Israel confirmou suas piores perdas militares em mais de um mês, nesta quarta-feira (13), após seus batalhões caírem em uma emboscada nas ruínas de Gaza, somando-se ao isolamento diplomático à medida que o território palestino é tomado por vítimas civis e catástrofe humanitária.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Combates intensos incidiram sobre o sul e norte de Gaza, um dia após a Organização das Nações Unidas reforçar sua recomendação por um cessar-fogo humanitário em caráter urgente.
Neste entremeio, sob crise interna à véspera de um conturbado eleitoral, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, admitiu que o bombardeio “indiscriminado” por parte de Israel incorre em duro prejuízo a seu apoio internacional.
O premiê israelense Benjamin Netanyahu, no entanto, insistiu que suas ações continuarão independente do posicionamento da comunidade internacional. “Continuaremos até o fim, até a vitória, até aniquilar o Hamas”, declarou Netanyahu a soldados radicados em Gaza via rádio militar. “Nada vai nos parar”.
Israel reportou dez soldados mortos em 24 horas, incluindo um coronel que comandava uma base de avanço e um tenente-coronel responsável por um regimento ocupante. Trata-se do número mais alto desde 31 de outubro, quando 15 soldados foram mortos.
A título de comparação, no entanto, são 18.600 palestinos mortos em Gaza e 50 mil feridos – 70% dos quais mulheres e crianças. Milhares continuam sob os escombros – provavelmente mortos.
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A maioria das baixas israelenses ocorreu no distrito de Shujaya, na Cidade de Gaza, onde tropas foram surpreendidas ao avançarem contra a resistência nas ruínas de um prédio. Antes do ataque, o tenente Tomer Greenberg proferiu a seu batalhão um discurso épico, ao prometer uma “esmagadora vitória” e recorrer a “profecias” e outras alegorias.
O Hamas reiterou que o episódio mostra que as forças israelenses não encontrarão rendição em Gaza. “Quando mais tempo passarem aqui, maior será sua conta e serão forçados a deixar as terras com seu rabo entre as pernas – se Deus quiser”, comentou o grupo de resistência islâmica.
Israel comandou uma campanha de propaganda de guerra para reunir apoio internacional, ao lançar sua agressão a Gaza, sob pretexto de combater o “terrorismo” do Hamas, após uma operação surpresa em 7 de outubro que cruzou a fronteira e capturou 240 colonos e soldados.
Desde então, Israel destruiu o território sitiado, matou 18.608 pessoas, feriu 50.594 e deslocou cerca de dois milhões dentre os 2.4 milhões de habitantes de Gaza. Setenta porcento das vítimas são mulheres e crianças. Estima-se que 25 mil menores de idade perderam um ou ambos os pais.
Aviões de Gaza mantêm bombardeios indiscriminados sobre todo o território, incluindo rotas de fuga e abrigos, mesmo depois de ordenarem os palestinos a deixar suas casas rumo à fronteira com o Egito, às vésperas do inverno. O início das chuvas agravou a crise.
A campanha israelense é denunciada como um esforço de genocídio e limpeza étnica para anexar Gaza.
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Em Rafah, onde centenas de milhares buscaram abrigo, a noite foi marcada pelo sepultamento debaixo de chuva de uma família morta por um bombardeio israelense durante a madrugada. Dentre as vítimas, envoltas em lençóis ensanguentados, havia corpos de crianças pequenas.
Um bebê, com poucos dias de vida, foi enrolado em um cobertor rosa.
Túmulos profanados
Ahmed Abu Reyash coletou os corpos de suas sobrinhas, de somente 5 e 7 anos. Ao andar pela rua com uma das meninas, sua atenção foi chamada pelos gritos de um parente: “São crianças! Crianças! Eles só matam crianças, por acaso? São inocentes! Eles as mataram com suas mãos sujas de sangue!”
Em meio a tendas improvisadas, Yasmin Mhani despertou à noite para ver sua caçula, de sete meses de idade, encharcada. A família de cinco pessoas compartilha um único cobertor desde a destruição de sua casa, por uma bomba israelense. A família perdeu tudo no ataque, uma criança morreu.
“Nossa casa foi destruída, uma criança foi morta e enfrentamos tudo isso. Este é o quinto lugar em que buscamos abrigo, fugindo de um canto a outro, sem nada exceto a roupa do corpo”, afirmou Yasmin ao pendurar as roupas para secar do lado de fora de sua tenda.
As cicatrizes da invasão por terra do exército colonial de Israel são notáveis em um cemitério do bairro de al-Faluja, em Jabaliya, no norte de Gaza. Ao passar pelo local, tanques de guerra reviraram a terra e profanaram túmulos, exumando diversos corpos.
Desde a decisão israelense de não renovar a trégua em Gaza, no início de dezembro, forças da ocupação ampliaram sua campanha militar ao sul, com foco em Khan Yunis. Tratores avançaram contra o centro da cidade, destruindo uma estrada de uso civil.
Combates nas ruínas tomaram o norte, à medida que a resistência assumiu um caráter de guerrilha, tomando de surpresa as tropas invasoras, que já haviam cantado vitória.
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Hospitais no norte pararam de funcionar quase completamente. No sul, estão repletos de feridos e mortos, que chegam a dezenas dia e noite.
“Médicos como eu têm de pisar nos corpos das crianças para salvar outras crianças”, afirmou à Reuters o britânico Chris Hook, a serviço da rede Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Hospital Nasser, em Khan Yunis.
Israel alega encorajar a assistência a Gaza via fronteira com o Egito e insiste em quatro horas de pausas em seus violentos bombardeios. O socorro autorizado a entrar, no entanto, é ínfimo. A Organização das Nações Unidas reitera que a insegurança limita o trabalho assistencial.
Voto na ONU
O voto da Assembleia Geral das Nações Unidas por um cessar-fogo não tem caráter vinculativo, mas reafirma a erosão do apoio internacional à agressão de Israel. Três quartos dos 193 países-membros votaram pelo cessar-fogo; apenas oito se juntaram a Estados Unidos e Israel a favor da guerra.
Antes da votação, Biden insistiu que a ocupação israelense ainda tem apoio “da maior parte do mundo”, apesar de protestos persistirem em todo solo americano, incluindo um grupo de judeus antissionistas – entre os quais sobreviventes do Holocausto – que se acorrentaram aos portões da Casa Branca.
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“No entanto, estão começando a perder apoio pelos bombardeios indiscriminados a alguns lugares”, admitiu Biden, em um evento a doadores e lobistas.
Trata-se do sinal mais evidente de apreensão em Washington até então, à medida que Biden chegou a afirmar que o governo linha dura de Netanyahu “não pode dizer não” a um Estado palestino.
Suas palavras refletem apreensões políticas, contudo, sem medidas efetivas por um cessar-fogo. As ações israelenses, com cumplicidade do governo democrata em Washington, são crime de guerra e genocídio.