Khaled Meshaal, chefe do departamento de diáspora e política externa do Hamas, reiterou que seu movimento opõe-se, na conjuntura em curso, à chamada solução de dois Estados, e se mantém firme nos anseios populares por libertação, fim da ocupação, independência e estabelecimento de um Estado palestino.
Ao conversar com o podcast Ammar na terça-feira (16), declarou Meshaal: “O Ocidente diz que 7 de outubro abriu as portas para um horizonte político, então voltaram a falar de sua velha commodity, que é a solução de dois Estados”.
“As fronteiras de 1967 representam 21% da Palestina histórica, praticamente um quinto de sua terra, e francamente não podemos aceitar isso”,
acrescentou.
“Nosso projeto nacional, que compreende quase um consenso entre nosso povo, se embasa em nosso direito por uma Palestina do rio ao mar, de Ras al-Naqoura a Umm al-Rashrash ou Golfo de Aqaba — algo que não podemos ceder. Este é o nosso direito, que representa nossa presença nesta terra, seja nos tempos antigos ou modernos”.
Todavia, Meshaal observou que, a fim de compor a base para um governo de união nacional, junto de outras facções palestinas, seu movimento aceita, em primeiro momento, um Estado nas fronteiras de 1967, com Jerusalém como sua capital, porém com plena independência e retorno dos refugiados palestinos.
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Segundo o político do Hamas, essa abordagem tem como intuito “facilitar o consenso árabe e palestino no estágio atual, sem desistir, contduo, de nosso direito à terra e sem reconhecer a usurpação de terras do Estado de Israel”.
Israel foi criado em terras da Palestina histórica em maio de 1948, mediante limpeza étnica planejada. Mais de 800 mil palestinos nativos foram expulsos de suas terras e 500 cidades e aldeias foram destruídas. Em 1967, Israel ocupou o restante da Palestina, isto é, Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.
Analistas alertam que o caráter beligerante, colonialista e expansionista do Estado de Israel inviabiliza a chamada solução de dois Estados, proposta pela comunidade internacional para supostamente arrematar o conflito.
Israel também se nega a negociar a matéria, à medida que líderes políticos promovem o que descrevem como “Grande Israel” — isto é, um Estado único sobre a totalidade do território e partes de países vizinhos, porém com supremacia judaica sobre a população nativa.
O Estado israelense rejeita ainda o direito de retorno dos refugiados palestinos a suas terras ancestrais, como consagrado pela lei internacional.
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O slogan “do rio ao mar” é uma descrição geográfica e cartográfica da Palestina histórica — citada, entre outros autores, pelo historiador grego Heródoto há cerca de três mil anos.
Neste sentido, ativistas palestinos reivindicam uma solução de Estado único: democrático, secular e para todos, incluindo judeus, muçulmanos e cristãos.