Se William Shakespeare estivesse vivo hoje, poderia repensar sua célebre citação “De que vale um nome?” após vivenciar os bombardeios israelenses à Faixa de Gaza sitiada.
Sentado no Hospital de al-Shifa, na Cidade de Gaza, em meio a prantos e lamentos, Ahmed Abu al-Saba (35) escreve seu nome em seu braço.
“Escrevemos nossos nomes em nossas mãos e os nomes de nossos filhos em suas mãos para permitir que nossos corpos sejam identificados caso a ocupação nos bombardeie”,
observou al-Saba à agência Anadolu.
Na tragédia consagrada, Julieta pergunta a Romeu, “De que vale um nome?”, para expressar a ideia de que nome das coisas pouco importa. “De que vale um nome, se o que chamamos rosa, sob outra designação teria igual perfume?”.
Em Gaza, contudo, centenas de pessoas, sobretudo crianças, enfileiradas nos corredores dos hospitais registram seus nomes em partes de seus corpos. Al-Saba está entre um dos muitos palestinos que o fazem, para que possam ser encontrados caso percam a vida para a chacina israelense, em curso desde 7 de outubro.
Ao menos 2.055 crianças foram mortas por Israel até então. São cinco mil vítimas no total em apenas duas semanas.
Fugindo entre as ruínas de suas casas e cidades, palestinos angustiados improvisam meios para serem identificados na hipótese provável de uma fatalidade. “Há muitos mártires, em particular, crianças, cujas famílias têm dificuldades em achar”, prosseguiu al-Saba.
“A ocupação não discrimina, bombardeia tudo”
As cenas de bairros destruídos em Gaza revelam histórias de catástrofe e devastação. Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas pela ofensiva israelense, centenas se refugiam nos hospitais e escolas da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A ocupação não discrimina, bombardeia tudo”,
reiterou al-Saba.
“Parentes escrevem seus nomes nas mãos e pernas uns dos outros para serem identificados quando bombardeados por Israel, por armas mortais fabricadas e distribuídas pelos Estados Unidos”, escreveu Sami al-Arian, professor palestino, na rede social X (Twitter).
“Seu sangue inocente está nas mãos do presidente [dos Estados Unidos] Joe Biden e seus amigos sedentos por sangue. No mundo deles, as crianças palestinas não merecem viver, enquanto criminosos israelenses são celebrados e protegidos”,
acrescentou al-Arian.
“Às favas com seu racismo e sua hipocrisia!”, concluiu o professor.
O massacre em Gaza é retaliação à chamada Operação Tempestade de Al-Aqsa, campanha de resistência do grupo Hamas, que atravessou a fronteira por terra e capturou soldados e colonos. Trata-se de punição coletiva, genocídio e crime de guerra.
A ação decorreu de recordes de escalada colonial em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada, além de 17 anos de cerco militar a Gaza.
Ao menos 5.087 pessoas — entre os quais, 1.023 mulheres e 2.055 crianças — foram assassinadas por Israel até então, além de 15.273 feridos.
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