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Dia do Jornalista: A imprensa plutocrática, em defesa dos poderosos e contra os oprimidos

Se estiver com preguiça, pule o parágrafo, pois não faz diferença — a história é sempre a mesma: A grande imprensa defendendo o interesse dos ricos no poder!
Sede da TV Globo no Rio de Janeiro, em 10 de dezembro de 2018 [Wikimedia/Creative Commons 4.0]

Plutocracia, originada das palavras gregas “ploutos”, que significa “riqueza”, e “kratos”, que denota “poder”, descreve um sistema no qual a sociedade é dominada e influenciada por indivíduos economicamente ricos. Esta concentração de poder nas mãos de indivíduos economicamente ricos resulta em desigualdades crônicas que obstruem a emancipação das classes economicamente pobres. O maior desafio na superação da plutocracia é que esse sistema possui a habilidade de criar uma ilusão de democracia, ao contrário da autocracia, onde o controle é mais visível. Para perpetuar-se, a plutocracia requer manutenção, ou seja, para preservar a riqueza dos ricos e a pobreza dos pobres, é essencial criar e promover ilusões. Símbolos, heróis e vilões são criados do dia para a noite para te enfiar goela abaixo – do café da manhã ao jantar em família – e te fazer crer que suas opiniões são realmente suas e que você é livre para expressá-las como quiser. E quem é o carrasco desse sistema opressor? Claro que a imprensa!

Em 1808, a Imprensa desembarcou no Brasil junto com Dom João VI e sua corte, que fugia de Napoleão para preservar suas cabeças e suas fortunas. Claro, explicar os reais motivos da fuga seria embaraçoso, afinal, quem aceitaria ser governado por um rei covarde? Por isso, não é de se espantar que os maquinários tipográficos da recém-estabelecida Imprensa Régia, sob o jornal real “Gazeta do Rio de Janeiro”, tenham ignorado essa notícia inconveniente. Essa foi a primeira ação da imprensa para defender os interesses do sistema, no caso, do próprio rei. Poderíamos dizer que a desinformação ou fake news fez sua estreia no Brasil nessa época, mas seria uma ingenuidade acreditar nisso. Nós sempre estivemos no ramo da fabricação e distribuição de mentiras, desde os tempos imemoriais, ou pelo menos desde que Cabral pôs os pés nessas terras que, com um empurrãozinho da Igreja Católica Apostólica Romana, informou a corte que os “bárbaros” que aqui habitavam precisavam urgentemente de “salvação”.

Sob o jugo de Dom João VI, a imprensa brasileira foi sujeita a censura e perseguição implacáveis – jura? –, a Coroa estabelecia que os censores régios examinassem todos os documentos e livros antes de serem impressos, enquanto proibiam a publicação de escritos que criticassem “Deus, pátria ou a família”. Antes disso, a Corte havia proibido a tipografia do Rio de Janeiro de imprimir livros, ameaçando seus operadores com prisão ou exílio. Os maquinários eram apreendidos e enviados a Portugal, para sufocar qualquer expressão de pensamento divergente. Uma exceção nesse período foi a Gazeta do Rio de Janeiro que, além de emitir as mensagens do rei, também se tornou a pioneira em lucrar com publicidade, como os anúncios em seu jornal de compra e venda de seres humanos escravizados.

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De tempos em tempos, surge alguém ou até mesmo uma outra imprensa independente, buscando desafiar a hegemonia e desmentir as “notícias” veiculadas pela imprensa oficial, tal como fez o Correio Braziliense, de Hipólito da Costa. No entanto, nesse ponto, surgem duas indagações: quem está por trás dessas ações e qual o motivo delas?

Impresso em Londres, o Correio Braziliense defendia a emancipação do Brasil e a ruptura com Portugal, algumas vezes com ótimas charges da família real. Hipólito da Costa usava seu jornal para tecer críticas contra o rei e as finanças do Brasil.

