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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Gaza, uma história de conquistas, ressurgência e renascimento

Sítio arqueológico de Santo Hilário, um dos maiores monastérios cristãos do Oriente Médio, em Tell Umm al-Amr, perto de Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, em 19 de março de 2013 [Mohammed Abed/AFP via Getty Images]

Aqueles que não conhecem Gaza e sua história podem associá-la quase exclusivamente a destruição, escombros e bombardeios de Israel.

Não podemos culpá-los.

Em 3 de novembro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA) confirmaram que 45% das unidades habitacionais de Gaza foram destruídas ou danificadas pela mais recente agressão israelense ao território sitiado.

Não obstante, a história de Gaza é também uma história de grandes civilizações, ressurgência e renascimento.

Pouco antes de se deflagrar a ofensiva ainda em curso, em 23 de setembro, arqueólogos de Gaza anunciaram a descoberta de quatro túmulos da era romana na Cidade de Gaza, incluindo “dois caixões de chumbo, um delicadamente esculpido com motivos de colheita e outro com golfinhos flutuando sobre as águas”. Conforme arqueólogos palestinos e franceses, as sepulturas têm ao menos dois milênios.

Em julho, um feito ainda mais extraordinário: uma enorme descoberta arqueológica de cerca de 125 túmulos, a maioria contendo esqueletos intactos, junto de dois sarcófagos de chumbo extremamente raros.

E se você acha que as descobertas são incidentes isolados, pense bem.

Gaza não apenas existe há centenas de anos, mas milhares e milhares de anos que antecederam a destruição da Palestina histórica por meio da Nakba — ou “catástrofe” — em 1948, quando foi criado o Estado de Israel, junto de suas guerras subsequentes e da narrativa colonial de que o território fosse sinônimo de violência.

Eu mesmo cresci no campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza. Ainda criança, entendi que algo grandioso havia ocorrido naquelas terras, apesar de não conhecer profundamente as raízes históricas que agora menciono.

Por anos, escalei Tell el-Ajjul — ou Monte dos Vitelos — a nordeste de Nuseirat, incrustado entre a orla mediterrânea e o vale de Gaza, para procurar moedas antigas, ou sahatit. Coletávamos pequenas peças de metal enferrujado e levávamos para casa, sem saber de seu inestimável valor histórico. Minha mãe os recebia de minhas mãos como tesouros e os guardava em uma cômoda decorada com bordados que ela havia feito com sua máquina de costura Singer.

Ainda penso nesse tesouro, talvez perdido quando minha mãe faleceu. Sei agora que eram moedas hicsas, romanas e bizantinas.

Mamãe esfregava diligentemente as moedas com suco de limão e vinagre, e misteriosos escritos e símbolos em latim surgiam na superfície, junto de cabeças coroadas de governantes do passado. Percebi que aquelas peças antigas eram usadas por nosso povo ancestral desde tempos imemoriais.

A região sobre a qual Nuseirat foi construído foi habitada pelos cananeus, cuja presença é notável em diversas descobertas arqueológicas na Palestina histórica.

O que torna Nuseirat absolutamente singular é sua centralidade geográfica em Gaza, sua posição estratégica na zona costeira e sua topografia. As colinas de Nuseirat e sua adjacência ao vale de Gaza tornaram a região pouco habitável nos tempos antigos. No entanto, evidências de presença de civilizações helênicas, romanas, bizantinas, islâmicas e outras que habitaram a terra há milênios é testemunho de sua importância histórica.

Quando os hicsos governaram a Palestina, há quatro mil anos, durante o período tardio da Idade do Bronze (2000-1500 a.C.), uma civilização extraordinária abarcou a região, se estendendo desde o Egito até a Síria. Sua dinastia era tão poderosa que chegou à terra dos faraós e por lá ficou até ser derrotada pelos Povos do Mar. Deixaram para trás palácios, templos, trincheiras e monumentos — o maior deles encontrado no centro de Gaza, precisamente onde nasce seu vale.

Tell Umm el-’Amr — ou Umm el-’Amr’s Hill — também abrigou uma antiga cidade cristã, com um enorme monastério, contendo seis igrejas, casas, banhos, mosaicos, criptas e mais. Descobertas em Tell Umm el-’Amr são relativamente recentes. Segundo o Fundo Mundial de Monumentos (WMF), essa cidade cristã foi abandonada após um violento terremoto atingi-la em torno do século VII. O processo de escavação começou em 1999 e uma dedicada campanha de preservação tomou forma a partir de 2010.

Em 2018, a restauração do monastério enfim começou. A descoberta do complexo de Santo Hilário representa um dos tesouros arqueológicos mais preciosos não apenas do sul mediterrâneo de Gaza como de todo o Oriente Médio.

Há ainda o cemitério Shobani e o sítio histórico de Tell Abu-Hussein, ambos perto do mar, a oeste e noroeste de Nuseirat.

Segundo um historiador de Gaza com quem conversei, é quase certo que Tell Abu Hussein esteve associado à campanha do sultão Salah ad-Din al-Ayyubi — conhecido no mundo ocidental como Saladino — na Palestina histórica, quando enfim derrotou os conquistadores cruzados em 1187.

A história do campo de refugiados de Nuseirat — onde cresci — é essencialmente a história de todo o território de Gaza, uma região que exerceu importância única em moldar a Antiguidade e o presente, tanto por seus momentos triunfantes como por suas tragédias.

O que ocorre hoje em Gaza é nada mais que um momento na história — traumático e definitivo, mas sabemos, como palestinos, que a memória e história do povo se provou uma e outra vez muito mais resilientes que nossos conquistadores e mesmo a História.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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