Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e parlamentar republicano pelo estado da Califórnia, tentou obstruir a realização de um evento proposto por Rashida Tlaib, democrata de Michigan, planejado para esta quarta-feira (11), em memoração da Nakba – ou “catástrofe”, como os palestinos chamam a criação do Estado de Israel, via limpeza étnica, em 15 de maio de 1948.
Tlaib organizou uma conferência no Capitólio, mas McCarthy – deputado notoriamente sionista – apregoou o cancelamento do evento, sob a promessa de um debate bipartidário em nome do que descreveu como 75° aniversário das relações entre Israel e Estados Unidos.
O evento da Nakba seria conduzido em um auditório para 400 pessoas, no Centro de Visitantes do Capitólio, de acordo com o Instituto para Compreensão sobre Oriente Médio (IMEU), mas foi transferido a um salão ainda maior no Edifício Dirksen de Escritórios do Senado.
A mudança foi coordenada por Bernie Sanders, cidadão judeu de Nova York e chefe do Comitê do Senado de Saúde, Educação, Trabalho e Previdência. McCarthy não tem jurisdição sobre os salões da Câmara Alta dos Estados Unidos.
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Apesar dos esforços para contrapor e difamar o evento, que denuncia o apartheid israelense, o auditório ficou lotado, incluindo pessoas de pé. Tlaib comentou em sua página do Twitter: “Que as manchetes digam ‘McCarthy tenta apagar a Palestina; porém, fracassa’.”
Em nota, Tlaib – primeira congressista americana de raízes palestinas – afirmou que McCarthy “tentou apagar a verdade histórica e mesmo a existência do povo palestino, mas fracassou. Este evento tem como objetivo conscientizar o público e conferir espaço aos palestino-americanos que viveram a Nakba para que contem suas histórias de trauma e sobrevivência”
McCarthy apelou ao direito de Israel a “autodeterminação” e “autodefesa” para tentar obstruir a realização do evento. Notavelmente, o deputado americano ignorou os direitos relevantes do povo palestino, sob ocupação e colonização ilegal perpetrada por Israel há 75 anos.
“Enquanto eu for presidente desta Câmara, não se enganem, vamos apoiar o direito de Israel de existir e de se defender, de maneira bipartidária”, insistiu McCarthy.
Pete Aguilar, também da Califórnia, líder do bloco democrata na Câmara, criticou o presidente do parlamento por cancelar o evento. “As pessoas têm o direito de se reunir, de ter discussões, de expressar seus pontos de vista e suas ideias. É assim que somos”, declarou Aguilar.
Entre as organizações presentes estiveram a Jewish Voice for Peace (JVP), Americans for Justice in Palestine, a Campanha Americana por Direitos Palestinos e a Coalizão da Virgínia por Direitos Humanos. Cori Bush, deputada democrata do Missouri, também compareceu ao ato.
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Tlaib apresentou uma resolução a ser levada ao Congresso para reconhecer a Nakba palestina como evento histórico “ainda em curso”. A deputada acusou Israel de “conduzir uma campanha de terrorismo de Estado” no complexo de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada.
Grupos que organizaram o evento, incluindo a ong Democracy for the Arab World Now (DAWN), além do IMEU, celebraram ter superado os esforços para obstruir o ato. “McCarthy tentou mais uma vez silenciar os palestinos e seus apoiadores; no entanto, não fomos silenciados”, destacou um comunicado conjunto dos organizadores.
“O evento e a resolução da congressista Tlaib são marcos que refletem a mudança no apoio aos direitos palestinos nos Estados Unidos”, acrescentou a nota. “Para curar as feridas do passado, temos de ser honestos sobre a história. Reconhecer a Nakba é um passo importante à liberdade e justiça para o povo palestino”.