Ninguém mais útil, pois, do que aquele que se destina a mostrar, com evidência, os acontecimentos do presente e desenvolver as sombras do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas públicas, quando estes, munidos de uma crítica sã e de uma censura adequada, representam os fatos do momento, as reflexões sobre o passado e as sólidas conjecturas sobre o futuro.

Hipólito da Costa

Falando assim, pode parecer que Hipólito fosse um verdadeiro salvador da pátria, mas por favor, não vamos confundi-lo com Simón Bolívar. Hipólito, herdeiro de uma das famílias mais ricas do Rio de Janeiro, nascido na colônia portuguesa de Sacramento, território que hoje faz parte do Uruguai, tinha mais em mente seus próprios interesses do que a verdadeira libertação dos brasileiros. Num ato digno de um verdadeiro burguês, fez um acordo às escuras com a Coroa, garantindo que suas críticas à monarquia fossem atenuadas em troca da compra de algumas pilhas de seu próprio jornal. Não podemos esquecer que em 2010, os poderes que julgam quem são os “heróis” nacionais decidiram que Hipólito merecia seu lugar como patrono da imprensa brasileira.

Pode parecer que o autor está apenas um pouco pessimista, quando na verdade ele está por um fio de estar totalmente mergulhado na desesperança. Porque, vejam só, sempre que alguém ousa levantar a voz em prol do povo em detrimento dos caprichos do rei e da burguesia, é rapidamente silenciado.

Em 1829, surgiu O Observador Constitucional, de Líbero Badaró, em São Paulo. Badaró teve a audácia de defender conceitos como justiça, participação popular nas tomadas de decisão do governo e, é claro, liberdade de imprensa.

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Antes de se tornar jornalista, Badaró foi um médico que trouxe consigo uma dose de coragem para o Brasil. Quando a varíola assolava o país, ele não hesitou em oferecer sua perícia médica, indo além ao desenvolver uma vacina. Mas não se engane, sua incursão no mundo do jornalismo não foi por acaso. Badaró não conseguia ignorar as ondas de descontentamento que varriam a população em relação ao imperador D. Pedro I, assim nasceu o Observador Constitucional, em meio a um turbilhão político.

  1. Pedro I proclamou a independência, mas seu governo estava longe de ser independente de Portugal, quem dirá democrático. Enquanto o Partido Português apoiava o poder absolutista de D. Pedro I e a exploração das plantações e da escravidão, incentivando-o a sufocar a liberdade de imprensa, os liberais brasileiros, representados pelo Partido Brasileiro, encontravam no Observador Constitucional uma voz crítica ao absolutismo do imperador.

A corajosa pena afiada do médico-jornalista contra o império e em defesa da liberdade de imprensa e dos princípios iluministas despertou a ira dos plutocratas. Em 20 de novembro de 1830, Badaró foi assassinado por um tiro de pistola, num incidente que a opinião pública atribuiu convenientemente a D. Pedro I. Testemunhas da execução sumária afirmaram que, no fôlego do último suspiro, antes de ser silenciado, Badaró pronunciou uma frase que o tornou símbolo da defesa da liberdade de imprensa: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.

Após o assassinato de Badaró, as ruas do país se tornaram palco de constantes revoltas populares, como por exemplo a noite das garrafadas, um turbilhão que, acredita-se, teve um papel significativo na abdicação de D. Pedro I. Como se a voz de Badaró continuasse ecoando pelas vielas, incitando o povo a clamar por justiça.

Em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) consagrou a data de 7 de abril como “dia do jornalista” em honra à memória de Giovanni Battista Líbero Badaró, uma figura de protagonismo na batalha pelo fim da monarquia, pela liberdade de imprensa e pela verdadeira independência do Brasil.

