“Todo mundo acima de quatro anos é apoiador do Hamas e merece o que está passando”, declarou em entrevista à televisão israelense Rami Igra, ex-chefe da Divisão de Prisioneiros e Desaparecidos da agência de espionagem de Israel, o Mossad.
Gaza vive uma catástrofe humanitária, na qual as crianças são as principais vítimas, em meio a surtos de fome e doenças.
“Em Gaza, todos estão envolvidos. Todos eles votaram no Hamas”, insistiu o ex-agente, ao ecoar discursos de punição coletiva que buscam justificar o genocídio realizado pelo exército de Israel no território palestino sitiado.
“Nosso objetivo é fazer com que os apoiadores do Hamas passem a detestá-lo”, acrescentou.
Sob a lógica de Igra, os civis de Gaza merecem punição coletiva, sobretudo sob um cerco militar absoluto: sem comida, água, energia elétrica ou medicamentos.
Suas falas recentes à televisão local não são, no entanto, um caso isolado, em flagrante desdém aos apelos do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, para que Israel impeça ou puna incidentes de incitação ao genocídio.
Em novembro último, o ministro do Patrimônio israelense, Amihai Eliyahu, membro do partido Otzma Yehudit (Poder Judeu), do ministro de Segurança, Itamar Ben-Gvir, sugeriu executar um bombardeio atômico contra Gaza como “solução ao problema”.
Ao jornal em hebraico Israel Hayom, comentou Eliyahu: “A morte não assusta os residentes de Gaza e devemos descobrir o que os assusta, para forçá-los a sair ou varrê-los da face da terra. Eles devem tremer diante do terror”.
Em seguida, reafirmou: “Não concordo em descrever os residentes de Gaza como civis. Não há civis em Gaza e não há diferença entre nenhum deles e os terroristas do Hamas [sic]”.
Em meados de outubro, o presidente Isaac Herzog, considerado centrista, fez coro aos apelos para se manter os ataques indiscriminados em violação do direito internacional, ao assinalar em público: “Não existem civis em Gaza”
Ao promover seu cerco militar absoluto, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os palestinos de Gaza — 2.4 milhões de pessoas — como “animais humanos”.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ao anunciar a ofensiva por terra, no fim de outubro, chegou a proclamar uma “guerra santa contra as crianças das trevas”.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, foram ao menos 28.858 palestinos mortos e 68.667 feridos — na maioria mulheres e crianças.
Em torno de 70% da infraestrutura civil de Gaza foi destruída pela varredura norte-sul realizada pelas forças ocupantes. Hospitais, escolas, abrigos e mesmo rotas de fuga não foram poupadas. Dois milhões de pessoas foram desabrigadas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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