À medida que Gaza sofre com a fome generalizada, após 17 anos de cerco militar israelense, agravado por cinco meses de genocídio contínuo, outras populações do mundo também vivenciam crises de escassez e desnutrição, segundo reportagem da agência Anadolu.
Conforme o Índice Global da Fome para o ano de 2023, nove países registram níveis alarmantes: Burundi, Iêmen, Lesoto, Madagascar, Níger, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Somália e Sudão do Sul — além da Palestina ocupada e outros.
Da América Central e Caribe à África e Oriente Médio, múltiplas crises — incluindo a pandemia de covid-19, o desabastecimento alimentar devido à invasão russa na Ucrânia, mudanças climáticas e conflitos geopolíticos — levaram um mundo farto à margem da inanição.
Crises no continente africano e além dimanam de uma longa história de exploração colonial e pós-colonial, incorrendo em décadas de miséria e violência.
A República Democrática do Congo vive uma das maiores crises de fome do planeta, com aproximadamente 23.4 milhões de pessoas afetadas, segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas.
Com 2.8 milhões de crianças gravemente desnutridas, cerca de 27% da população congolesa permanece sob severa insegurança alimentar.
O Afeganistão, após 20 anos de ocupação militar dos Estados Unidos e quase três anos desde o ressurgimento do Talibã, também vivencia crise alimentar, com 15.8 milhões de pessoas sobrevivendo sem sequer saber quando será sua próxima refeição.
A desnutrição aguda supera níveis de emergência em 25 das 34 províncias afegãs. Quase metade das crianças com menos de cinco anos de idade e um quarto das mulheres grávidas e lactantes dependem de assistência nutricional urgente.
No Iêmen, dezessete milhões de pessoas continuam submetidas a insegurança alimentar, apesar de esforços assistenciais e um acordo mediado pela China, que interrompeu parcialmente a guerra civil e a intervenção militar saudita, no ano passado.
A Síria aparece em décimo lugar no ranking de fome, devido à persistente guerra civil desde 2011. Metade da população sofre com a inanição, além de 2.6 milhões de pessoas em insegurança alimentar, conforme estimativas recentes das Nações Unidas.
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Na região do Sahel, no Norte da África, conflitos intercomunitários e crises climáticas exacerbaram o deslocamento em massa e a fome.
Na África Ocidental, Burkina Faso e Mali experienciam níveis catastróficos de fome, sob limitações de acesso humanitário. A crise no Níger, marcada pelo golpe militar de julho de 2023, junto às subsequentes sanções econômicas, agravaram o desastre humanitário.
O Chade abriga uma das maiores populações de refugiados, sobretudo sudaneses, submetidos a insegurança alimentar. No Sudão do Sul, a inanição afeta quase 65% da população; são 7.1 milhões de pessoas em risco de fome e 1.65 milhão de crianças desnutridas.
Cerca de 500 mil pessoas fugiram do Sudão, cuja guerra aproxima-se de um ano. O Sudão do Sul — um dos países mais jovens do mundo, independente em 2011 — abriga 360 mil destes refugiados, além de dois milhões de deslocados internos.
No Sudão, são quase 18 milhões de pessoas sob fome aguda e cinco milhões em condições de emergência — recorde histórico na época da colheita.
Na Somália, enchentes sazonais deslocaram recentemente quase meio milhão de pessoas, levando a fome à porta de 4.3 milhões de habitantes.
Na Etiópia, conflitos e estiagem tornaram mais de 9.4 milhões de pessoas dependentes de assistência alimentar.
No Haiti, que vive uma escalada de violência entre milícias, agravada pelos 13 anos de intervenção do Exército brasileiro no país, sob a bandeira das Nações Unidas, cerca de 44% da população vive insegurança alimentar — isto é, cinco milhões de pessoas.
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Um dos casos mais marcantes nas manchetes contemporâneas é a catástrofe em Gaza. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 93% da população — de um total de 2.4 milhões de habitantes, com dois milhões de deslocados — vive crise de fome.
Israel, contudo, mantém o cerco e mesmo ataques diretos a comboios assistenciais, apesar de ordens do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, para ampliar o fluxo humanitário e evitar atos de genocídio.
Ao fechar as fronteiras — sem comida, água, remédios ou combustível —, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os palestinos de Gaza como “animais humanos”.
O PAM estima que mais de 333 milhões de pessoas em 78 países enfrentam insegurança alimentar aguda, conforme dados de 2023.
Os índices reforçam a demanda por ações mais do que urgentes — em âmbito político, econômico e ambiental — para alcançar as Metas de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, de fome zero, até 2030.