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Tão caótica quanto a história da plutocracia brasileira, é a história sobre o surgimento da imprensa no Brasil! Uns juram de pé junto que foi Dom João quem deu o pontapé inicial, enquanto outros levantam a bandeira de Hipólito da Costa como o verdadeiro pioneiro. Este autor, considerando o compromisso do jornalismo como defensor da verdade e cão de guarda da democracia, prefere acreditar que o verdadeiro nome digno do panteão dos heróis da pátria, sem sombra de dúvidas, foi Badaró. Seja qual for a versão que você escolha acreditar, uma coisa é certa: a imprensa brasileira não nasceu do desejo genuíno de informar o cidadão sobre seus interesses, mas sim como um escudo para proteger os interesses dos que já detêm tudo, até mesmo o destino de seus vassalos.

Por ousar desafiar a tirania e defender a liberdade de imprensa, Badaró entrou para a história como o primeiro jornalista martirizado em solo brasileiro, mas este não foi o único e essa tática antiquada permanece firme e forte até os dias de hoje. Quem poderia esquecer a imagem perturbadora do pseudo-suicídio do jornalista Vladimir Herzog nos calabouços da ditadura? A mesma ditadura, que a família Marinho e nossa querida Rede Globo ajudaram a se instalar nos palácios de nossa democracia.

O tempo passa, mas a Indústria da Desinformação de Dom João VI que os estivadores descarregaram em solo brasileiro permanece imutável e firme em seus métodos operacionais. Apesar das mudanças na velocidade e na forma como as notícias são disseminadas, o compromisso da imprensa continua a ser com os interesses dos poderosos e do capital burguês. Esta é a mesma indústria que habilmente transformou golpes em revoluções e revoluções em golpes ao longo da história. Ela é responsável por pintar o governo democrático do Partido dos Trabalhadores como “corrupto”, enquanto transforma os envolvidos em escândalos de corrupção e rachadinhas em heróis. Essa é a mesma imprensa que criminalizou manifestações pacíficas contra golpes, mas silencia diante de tentativas violentas de golpes reais. É aquela que amplifica mentiras absurdas como bebês decapitados por “terroristas”, enquanto fecha os olhos para um Estado verdadeiramente terrorista que emprega o genocídio de civis palestinos.

Este artigo, assim como este autor, não se ilude pensando que pode mudar a maneira como a imprensa manipula sua influência. Mesmo sendo poucos, são esses plutocratas que controlam todos os aspectos de nossas vidas, desde o cereal que escolhemos no café da manhã até as porcarias que digerimos no Jornal Nacional. Infelizmente, essa não é uma luta justa, afinal eles possuem algumas coisas que os jornalistas comprometidos com a verdade não possuem: dinheiro, poder e carência de caráter para disseminar mentiras.

Então, por que se dar ao trabalho de escrever um artigo criticando a imprensa e nossos queridos meios de comunicação? – Permita-me explicar: Estamos testemunhando uma transformação nos meios de comunicação, uma mudança que ameaça a hegemonia da grande Indústria da Desinformação. Este período peculiar pode representar uma virada na história. Embora não possamos prever o futuro, podemos aprender com lições do passado para influenciar o presente para que o futuro não seja tão sombrio quanto parece. Portanto, a intenção deste artigo não é disputar telespectadores com o Datena, vender mais cópias do que a Veja ou ganhar mais “likes” que a Folha de São Paulo. A história nos ensinou que a imprensa está sempre ligada aos poderosos, mas que, por outro lado, a imprensa clandestina foi a única força capaz de desafiar o poder dos tiranos e promover mudanças. Foi mimeografando e distribuindo panfletos que a imprensa clandestina protagonizou as mais significativas revoluções, desde a França Iluminista até os metalúrgicos do ABC paulista. Dessa forma, este artigo busca alcançar seu objetivo não em quantidade, mas em qualidade. Se eu (o autor) e você (o leitor) ecoarmos as vozes daqueles que deram suas vidas para defender o direito à liberdade de opinião e expressão, inerente a todo ser humano e consagrado pelo Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, já seremos dois – o dobro do que éramos antes de você ler este artigo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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