Ahmed Shabat, de apenas 4 anos, continua a perguntar dos pais e querer se levantar, mas seus pais foram mortos e suas pernas tiveram de ser amputadas, após um bombardeio de Israel que destruiu sua casa em Beit Hanoun, no nordeste de Gaza.
As informações são da agência de notícias Reuters.
“Todo dia, o menino pergunta, ‘Cadê papai? Cadê mamãe?’ Todo santo dia. Tentamos muito, muito mesmo, fazê-lo esquecer por um instante para que se adapte à situação em que está”, relatou seu tio, Ibrahim Abu Amsha, que se tornou seu guardião.
Abu Amsha recorda que a explosão atirou o menino à casa vizinha e matou 17 membros da família. O único outro sobrevivente foi o irmão de dois anos de Ahmed.
Mais de 52 mil pessoas viviam em Beit Hanoun antes de Israel deflagrar sua campanha de extermínio contra Gaza. Agora, quase não há prédios de pé, confirmou Nahum Barnea em artigo ao jornal Yedioth Ahronoth, escoltado à área pelas Forças Armadas.
Ahmed Shabat keeps asking for his parents, and he wants to get up and walk, but his parents were killed and his legs were amputated when an Israeli air strike hit their home.
This is his plight⁰⁰https://t.co/BBJ9LJ5Ezr
— TRT World (@trtworld) November 15, 2023
A família de Abu Amsha acolheu os meninos em sua casa, no campo de refugiados de Nuseirat, ao sul da Cidade de Gaza, quando foram outra vez atingidos pelas bombas.
As pernas de Ahmed foram irremediavelmente feridas. Em risco de vida, o menino foi levado às pressas ao Hospital Shuhada Al-Aqsa em Deir al-Balah, ainda mais ao sul, onde recebeu os cuidados do cirurgião ortopedista Ahmed Zayyan.
“Recebemos este menino com ferimentos recentes. Seus membros inferiores haviam sido amputados pela explosão”, relatou o médico no sábado (15), enquanto se preparava para operar o pequeno Ahmed.
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O dr. Zayyan relatou a superlotação do centro médico, com incontáveis feridos em estado grave, de modo que o procedimento de Ahmed teria de ocorrer às pressas em um quarto utilizado para partos, em vez de uma sala de operações adequada.
“Teremos de realizar uma amputação do membro inferior direito, acima do joelho, devido a graves lacerações. O mesmo para a perna esquerda”, registrou o médico.
“O que ele fez?”
Durante a cirurgia, o dr. Zayyan falou dos desafios de um procedimento como este em uma criança tão jovem, ao destacar quão brutal é a ofensiva militar israelense aos trabalhadores de saúde.
“A equipe está exausta. Não há gente suficiente. Alguns foram mortos, outros feridos, incluindo médicos, enfermeiros, anestesiologistas”, observou.
“A operação em uma criança é árdua porque é preciso especificar a localidade das veias, artérias e nervos, isolá-los e separá-los, o que toma tempo”, prosseguiu. “Nós tentamos fazer tudo o mais rápido possível, ao dar ao menino o sangue que perdeu na ocasião do trauma … Esperamos o melhor”.
Ahmed está agora em recuperação. Ao lado da cama, seu tio acaricia seu rosto após lhe trazer um carrinho de brinquedo. O menino, no entanto, rejeitou o presente.
“Ele me perguntou várias e várias vezes. Ele quer descer da cama e andar. Ele continua me perguntando e eu tenho de lhe dizer que é preciso esperar até que suas pernas melhorem, para convencê-lo a tomar os remédios”, lamentou Abu Amsha.
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“Ele não sente que perdeu as pernas, mas nós não temos opção, temos de tentar muito, muito mesmo, fazê-lo se esquecer de tudo isso por um minuto”.
Israel mantém uma violenta ofensiva contra a Faixa de Gaza sitiada desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação surpresa do movimento Hamas que atravessou a fronteira e capturou cerca de 240 colonos e soldados.
Israel matou mais de 11.500 pessoas em 40 dias, incluindo 4.710 crianças e 3.160 mulheres, além de 30 mil feridos. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e outras entidades internacionais denunciam a catástrofe humanitária em Gaza. Líderes ocidentais, porém, mantêm seu apoio às ações israelenses, que comportam punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
“Este menino não perdeu apenas seus pais, perdeu as pernas também”, concluiu Abu Amsha. “Ele ainda é uma criança. O que ele fez para merecer isso?!”