Nesta sexta-feira, o Fundo da ONU para a Infância, Unicef, alertou que bebês estão nascendo em “um inferno” em Gaza, e muitos outros provavelmente morrerão como resultado do conflito e das condições cada vez mais terríveis no enclave.
A agência informou que houve quase 20 mil nascimentos desde o início do bombardeio generalizado israelense.
Condições precárias para o parto
Problemas crônicos de acesso à ajuda fizeram com que as cirurgias cesarianas fossem realizadas sem anestesia. Em muitos casos, as mulheres não conseguiram dar à luz aos seus bebês porque o pessoal médico estava sobrecarregado.
A especialista de comunicação do Unicef, Tess Ingram, afirmou que “as mães enfrentam desafios inimagináveis no acesso a cuidados médicos, nutrição e proteção adequados antes, durante e depois do parto”.
Falando de Amã, na Jordânia, após retornar do sul de Gaza, ela disse que tornar-se mãe deve ser um momento de celebração, mas em Gaza, cada parto significa “mais uma criança que nasce em um inferno”.
Tess Ingram explicou que a equipe do Hospital dos Emirados em Rafah está tão sobrecarregada que foi forçada a dar alta às mães “dentro de três horas após uma cesariana”, uma situação que é “inacreditável e requer ação imediata”.
Confirmação de casos de hepatite A
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, lamentou a deterioração da situação humanitária e alertou para a confirmação de infecções por hepatite A em Gaza.
Tedros ressaltou que “as condições de vida desumanas”, com quase nenhuma água potável e banheiros limpos “permitirão que a hepatite A se espalhe ainda mais e destacarão o quanto o ambiente é explosivamente perigoso para a propagação de doenças”.
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Os dados mais recentes da OMS indicam que, em média, 500 pessoas partilham cada banheiro e mais de 2 mil pessoas têm que utilizar um único chuveiro, aumentando o risco de propagação de doenças.
Além de um aumento acentuado nas infecções respiratórias superiores, os casos de diarreia entre crianças menores de cinco anos registados nos últimos três meses de 2023 foram 26 vezes maiores do que no mesmo período em 2022.
Situações de “tirar o sono”
Para ajudar as mulheres e crianças mais vulneráveis em Gaza, o Unicef garantiu a entrega de fórmulas lácteas e suplementos às mães que estão fracas demais para amamentar, juntamente com material médico para equipes sobrecarregadas.
A representante da agência afirmou que aproximadamente 135 mil crianças com menos de dois anos de idade correm atualmente o risco de desnutrição grave, devido a condições “desumanas” caracterizadas por abrigos improvisados, má nutrição e água imprópria.
Ela disse que ver bebês recém-nascidos sofrendo enquanto algumas mães sangram até à morte, deveria “tirar o sono de todos”, assim como “saber que duas crianças israelenses raptadas em 7 de outubro ainda não foram libertadas” também deve ser motivo de inquietação.
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O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos expressou preocupação com relatos de que cerca de 25 mil pessoas foram mortas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Acredita-se que 70% sejam mulheres e crianças.
“Panela de pressão”
Em conversa com jornalistas em Genebra, após retornar de Gaza, o chefe do Escritório de Direitos Humanos no Território Palestino Ocupado, Ajith Sunghay, disse que pessoas deslocadas continuam a chegar em Rafah “aos milhares”.
Ele afirmou que viu “homens e crianças cavando em busca de tijolos para poder montar barracas feitas com sacos plásticos”. Para o especialista, esta é uma enorme crise de direitos humanos e “um grande desastre humanitário causado pelo homem”.
Sunghay classificou a situação como “um ambiente de panela de pressão”, marcado por “medo e a raiva generalizados”.
Em sua última atualização sobre a crise, o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, ressaltou a preocupações com o fato de as missões de ajuda continuarem “fortemente comprometidas pelas restrições israelenses à importação de equipamento essenciais, incluindo dispositivos de comunicação apropriados”.
Publicado origialmente em ONU News