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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Revolta armada: Por que Israel é incapaz de esmagar a resistência palestina?

Membros das Brigadas al-Quds, braço armado do movimento de Jihad Islâmica, durante desfile na Cidade de Gaza, em 12 de novembro de 2020 [Mustafa Hassona/Agência Anadolu]

Os números podem desumanizar os fatos. Contudo, quando postos no contexto adequado, ajudam a entender questões amplas e urgentes. Por exemplo: por que a Palestina ocupada está à margem de uma revolta? E por que Israel é incapaz de esmagar a resistência palestina não importa quão violento seja?

É aqui que os números se tornam relevantes. Desde o começo do ano, quase 200 palestinos foram mortos na Cisjordânia ocupada e Faixa de Gaza sitiada. Entre as vítimas, ao menos 27 crianças e adolescentes.

Se imaginarmos um mapa de calor que correlaciona aldeias, cidades e campos de refugiados alvejados à incipiente rebelião em curso, veremos conexões imediatas. Nablus, Jenin e Gaza, por exemplo, são as áreas que pagaram o mais alto preço nas mãos de Israel, o que as torna também foco da resistência.

Não surpreende que os refugiados palestinos estejam historicamente na vanguarda da causa pela libertação da Palestina, de modo que campos como Jenin, Balata, Aqabat Jabr, Jabaliya, Nuseirat e outros se tornem viveiros da resistência armada e popular. Quanto maior o golpe de Israel para tentar esmagá-los, maior a reação.

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Veja Jenin. O revoltoso campo de refugiados jamais deixou de resistir à ocupação israelense desde a célebre batalha e o subsequente massacre de abril de 2002, no contexto da Segunda Intifada. A resistência sobreviveu em Jenin das mais diversas maneiras, apesar de muitos dos combatentes que defenderam o campo terem sido mortos ou encarcerados.

Agora que uma nova geração toma a dianteira, Israel novamente tenta esmagá-la. Incursões militares em Jenin se tornaram rotina, deixando para trás cada vez mais mortos e feridos; no entanto, com um custo desferido em resposta à própria ocupação.

Quem sabe, uma das mais violentas dessas operações ocorreu em 26 de janeiro, quando o exército ocupante invadiu o campo, matou dez pessoas e feriu outras vinte.

Mais e mais vidas palestinas são ceifadas à medida que as invasões de Israel se tornam mais frequentes. Quanto mais recorrentes, todavia, mais veemente a resistência, que já extravasa os confins de Jenin e alcança os checkpoints militares e assentamentos ilegais nos arredores da cidade. É de conhecimento comum que muitos dos palestinos acusados pela ocupação de conduzir ataques contra soldados e colonos vêm de Jenin.

Os israelenses gostam de pensar que sua própria violência contra os palestinos reflete atos de autodefesa. Mas isso simplesmente não é verdade. Uma força de ocupação militar – seja na Palestina ou qualquer outro lugar – não pode, por rigorosa definição, agir em autodefesa. Este conceito se aplica somente a nações soberanas que tentam se proteger de ameaças em suas fronteiras reconhecidas internacionalmente.

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Não somente Israel é definido pelo direito e pela comunidade internacional como “potência ocupante” como é legalmente obrigado a “assegurar que a população civil esteja protegida de todos os atos de violência”, como alertou um comunicado da Secretaria-geral das Nações Unidas em 20 de junho.

A declaração se referia ao assassinato de oito palestinos em Jenin no dia anterior. Dentre as vítimas, duas crianças: Sadil Ghassan Turkman (14) e Ahmed Saqr (15). Desnecessário dizer, Israel não está nada preocupado com a “proteção” destes ou de outros menores palestinos. Ao contrário, está investido em lhes fazer mal.

Mas já que as Nações Unidas e outros órgãos e governos da comunidade internacional estão satisfeitos com suas notas de repúdio – ao “relembrar” Israel de suas responsabilidades; ou expressar “profunda apreensão” sobre a conjuntura; ou mesmo, como no caso dos Estados Unidos, culpar as vítimas – que outras opções têm os palestinos senão resistir?

O surgimento de grupos como Toca do Leão, Brigadas de Jenin, Brigadas de Nablus e outros, compostos sobretudo de refugiados em situação de miséria, armados precariamente, não me parece um mistério. A urgência de lutar vem da opressão, humilhação e violações do dia a dia. É assim que funcionam as relações e conflitos desde os primórdios da humanidade.

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Mas a insurreição dos palestinos pode ainda ser desconfortável àqueles que tanto desejam preservar o status quo. Falo aqui da Autoridade Palestina, que teme perder o pouco que tem caso um levante se espalhe para além das fronteiras no norte da Cisjordânia. Seu presidente, Mahmoud Abbas, que desfruta de pouca ou nenhuma legitimidade, tampouco tem função política neste tabuleiro. Deste modo, recursos estrangeiros se exaurem e seu partido parece próximo da extinção.

Para Israel, os riscos são também enormes.

O exército israelense, sob liderança de um antigo inimigo do premiê Benjamin Netanyahu, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, deseja intensificar as operações de combate direto contra os palestinos; entretanto, sem repetir a invasão aberta de 2002. Não obstante, a agência de inteligência doméstica, Shin Bet, parece cada vez mais sedenta por uma repressão de larga escala.

O ministro das Finanças e deputado de extrema-direita, Bezalel Smotrich, quer, por sua vez, explorar a escalada como um pretexto para expandir os assentamentos ilegais. O ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, espera ir ainda além: na esperança de uma guerra civil cuja vanguarda seria os mais violentos colonos ilegais – o âmago de seu eleitorado.

Netanyahu, destinado a lamber suas próprias feridas legais e políticas, tenta dar a todos um pouco do que pedem; contudo, em doses homeopáticas. Tamanho paradoxo é certamente a receita do caos.

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Esta conjunção de elementos culminou na reativação, por ordens de Gallant, de assassinatos aéreos de palestinos na Cisjordânia ocupada, pela primeira vez desde a Segunda Intifada. O primeiro destes ataques ocorreu em Jalameh, na região de Jenin, no dia 21 de junho. Neste entremeio, o Shin Bet expande sua lista de alvos e mais assassinatos devem suceder.

Smotrich planeja uma expansão massiva dos assentamentos ilegais; Ben-Gvir incita hordas de colonos radicalizados para que conduzam pogroms em aldeias campesinas e pacíficas da Palestina. O inferno de Huwwara, em 26 de fevereiro, ressoou fatalmente em Turmus’ Ayya, em 21 de junho.

Embora Estados Unidos e outros países ocidentais continuem a evitar qualquer intervenção nos supostos “assuntos internos” de Israel, é preciso cuidado ao ponderar sobre os eventos na Palestina. Não são negócios como de praxe.

A próxima Intifada na Palestina histórica será armada, popular e independente de facções. Suas consequências serão absolutamente difíceis de conter.

Embora para os palestinos um levante seja um grito uníssono contra a injustiça generalizada, para figuras como Smotrich e Ben-Gvir, a violência nada mais é do que uma tática de limpeza étnica, guerra civil e expansão colonial. Considerando os pogroms em Huwwara e Turmus’ Ayya, a guerra civil já começou.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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