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EUA x Rússia: A eterna hipocrisia estadunidense

Vice-secretária de Estado dos Estados Unidos, Wendy Sherman, se reúne com o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, em Genebra, Suíça, em 10 de janeiro de 22 [Reprodução]

As provocações e o reforço dos controles internos são permanentes. Vejamos dois casos.

A Rússia ameaçada no debate no G20

Na segunda e terça-feira, 26 e 27 de fevereiro, representantes e secretários dos ministros de Finanças e dos presidentes de Bancos Centrais estiveram em um encontro preparatório no mesmo local da reunião dos titulares das pasta de economia do G20. O encontro, que integra a agenda da presidência brasileira do G20, ocorre nesta semana no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, representam o Brasil.

Na segunda, o ministro brasileiro se reuniu com seu par, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, e com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva. No dia seguinte, a provocação estadunidense chegou a um ponto de quase não retorno.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que a medida de enviar os ativos russos para a Ucrânia está em estudo. Siluanov, por sua vez, classificou como “falácia” e “desastre” a proposta americana de enviar ativos russos, bloqueados por sanções, para a Ucrânia. Segundo o titular da pasta no Kremlin:

“Essa não é a primeira vez que ouvimos essa proposta. Nós acreditamos que essa proposta é uma falácia profunda e também destrutiva, porque ela mina as próprias fundações e pilares do sistema financeiro do mundo, porque ela rende o valor e as reservas de dinheiro a países vulneráveis e suscetíveis a decisões políticas. A proposta (dos Estados Unidos) causaria graves danos aos próprios alicerces do sistema financeiro mundial. Quanto à nossa resposta, temos algo com que responder, porque temos [ativos] congelados do nosso lado. Estas decisões não nos levariam ao caminho certo porque, em vez de agravar a situação, precisamos diminuir a escalada e reduzir as tensões. Mas se as contrapartes decidirem prosseguir por este caminho, responderemos simetricamente.”

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Eleições russas e a permanência de Putin no poder 

A jornada eleitoral na Rússia será realizada de sexta-feira, 15 de março, até domingo, 17 de março, a primeira vez que uma eleição presidencial russa terá duração de três dias.

Se houver segundo turno de votação, caso nenhum candidato obtenha mais da metade dos votos, este ocorre três semanas depois. Qualquer avaliação realista, tanto na popularidade de Putin como nas condições de concorrência ao cargo, indica que seria surpreendente alguém consiga chegar na segunda volta. As eleições russas são apenas para o cargo máximo do Poder Executivo, já que as próximas eleições legislativas, que compõem a Duma, estão marcadas para 2026. Há uma semelhança nas eleições estadunidenses. Existe votação antecipada em áreas remotas ou nos territórios em disputa na Ucrânia.

Quatro são os candidatos ao posto mais importante da Federação Russa. São eles:

  • Vladimir Putin, 71 anos — o atual presidente da Rússia ocupa o cargo desde 2012. Antes, já havia sido presidente (de 2000 a 2008) e primeiro-ministro (de 1999 a 2000 e de 2008 a 2012);
  • Leonid Slutsky, 56 anos — concorre pelo LDPR (Partido Liberal Democrático da Rússia). É presidente do comitê de assuntos internacionais da Duma (Casa Baixa da Assembleia Legislativa);
  • Nikolay Kharitonov, de 75 anos — integrante do KPRF (Partido Comunista da Federação Russa). Em 2004, ficou em segundo lugar na corrida presidencial, com 13,69% dos votos;
  • Vladislav Davankov, 39 anos — do partido Novas Pessoas. É o vice-presidente da Duma e vice-presidente de seu partido. Ficou em quarto lugar nas eleições de 2023 para prefeito de Moscou, com 5,34% dos votos.

Candidato permanente: faleceu ou foi morto?

