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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Aumento da credibilidade do Hamas contrapõe crise israelense de relações públicas

Estudantes protestam por um cessar-fogo em Gaza na Universidade Humboldt, em Berlim, em 13 de dezembro de 2023 [Halil Sagirkaya/Agência Anadolu]

A rede de notícias CNN citou uma avaliação da inteligência dos Estados Unidos dizendo que, desde a deflagração da Operação Tempestade de Al-Aqsa, em 7 de outubro, a credibilidade e a influência do Hamas cresceu drasticamente, tanto global quanto nacionalmente.

Em 7 de outubro de 2023, combatentes da resistência palestina atravessaram a fronteira ao território considerado Israel e capturaram soldados e colonos.

“À medida que a implacável campanha aérea israelense matou milhares de civis em Gaza, o Hamas — designado grupo terrorista por Estados Unidos e Europa — conseguiu se projetar como o único grupo armado reagindo a um opressor brutal que mata mulheres e crianças”, admitiu a reportagem da CNN em inglês.

Conforme oficiais americanos, o Hamas conseguiu se posicionar no mundo árabe e islâmico como defensor da causa palestina.

LEIA: O vergonhoso desequilíbrio nas relações EUA-Israel

As fontes afirmaram monitorar indicadores chave que confirmam o crescimento no apoio do Hamas nos territórios palestinos ocupados e restante do mundo.

Da perspectiva do Hamas, a ação de 7 de outubro foi um sucesso operacional extraordinário. Desde então, o grupo recebeu crédito, em particular na Cisjordânia ocupada, por negociar a libertação de centenas de reféns palestinos das cadeias de Israel, em troca de prisioneiros de guerra mantidos em Gaza.

Oficiais da Casa Branca e do Pentágono passaram a alertar publicamente que o número de civis mortos pelo exército israelense corre o risco de aumentar ainda mais a popularidade do Hamas e inspirar novas ações de resistência.

“Nesse tipo de luta, o centro de gravidade é a população civil”, disse o secretário da Defesa, Lloyd Austin, no início do mês. “E se você os levar para os braços do inimigo, você substituirá uma vitória tática por uma derrota estratégica.”

Uma pesquisa do Centro Palestino para Pesquisa de Políticas mostrou que o apoio ao Hamas na Cisjordânia ocupada por Israel aumentou de 12% em setembro para 44% em dezembro.

Na Cisjordânia, cerca de 70% da população nativa crê que a luta armada é o melhor caminho para dar fim à ocupação. A maioria crê também que a formação de grupos armados nas comunidades atacadas cotidianamente por colonos é a forma mais eficaz de combater o terrorismo israelense.

Sobre a operação de 7 de outubro, cerca de 72% consideram-na correta, com 82% de apoio na Cisjordânia e 57% em Gaza.

Uma maioria esmagadora (95%) denuncia Israel por crimes de guerra. A mesma maioria contesta as acusações israelenses de “atrocidades” cometidas pelas forças de resistência em 7 de outubro.

O apoio à resistência cruzou fronteiras, tomando os protestos pró-Palestina em Amã, capital da Jordânia, além de diversas cidades do chamado mundo árabe.

Segundo Jonathan Panikoff, ex-oficial do serviço secreto americano, o Hamas é cada vez mais “visto como o único grupo que realmente faz alguma coisa sobre a ocupação israelense”.

Análises complementares apontam a queda vertiginosa no apoio a Israel, sobretudo entre os jovens, incluindo coletivos crescentes de judeus antissionistas.

As avaliações sublinham a dificuldade inerente – se não impossibilidade – da insistência de Israel em “erradicar” o Hamas. Segundo Matt Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, a liderança armada pode ser derrotada, “mas não a ideia”.

Antes de 7 de outubro, havia sinais de que o apoio político do Hamas dentro de Gaza — que governa o território sitiado desde 2007 — estava em perigo. A violência israelense, contudo, inverteu a tendência.

O governo de Joe Biden sofre de crise interna às vésperas de um conturbado ano eleitoral, no qual o incumbente deve voltar a enfrentar Donald Trump. Eleitores progressistas citam o apoio de Biden ao genocídio em Gaza como razão para não votar no candidato democrata.

O secretário de Estado, Antony Blinken, no entanto, insistiu na narrativa israelense: “O que me surpreende é que, embora, mais uma vez, ouçamos muitos países apelando ao fim desse conflito, que todos gostaríamos de ver, não ouço praticamente ninguém exigir ao Hamas que pare de se esconder atrás de civis, que deponha as armas e que se renda”.

A tese racista de “escudos humanos” é empregue por Israel para justificar a alta mortalidade entre a população civil, apesar de adotar ataques precisos de altíssima tecnologia.

Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro da Autoridade Palestina, reafirmou que o objetivo de Israel de exterminar o Hamas é “irrealista”, ao admitir a possibilidade de integrar o grupo como parceiro à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em uma nova estrutura de governança pós-conflito.

O Hamas venceu as eleições legislativas em 2006, em Gaza e na Cisjordânia. Os resultados democráticos foram rejeitados por Tel Aviv e Washington, culminando em um cerco militar a Gaza que tornou a região inabitável, segundo a Organização das Nações Unidas.

Analistas americanos temem que a persistência de Israel na sua guerra a Gaza terá o efeito de legitimar politicamente o Hamas e de inspirar novas ações de resistência armada.

Israel mantém bombardeios contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 20 mil mortos e 50 mil feridos, além de dois milhões de pessoas desabrigadas de uma população de 2.4 milhões de habitantes. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

Neste entremeio, Gaza é descrita como “prisão a céu aberto” e “campo de concentração”.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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