas. A nova usina nuclear da Turquia nos traz certa memória do drama. Quando a energia nuclear se torna notícia, frequentemente é por motivos errados. Os desastres em Chernobyl e Fukushima são lembretes dos riscos presentes em infraestruturas envelhecidas das usinas atuais, dos custos astronômicos de construir novas instalações e da questão em aberto dos resíduos nucleares.

Atualmente, existem cerca de 449 reatores nucleares em operação no mundo, responsáveis por fornecer cerca de 10% da eletricidade mundial. Os Estados Unidos têm a maioria, com um total de 96 reatores. Juntos, têm uma capacidade de 97.565 megawatts; no ano passado, a energia nuclear representou cerca de 20% da eletricidade no país. A França abriga 58 reatores que produzem cerca de 75% de sua energia elétrica. Não obstante, pretende reduzir o índice a 50% até 2035, por questões de segurança. China (48), Japão (37) e Rússia (36) completam o restante dos cinco primeiros colocados.

Neste contexto, a Turquia cooperou com Moscou para inaugurar sua primeira usina de energia nuclear em Adana, batizada de Akkuyu. As obras devem prosseguir até 2025, mas sua abertura foi adiantada para celebrar o centenário de fundação da República da Turquia. Está claro que o país está prestes a ostentar energia atômica, de modo que sua primeira usina deveria receber o lote inicial de combustíveis nucleares na semana passada.

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A usina tem uma vida útil estimada em 60 anos, com possibilidade de extensão por mais duas décadas, para produzir energia livre de carbono 24 horas por dia. Akkuyu é o primeiro projeto de “planta nuclear de potência” (PNP) implementado no mundo mediante modelo simultâneo de obra e operacionalidade. Sob o duradouro contrato, a corporação russa Rosatom concordou em prover a projeto, construção, manutenção, operação e descomissionamento da usina.

Em âmbito global, a primeira usina nuclear da Turquia tem o aval da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Representantes da agência monitoram o processo através de missões e serviços de consultoria, com o intuito de manter os mais altos padrões para Akkuyu – incluindo  segurança nuclear.

Rafael Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica, insistiu neste contexto que a energia nuclear deve ser sempre uma força para o bem. “Estou feliz por acompanhar a Turquia neste dia histórico, em que o projeto de Akkuyu se torna realidade, na cerimônia de chegada do primeiro combustível nuclear na primeira usina do país”.

No entanto, alguns cidadãos turcos são contra a usina. Há preocupações referentes a desastres ocorridos em todo o mundo. Após o acidente na usina de Chernobyl, a costa leste do Mar Negro foi uma das regiões mais contaminadas da Turquia. Moradores da região relatam que, após a catástrofe de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, casos de câncer aumentaram drasticamente, assim como a incidência de bócio.

Durante a Segunda Guerra Mundial e todo o período da Guerra Fria, os Estados Unidos geraram milhões de litros de resíduos radioativos – uma mistura de líquido, sedimento e lodo – em nome da defesa nacional. O lixo tóxico, subproduto da geração de plutônio para bombas nucleares, foi armazenado durante 45 anos em tanques subterrâneos, sobretudo em Hanford, Washington e no Savannah River Site, na Carolina do Sul. É imperativo, portanto, debater a questão industrial da segurança dos resíduos nucleares na Turquia, em conformidade com os rigorosos requisitos da Comissão Reguladora Nuclear instaurada no país.

Até então, fontes de energia nuclear e renovável não são alternativas entre si. O fornecimento de recursos renováveis pode variar de acordo com as condições do dia. As fontes de energia de base que costumam funcionar com a mesma eficácia são gás natural e carvão, além da energia atômica, embora sejam altamente poluentes. Ao formular a estratégia energética de um país, é preciso encontrar certo equilíbrio entre os dois parâmetros, investir e desenvolver a capacidade de ambos. A curto prazo, todavia, a energia nuclear na Turquia deve ajudá-la a cumprir as regras do Acordo de Paris conforme o projeto de transição energética.

Se financiado devidamente e administrado com cuidado, não há motivo para que a nova usina na Turquia represente um perigo intrínseco à região. Pelo contrário, pode ser um grande passo rumo à redução das emissões de carbono em nossa atmosfera já muito poluída.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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