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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Acordo de mão-de-obra com Israel amplifica crise institucional no Equador

Presidente eleito do Equador, Daniel Noboa, realiza discurso de posse em Quito, em 23 de novembro de 2023 [Assembleia Nacional do Equador/Divulgação]

O Ministério de Relações Exteriores do Equador somou atritos ao relacionamento entre o poder executivo e a vice-presidente Verónica Abad, ao instá-la em nota, emitida no final de janeiro, a não interferir em um acordo de exportação de mão-de-obra a Israel.

Segundo a chancelaria, a ingerência de Abad impactou o curso das negociações, realizadas “em mais alto nível” entre a pasta de política externa e a embaixada israelense em Quito.

Através de um memorando, a chancelaria instou de Abad que se abstenha de comentários não autorizados sobre as negociações do acordo para enviar trabalhadores temporários ao mercado israelense.

Conforme o ministério, o acordo, negociado desde dezembro em solo argentino, deve permitir a criação de 25 mil postos de trabalho para cidadãos equatorianos em Israel.

O comunicado reiterou que “a negociação é conduzida diretamente entre as pastas de Relações Exteriores do Equador e Israel, de maneira que não cabe pronunciamento algum [por parte da vice-presidenta] até ser concluída”.

“Sua intervenção”, seguiu a reprimenda, “afetou o curso natural do processo”.

No final de novembro, após se afastar do presidente Daniel Noboa, eleito no mês anterior, Abad foi enviada a Tel Aviv como “embaixadora pela paz na guerra entre Israel e a Palestina” — cargo inventado para distanciá-la, na prática, do centro de poder.

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Na ocasião, Abad criticou o presidente e empresário — nascido em Miami e eleito após uma onda de crises institucionais no país — por aproximar-se do bloco legislativo do partido Revolução Cidadã, liderado pelo ex-incumbente socialista Rafael Correa.

A vice-presidenta chegou a expressar apreensão sobre o cargo. “Não vou negar: sinto um pouco de medo [de ir para Israel]. Mas meu amor por servir os necessitados me dá forças para liderar”, alegou em vídeo.

“O presidente me quer longe”, acrescentou.

Abad chegou à missão diplomática equatoriana em Tel Aviv no dia 10 de dezembro.

A chancelaria insistiu que “conforme o artigo 59 da Lei Orgânica de Serviço no Exterior, missões diplomáticas, como órgãos de relações internacionais, dependem diretamente do Ministério de Relações Exteriores e apenas a este cabe transmitir ou imputar ordens ou instruções”.

A negociação entre Quito e Tel Aviv contradiz esforços internacionais para afastar-se do Estado colonial sionista em meio ao genocídio em Gaza.

Israel, Gaza e América Latina

A ofensiva em Gaza causou cisões políticas em todo o mundo: na América Latina, governos de direita e extrema-direita — como Noboa no Equador e Javier Milei na Argentina — insistem em se aproximar de Israel, enquanto governos de esquerda ora oscilam ora assumem postura mais crítica ao regime ocupante.

O presidente colombiano Gustavo Petro assumiu uma retórica dura contra Israel, ao retirar seu embaixador de Tel Aviv, medida seguida por seu homólogo chileno Gabriel Boric — todavia, em tom mais brando.

Em resposta, Israel difamou ambos os países como “apoiadores de terroristas”.

O governo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva apoiou oficialmente a denúncia sul-africana de que Israel comete genocídio em Gaza, admitida como “plausível” pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, no fim de janeiro. A medida, às vésperas da audiência, sucedeu a posição de Bogotá.

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Lula, no entanto, não avançou em ações concretas no âmbito comercial ou diplomático, como ao romper contratos de segurança com a ocupação israelense — medida reivindicada por ativistas solidários à causa palestina.

A Bolívia, por sua vez, cortou relações com Israel, devido a sua brutal ofensiva a Gaza desde 7 de outubro, deixando 27 mil mortos e 65 mil feridos — em ampla maioria mulheres e crianças —, além de dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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