No dia 16 de fevereiro, uma sexta-feira, o governo russo e autoridades penais da Sibéria confirmaram o falecimento de Alexey Navalny, político de extrema-direita russo preso desde 2021 e o mais importante opositor de Vladimir Putin.

Navalny faleceu sob péssimas condições carcerárias e debaixo da tutela do Estado. Isto é um fato. O outro é que o Ocidente está elevando a condição de mártir e referência política a alguém que se fosse da Europa ocidental, estaria alinhado com o pior da extrema-direita regional. Ainda assim, um prisioneiro resguardado pela administração carcerária morreu sob reais suspeitas de envenenamento. E obviamente, não é o primeiro.

Nos cabe perguntar algo óbvio. Diante da evidência — irrefutável — de que o governo Putin opera a partir do controle das instituições centrais, era de esperar uma oposição que defenda tanto democracia interna como a soberania nacional a partir da gestão dos recursos estratégicos. Correto? Errado. Desde o governo de Boris Yeltsin e a posterior ascensão do aparelho de segurança (como afirmamos no artigo passado) há uma enorme desconfiança — e plenamente justificada — de que os democratas pró-ocidentais representam a entrega das capacidades do país em todos os setores estratégicos.

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É possível um país democrático e soberano? Sim, evidente que sim. A oposição apoiada pelo ocidente contra a Rússia promove alternativas que respeitem a soberania nacional e as condições materiais de vida? Óbvio que não.

Os Estados Unidos não interferem em eleições no exterior?

O caso emblemático de Honduras 

José Manuel Zelaya Rosales foi derrubado por um golpe cívico-militar em 28 de junho de 2009. Justo no domingo de manhã, dia em que se convocava uma consulta a respeito da necessidade ou não de uma Assembleia Nacional Constituinte, o presidente eleito pelo Partido Liberal de Honduras (PLH), foi cercado em sua residência e levado preso para a Costa Rica. A partir deste dia até o retorno ao país, em 22 de setembro de 2009, Zelaya praticou uma intensa atividade diplomática tentando salvar seu governo constitucional.

Na década seguinte, mais fraude. Não bastasse mudar as regras do jogo com a partida em andamento, Juan Orlando Hernández (JOH) concorreu contra Salvador Nasralla, do Partido Liberal e indicado político de Zelaya Rosales. O presidente ilegítimo estava perdendo na contagem de votos quando houve um mais que suspeito apagão elétrico no país, interrompendo a apuração manual das cédulas em papel. Como consequência, o Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras (TSE) suspendeu o anúncio do vencedor. Passados 17 dias, a corte eleitoral dominada por partidários de JOH e apoiadores do golpe de 2009 reconheceu a vitória da situação, convertendo Honduras em uma autêntica ditadura civil. Os Estados Unidos apoiaram tanto o golpe de 2009 como a eleição fraudada em 2017.

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A história se repete assim como no Panamá do agente da CIA e narcotraficante Manuel Noriega. O irmão do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, foi condenado em 30 de março de 2021 à prisão perpétua por um juiz de Nova York por tráfico de drogas em larga escala. Tony Hernández, de 42 anos, foi declarado culpado em outubro de 2019 após um julgamento no qual os promotores americanos disseram que o chefe de Estado hondurenho havia conspirado com o narcotráfico, acusação que nega.

O ex-presidente Juan Orlando Hernández foi extraditado em abril de 2022, dois meses após deixar o poder, Hernández é acusado de ter vínculos com uma rede criminosa que enviou mais de 500 toneladas de cocaína aos Estados Unidos entre 2004 e 2022, e de proteger suas atividades criminosas. Em troca, teria recebido “milhões de dólares” dos cartéis de drogas — entre eles, o do traficante mexicano Joaquín “Chapo” Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.

Resultado. Os EUA apoiaram um golpe de Estado, reconheceram eleições fraudadas e depois ainda prendem os criminosos que o próprio Império havia dado sustentação internacional. Algo pode ser mais hipócrita? Evidente que não.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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